domingo, 11 de novembro de 2012

Titanic: castigo ou acidente?



Às vezes eu fico muito assustado com a interpretação que algumas pessoas dão a certos fatos atribuindo-lhes a conotação de supostos atos de Deus. E o pior é quando pessoas inteligentes e com boa formação cultural, além do fato de serem religiosas, pensam assim. Então eu me pergunto: por que é que a religião faz certos indivíduos aceitarem passivamente determinadas crenças deturpadas ou visões tão absurdas? Se é correto atribuir tais atos a Deus, seria correto perguntar: Deus comete injustiça?     

Vamos a um caso específico. Trata-se da imagem acima, que faz alusão ao Titanic.

A imagem mostra um navio no mar sendo afundado por um enorme dedo, que, obviamente, representa Deus. Acredito não deva ser difícil chegar a essa conclusão quando se lê as frases “Olha o que acontece com homem que brinca com Deus. Cuidado! Com Deus não se brinca!”

Para aqueles que, eventualmente, não lembram da história do Titanic, eu vou apresentar uma rápida descrição. A tragédia aconteceu há pouco mais de cem anos.

O Titanic foi um grande navio construído no início do século passado. Em 1912, por ocasião do seu lançamento, era o maior navio de passageiros do mundo. Era dotado das mais avançadas tecnologias da época e era tratado como “inafundável”.

Na noite de 14 de abril de 1912, por ocasião da viagem inaugural entre a Inglaterra e Nova York, nos Estados Unidos, o grande navio chocou-se com um “iceberg” no oceano Atlântico e já na madrugada do dia 15, duas horas e quarenta minutos após, afundou.

O navio tinha 2.240 pessoas a bordo, das quais 1.523 pereceram no naufrágio, que ficou conhecido como uma das maiores catástrofes de todos os tempos.

Conta-se que o construtor daquele navio de passageiros, o maior de sua época, no dia de lançá-lo ao mar, respondeu da seguinte forma, a uma repórter que lhe perguntou a respeito da segurança do navio: “Minha filha, nem Deus afunda este navio”.

A partir daí algumas pessoas acreditam que Deus afundou o Titanic simplesmente para castigar ou para dar uma lição ao seu construtor (sic). Que lição terrível, matar 1.523 pessoas para ensinar a uma só pessoa que de Deus não se zomba! Realmente para mim é incompreensível, tanto quanto inaceitável, que seres humanos racionais possam pensar dessa forma e se conformar com esta perturbadora ideia.

Então, nós devemos mesmo acreditar que Deus se vingou do construtor do Titanic matando centenas de pessoas afogadas? Se isso é verdade, não foi uma terrível injustiça? Que culpa tinham aquelas pessoas? Como se pode punir alguém pelo pecado ou erro de outrem? Isso está longe de qualquer critério de justiça.

Ao fazer esses questionamentos, alguém me disse assim: “Não devemos tentar, pela nossa própria concepção, decifrar os feitos de Deus!”

Essa forma de pensar me parece própria de quem tem receio de questionar certos aspectos relacionados a Deus porquanto tem medo de estar agredindo a sensibilidade do Criador, sendo, por conseguinte, passível de castigo. Eu sei, não poucas pessoas pensam assim.

Bom, eu não tenho como tentar entender os feitos de Deus a não ser através das concepções de justiça que o ser humano desenvolveu ao longo de toda a sua história, e que vem evoluindo com o passar do tempo, pois eu não sou um Deus, sou apenas um humano. E, consequentemente, não posso pensar como Deus. Apesar disto, tal fato não anula a capacidade crítica que o meu cérebro me proporciona. E, devo ressaltar, não é exclusividade minha.

Que Deus é esse que não pode ser questionado racionalmente por mim ou por você, seres racionais? Seria Deus um tirano ranzinza, atacado pela raiva, cheio de rancor e vingativo que não suporta ouvir questionamentos das suas criaturas sem castigá-las de imediato? Eu já pensei assim também. Felizmente há muito tempo me livrei dessa concepção deturpada acerca de Deus.

A mesma pessoa disse-me ainda: “Deus é soberano. Ele faz como bem quer, com quem quer e quando quer!”

Até matar, por vingança, ou torturar pessoas inocentes?

Infelizmente há pessoas que pensam exatamente assim e não têm o menor pudor ao afirmá-lo. Certa vez eu ouvi o Sr. John Piper, pastor americano, afirmar que Deus dá a vida a seres humanos e a tira ao seu arbítrio, isto é, quando e da forma que Ele quiser, não importando o grau de sofrimento ou de crueldade envolvidos na morte de qualquer pessoa, do recém-nascido ao ancião.

Eu só posso entender que pensar assim é dizer: Deus é um tirano absoluto que não está nem aí para todo o sofrimento que pode causar a alguém, mesmo um ser inocente como uma criança. Você acha que se uma criança é torturada dias ou meses a fio com um câncer em seu cérebro é porque “Ele [Deus] faz como bem quer” esse câncer? Há muitos outros exemplos terríveis.

Sinceramente, isso me aflige e me deixa estupefato. Como é que seres humanos, em pleno uso de suas faculdades mentais, podem conceber esse tipo de pensamento? Por que a religião às vezes leva pessoas normais a aceitarem tranquilamente como normais ideias tão absurdas? E o pior: apresentam todas as justificativas para defendê-las, e suas consciências não lhes tocam.    

Voltando ao Titanic. Na realidade, o meu desejo é tentar fazer as pessoas entenderem que Deus não teve nada a ver com o naufrágio do Titanic, caso contrário Ele é um ser extremamente injusto. Deus não estava castigando o construtor do Titanic por suas palavras, muito menos todas aquelas pessoas que morreram. O que aconteceu foi simplesmente um acidente, como acontece todas os dias em todos os lugares, sejam provocados por fenômenos naturais (tsunamis, terremotos, vulcões, chuvas torrenciais etc) ou não (falhas em máquinas construídas pelo homem ou falhas do próprio ser humano, como quedas de aviões, batidas de ônibus, trens ou automóveis e acidentes diversos). Há ainda os lamentáveis “acidentes” provocados por falhas no próprio caráter humano que fazem inúmeras vítimas, tais como: guerras, brigas, desentendimentos entre pessoas ou entre nações etc.

Contudo, não pretendo convencer ninguém de coisa alguma, pois não sou o dono da verdade. Quero somente colocar alguns pontos de vista para reflexão, se as pessoas julgarem que vale a pena.

Para concluir, eu vejo apenas duas alternativas – bom, pode haver outras, entretanto minha percepção não as alcança: ou o naufrágio do Titanic foi um simples acidente ou Deus é injusto. Você fica com qual alternativa?

Saulo Alves de Oliveira