sábado, 20 de fevereiro de 2016

Minha gata faz o que a Natureza manda

Por Saulo Alves de Oliveira

Para ver a Natureza em toda sua selvageria, eu não preciso correr o risco de me tornar comida de leões ou crocodilos nas savanas africanas. Também não preciso visitar a floresta amazônica para ver a cadeia alimentar em sua mais cruel face. Nem sequer necessito andar pelas matas nas vizinhanças da minha cidade. Dentro da minha própria casa eu tenho a oportunidade de testemunhar a crueldade da Natureza em toda sua plenitude. Se para alguns é algo banal, para mim é extremamente chocante.

Lamentavelmente, isso é o dia a dia nas florestas, matas, rios, mares e lagoas do nosso – visto do alto – tranquilo planeta Terra. O pavor das presas diante da fúria dos seus predadores. Vida precisa devorar vida para manter-se viva, pois assim impõe a implacável cadeia alimentar da Natureza.

Era um domingo de manhã. Eu estava no escritório da minha casa. De repente ouvi um pequeno estalo vindo da sala. Parecia o som de um graveto ao ser quebrado. Depois outros. Acho que foram uns cinco ou seis em um intervalo de quinze ou vinte minutos. Não dei muita importância.

Em determinado momento o telefone tocou. Ao primeiro tilintar da campainha saí do escritório para atendê-lo. Então descobri o que ocorrera. Parte da sala e o lavabo estavam repletos de penas. Havia uma pequena mancha de sangue no chão, e ao redor algo como pequenas sementes de cor preta.

O que havia acontecido?

Uma das nossas gatas, a Sara – nós temos duas –, havia acabado de devorar um passarinho. Evidentemente, não é a primeira vez que isso acontece. Já livrei vários (des)afortunados de suas garras e presas, dentre ratos, lagartixas, esperanças (louva-a-deus), pequenos pássaros e até cobras. Dessa vez não foi possível.

Tanto quanto aquelas imagens de leões, leopardos ou crocodilos esquartejando suas presas nas savanas e rios africanos, essa é a típica situação que me faz pensar em Deus e na Criação versus Evolução.

É difícil acreditar que o Deus Todo-Poderoso, cuja “benignidade dura para sempre”, tenha criado algo tão cruel.

Perdoem-me os que se sentirem agredidos, mas para mim só os tolos, os que têm medo de pensar ou os fundamentalistas empedernidos o admitem.

No entanto, do ponto de vista do evolucionismo, tudo isso é natural. A Evolução não tem consciência do sofrimento. A Evolução não sabe nem sente o que é a dor. Ele sabe.

Alguns sofrem e morrem para dar vida a outros. Estes, por sua vez, passarão pelo mesmo processo de sofrimento e morte. Portanto, Deus não é o manipulador maquiavélico que está por trás de tudo decidindo quem vai sofrer e morrer, e quem vai viver. Na natureza selvagem só sobrevivem os mais fortes, os “perfeitos”, os melhores adaptados ao ambiente.

Ainda assim, os mais fortes, os “perfeitos”, os melhores um dia enfrentarão a mesma sorte. O leão, o rei dos animais, que a quase todos afronta, será destronado do seu bando por rivais mais jovens e, já velho e cansado, sem a proteção dos demais, será devorado sem dó nem piedade por seus eternos rivais, as hienas.

Um detalhe: ao afugentar o velho soberano, os novos reis do bando matarão todos os filhotes existentes, num espetáculo chocante e deprimente, que em nada combina com a “benignidade que dura para sempre”. Os novos líderes assim procedem para que, livres dos filhotes, as fêmeas estejam prontas para novo acasalamento, e assim passem adiante os seus genes. Ao perdedor, só restará o exílio e, provavelmente, quando as forças se esvaírem, as garras e presas dos outros implacáveis predadores

A minha casa, todavia, não é a selva. É um ambiente artificial. Portanto, já interferi diversas vezes nesse processo natural que tanto me choca.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ainda serei um Houdini ou apenas um mambembe?

Por Saulo Alves de Oliveira

Nem sempre recebemos em troca o mesmo que fazemos.

Às vezes damos rosas e recebemos pedras.

O grande segredo da vida é saber transformar pedras em pétalas, o que nem sempre é fácil, reconheço.

Somente os de espírito elevado são esses “mágicos” da vida.

Eu ainda estou estudando para ser um “mágico”.

Todavia, não tenho certeza se, ao final do curso, receberei o diploma.

Quão grande é a dúvida!

Serei um Houdini ou apenas um palhaço mambembe no palco da vida?