sábado, 3 de setembro de 2011

Aborto, religião e estado - Parte 2

Eu sou contra o aborto por princípios morais e éticos, ressalvados alguns casos específicos, talvez os que citei no segundo parágrafo da primeira parte deste comentário. Julgo o aborto uma agressão à “vida humana”. Faço questão de dar ênfase às palavras “vida humana” porque muitos dos que combatem o aborto alegam que defendem a vida, mas não a vida no seu sentido mais amplo, como direito também de todos os outros seres vivos que dividem conosco o planeta. Centenas de milhares de animais – talvez milhões – são assassinados todos os dias pelos mais diversos motivos, inclusive para alimentação do ser humano, e poucos de nós estamos preocupados com tal situação. E eu, lamentavelmente, contribuo com isso, pois também como carne, apesar de considerar uma barbárie contra os animais. Mas essa polêmica fica para outra oportunidade.  

Não acho que o fato da mulher ter o direito de fazer o que bem entender do seu corpo, outorga-lhe o direito de praticar o aborto a seu bel-prazer. Sexo só deve ser feito com responsabilidade, pois poderá ter implicações na vida de um terceiro ser, o qual, em quaisquer situações consideradas, é o único inocente e nada tem a ver com as atitudes de dois corpos humanos prontos para a procriação.

Entendo que o tema deva ser debatido por todos os segmentos da sociedade, incluindo aí o estado, as igrejas e a ciência, para se chegar a uma lei racionalmente justa, dentro de princípios científicos e morais. Julgo, porém, que o estado por ser laico – e defendo esse princípio – não deve discutir temas importantes tomando como base quaisquer religiões, suas doutrinas específicas e seus livros sagrados, porquanto isso é muito perigoso. Relembremos os absurdos cometidos pelo cristianismo no passado por confundir o estado com a religião. E em pleno século XXI absurdos ainda acontecem quando se misturam os ensinamentos do islamismo com o estado.

O estado tem o dever de governar não apenas para uma parcela da população e sim para todos os seus cidadãos: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos, budistas, espíritas, ateus e tantos outros. É sua obrigação atender os interesses de cada grupo social, visando, no entanto, e sobretudo, o bem comum. E o grande estadista governa com o uso da razão.

Cada cidadão tem o direito de professar uma religião ou mesmo não ter religião – ou ainda nem sequer acreditar em Deus –, e não pode ser molestado por isso, mas o estado deve ser laico. O estado não pode ter religião e o homem público, seja qual for sua fé, não pode confundir seu trabalho com sua religião. Não entender tal aspecto é muito perigoso, pois pode transformar o crente em um impositor de sua fé, como acontece em alguns países muçulmanos e já aconteceu na Europa na idade das trevas.  

De forma irresponsável, a questão do aborto foi lançada na última campanha eleitoral pelo grupo que apoiava o Sr. Serra. Inclusive alguns pastores e padres, indignos desses títulos na acepção comum das palavras, participaram daquele teatro, pois o fizeram não apenas por altruísmo, mas sim com o intuito de prejudicar a candidatura da Sra. Dilma Rousseff.

Acusar a então candidata Dilma de ser a favor do aborto, quando a própria mulher o praticou! Talvez premida por uma situação adversa, é compreensível, não se pode julgá-la. Entretanto o  inexcusável – e de um cinismo e hipocrisia sem tamanho – foi deixar a mulher afirmar que “ela (Dilma) é a favor de matar criancinhas”, numa total distorção e descontextualização do tema. Foi uma atitude não só deplorável, mas acima de tudo irresponsável.

Felizmente as críticas arrefeceram logo após a divulgação da notícia de que a Sra. Mônica Serra fizera um aborto em um período difícil da sua vida.

Agora chegou o momento de debater o tema. Com a palavra todos os intervenientes sociais.

Saulo Alves de Oliveira

Um comentário:

  1. O aborto eh uma agressao a vida. Nao eh porque o bebe nas primeiras semanas tem o tamanho de uma semente quer dizer que ele nao eh um ser humano! Isso eh um absurdo! Pois um dia fomos essa sementinha! Apoiar a vida eh o que devemos fazer. Mas o mundo esta disseminando a ideia de egoismo quando diz que a mulher faz o que quer do seu corpo. Prezemos pelo amor e pela responsabilidade de nossos atos. Vamos dar valor a vida. A semente da arvore, dos frutos aparecentemente nao tem valor, mas dela surge os alimentos, as plantas. Essa semente nao deixou de ser planta por ser pequenininha. Basta ter uma chance que ela se desenvolve. Assim tambem eh o bebe! Ele so quer ter a oportunidade de se desenvolver. Isso eh VIDA NAO ACABE COM ELA.

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