terça-feira, 30 de outubro de 2018

Aos amigos, colegas, parentes e conhecidos

Por Saulo Alves de Oliveira

Nós ainda vivemos em um arremedo de democracia. Até quando, não sei! As perspectivas não são muito animadoras. Todavia, hoje, ainda temos o direito, não totalmente livre, de escolhermos nossos representantes. Portanto, cada um vota em quem quiser e de acordo com a sua consciência.

Acabamos de sair de uma eleição cujo vencedor foi o Sr. Jair Bolsonaro. Uma pessoa, na minha avaliação, despreparada e desqualificada para o cargo de Presidente da República. Julgo que sua eleição será um desastre para o Brasil. Espero estar enganado. Não vejo, pois, qualquer justificativa para uma pessoa que se diz cristã votar no Sr. Jair Bolsonaro, a não ser que a prática cristã seja exatamente isso que foi amplamente divulgado nas palavras rancorosas do vencedor, e até hoje nós vivíamos uma farsa.

Portanto, quero informar a todos os meus amigos, colegas, parentes e conhecidos que porventura votaram no Sr. Jair Bolsonaro que este quase ancião não tem interesse algum em tomar conhecimento do seu voto. Se me têm alguma consideração – é importante ressaltar –, não precisa me informar acerca do seu voto. Deixem que eventualmente eu tome conhecimento por intermédio de terceiros.

Talvez alguém se pergunte “por que essa decisão?”

Não estou propondo romper amizades, todavia vivemos uma situação limite e em casos dessa natureza julgo necessárias decisões compatíveis com o momento.

Para mim, apesar de ser um direito de qualquer brasileiro, votar no Sr. Jair Bolsonaro é um enorme equívoco, por todas as razões que foram amplamente divulgadas e discutidas durante a campanha eleitoral. Não é uma opção para os que se dizem filhos dAquele que pregou o amor ao próximo como o mais importante projeto de vida. Uma pessoa que advoga a violência e prega o ódio como forma de resolver diversos problemas nacionais não merece chegar ao mais alto cargo da República. Um defensor da tortura e de torturadores e cuja principal proposta é torturar e matar, tudo ao contrário dos princípios humanistas que eu aprendi ao longo da minha não tão curta vida, bem como dos ensinamentos ouvidos nos bancos do Escola Dominical que frequentei durante anos.

É claro que se eu tomar conhecimento do voto não irei me afastar da pessoa nem deixar de respeitá-la enquanto ser humano, nem cortar meu relacionamento, desde que, é evidente, a própria pessoa não proponha tal afastamento, posto que a recíproca pode ser verdadeira em relação a este que escreve. Se isso acontecer, terá toda a minha compreensão, pois não comungamos das mesmas ideias políticas e de tratamento ao ser humano, inclusive os contrários. Também não me esquivarei de ajudá-la se eventualmente a isso for instado.

Todavia, minha admiração por pessoas até então tidas como sérias, amigas, sensatas, equilibradas e até dóceis, estará completamente prejudicada, pois eu não posso comungar com o ato de votar, quaisquer que sejam as justificativas, em alguém que tem vocação para ditador e que agride abertamente a democracia e cuja boca profere palavras de ódio de modo rotineiro.

Prefiro guardar de todos uma boa recordação e tê-los sempre como pessoas sensatas. 

Quantos aos líderes religiosos, inclui-se aí os pastores, do menor ao que se senta na maior cadeira – exclusivamente aos que fizeram parte desta farsa, evidentemente – quero registrar a minha indignação e o meu repúdio por terem contribuído para que muitas pessoas de menor compreensão da política participassem desse processo aviltante.

Fiquem certos que a partir de hoje nenhum dos senhores terá autoridade moral para corrigir-me em quaisquer das minhas falhas. Não lhes dou esse direito. E não reconheço sua autoridade moral nem espiritual sobre este cidadão que caminha para tornar-se um ancião. É provável que, para tais pastores, hipócritas na minha ótica, tal decisão não lhes afete em nada e talvez seja até motivo de um “dar de ombros” ou um simples “meneio de cabeça”.

O que significam a opinião, crítica ou insatisfação de um mero cidadão sem nenhuma influência nas esferas de poder? Mas para este filho de Sebastião Alves e Maria Carlos é uma questão de consciência e de sentir-me bem comigo mesmo. 

Há quem afirme que foi dirigido por Deus para guiar o povo evangélico à terra prometida do “bolsonarismo”. Pode ser, eu não duvido. Só preciso saber qual foi o deus. Jesus, o Cristo? Não acredito, mas há muitos outros deuses. Alá, Krishna, Shiva, Thor, Osiris, Baal, Tupã e vários outros! Qual deles?

Líderes como SM, EM, MF e outros congêneres mais próximos estão guiando o povo à terra que mana tortura e morte e onde se louva torturadores que, em sessões de tortura, chegam ao cúmulo da barbárie ao introduzir ratos nas genitálias de mulheres.

Lamento profundamente a atitude dos senhores. Atitude que envergonha o nome da igreja cristã e o evangelho e que vai ratificando uma decisão que a cada dia se cristaliza em meu intelecto: é tempo de partir!

Consequências virão a médio e longo prazos. Não tenham dúvidas.

A propósito, lembro de um texto bíblico que diz: “Eles são guias cegos guiando cegos. Se um cego conduzir outro cego, ambos cairão no buraco”. Portanto, assim qualifico os senhores.

Para quem ainda não sabe, as palavras acima foram ditas pelo Deus Jesus, o Cristo!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

No banco da Igreja

Por Saulo Alves de Oliveira

Sentado no penúltimo banco de uma Igreja eu percebia que duas pessoas conversavam sobre política no banco atrás de mim.

De repente, no meio dos louvores musicais que o restante da congregação cantava, ouço a seguinte piada: "O mito defende os princípios cristãos, por isso tem o meu voto".

Como o ambiente exige reverência, contive a todo custo a gargalhada.

Esperei alguns minutos e, após controlar o impulso do riso, olhei para trás como se não tivesse ouvido nada para ver quem era o “humorista.

Qual não foi a minha surpresa! Infelizmente, já tinham ido embora.

Aí eu dei mais uma gargalhada, mas só para dentro.

E continuei ouvindo, já nessa altura, o Coral que entoava o belo hino “Mestre! O mar se revolta, as ondas nos dão pavor...  Sossegai!  Sossegai!”

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Os dez mandamentos do “Mito”

Estes são os mandamentos que hoje te ordeno e que observarás todos os dias da tua vida, por onde quer que andares.

1 – Não torturarás apenas. Torturarás e matarás;

2 – Não esquecerás de dedicar teus votos à “memória dos torturadores”. Darás atenção especial àqueles torturadores de jovens mulheres indefesas e aos que levam os filhos pequenos para presenciarem o espancamento dos seus progenitores;

3 – Não matarás apenas 111. Mararás 1.000;

4 – Não usarás a verba auxílio-moradia para moradia. Usarás para “comer gente”;

5 – Não pagarás os impostos. Sonegarás tudo o que for possível;

6 – Não estuprarás as mulheres que não merecem, e nem as feias. Darás vazão ao teu extinto do tempo das florestas africanas somente com as que merecem e que são bonitas;

7 – Não te furtarás a ensinar teus filhos a atirar a partir dos cinco anos de idade. Se todos os cidadãos aprenderem a usar armas e a atirar desde pequeno a nação estará mais segura. Não te esqueças: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e ainda quando for velho não se desviará dele”;

8 – Não permitirás que os teus filhos brancos se casem com mulheres negras. Educá-los-ás bem para que se casem sempre com mulheres brancas. Quanto aos negros com excesso de peso, dirás: “Nem para procriador vós servis”, pois tais palavras são uma grande demonstração de valorização dos negros e um agradável incentivo para que eles se submetam a uma dieta rigorosa;

9 – Não terás empatia nem dó dos teus inimigos políticos. Desejarás sempre que eles morram infartados, com câncer ou coisa pior;

10 – Não defenderás o voto como processo de mudança da sociedade. Instigarás uma guerra civil entre os filhos da pátria.

Se observares estes mandamentos, vos farei grande entre as grandes nações da terra.

Não te preocupes com o que pensarão os teus opositores, pois terás o apoio maciço dos pastores evangélicos e dos seus prosélitos.

domingo, 14 de outubro de 2018

Decepção? Sim, decepção

Mas uma grande lição! 

Por Saulo Alves de Oliveira

Qualquer que seja o resultado destas eleições, eu aprendi coisas importantíssimas, as quais jamais esquecerei.

Dentre várias lições, eu percebi como a indiferença, o rancor e outros sentimentos nada nobres podem tomar conta de corações e mentes. Pessoas até então tidas como sérias, amigas, equilibradas e até dóceis, algumas consideradas por muitos como padrão a ser seguido, agem como se não tivessem nenhum compromisso com a ética, com a verdade e, em alguns casos, com os valores que elas mesmas pregam todos os dias.

Confesso-lhes que tem sido uma experiência que me pegou totalmente de surpresa. É, de certo modo, assustadora e, para alguns mais fracos emocionalmente, de perturbar a própria jornada da fé.

Eu não sei se tais pessoas um dia cairão em si e perceberão o rancor que tomou conta de suas almas e mentes.

Apenas dois exemplos.

1 – Fulana(o) divulgou uma notícia falsa, a moderna “fake news”. Vamos supor que Fulana(o) não sabe que tal notícia é falsa. É evidente que isso não justifica seu procedimento. Cabe à pessoa checar se aquela notícia é verdadeira ou não, especialmente se prejudica a imagem de outro ser humano. Mas, vamos dar o benefício da dúvida.

Então um amigo alerta: “Fulana(o), essa notícia é falsa. A notícia verdadeira é assim e assim.”

O que você esperaria de uma pessoa consciente? De acordo com os compromissos morais que você pensa que tal pessoa carrega, obviamente se esperaria que ela apagasse a informação falsa e até pedisse desculpas a quem a leu.

Entretanto, qual é a atitude de tal pessoa? Insiste com a informação, aplaude quem corrobora e ainda faz gozação com o amigo que a alertou.
 
2 – Eu vi pessoas que em algum tempo foram guias espirituais de muitos jovens, inclusive meus – ainda hoje o são de muitas pessoas, não mais meus –, apoiarem o que há de pior na política, sob a desculpa de que o elemento defende os valores cristãos. E quando você pesquisa a vida e os discursos do elemento, você constata que não há nada de mais enganoso.

Um me disse “[nome do cidadão] Presidente, pela volta ao Prumo da Verdade de Deus”. Nesse momento eu escutei os anjos no Céu exclamarem “My God!”. Não sei se é motivo para sorrir ou chorar!.

Decepção e frustração? Sim, porém extremamente instrutivo. As máscaras que cobriam os rostos nos púlpitos das igrejas e nas reuniões privativas caíram completamente.

Para mim, tais pessoas não passam de seres humanos que, e somente nessa condição, ainda merecem, e sempre terão, meu respeito. Como exemplo, jamais.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Pequena divagação sobre “ser crente”

Por Saulo Alves de Oliveira

Quando eu era criança, e na minha adolescência também, talvez sob influência dos meus pais e de alguns professores da escola dominical – é provável que em boa parte da minha vida adulta deu-se o mesmo –, eu achava que a condição “ser crente” significava, sempre, compromisso com a verdade, com a honestidade, com a moralidade e com a ética.

Um dia alguém me disse assim: “Acreditar em Deus ou ser um crente ou adepto de qualquer religião não implica, obrigatoriamente, em ser honesto, moral, ético e verdadeiro. Há pessoas que não acreditam em Deus ou que têm crenças totalmente diferentes entre si e são pessoas comprometidas com os sentimentos mais elevados que o ser humano pode alcançar”.

E quanto aos pastores? Na minha cabeça juvenil, eram pessoas que mereciam todo crédito e respeito. Eu achava que alguns recebiam as ordens ou orientações de Deus diretamente em seus ouvidos! Ah! Como eu fui tolo em boa parte da minha vida!

Felizmente algo abriu totalmente os meus os olhos para a dura realidade que me cercava e eu tolamente não conseguia enxergar. Se bem que eu nunca fui um fanático. Quantos interesses pessoais, sob o manto da vontade de Deus, dominam as decisões!

Você já ouviu falar de algum pastor de uma grande igreja, com uma grande renda, que foi “escolhido” por Deus para deixar o conforto de uma grande cidade e assumir a direção de uma igrejinha no escaldante sertão nordestino, para viver com os recursos provenientes do povo pobre do lugar?

Talvez Ele trabalhe com a coerência humana, isto é, os grandes nos lugares grandes e os pequenos nos lugares pequenos. Eu tive um insight agora ao escrever este parágrafo. Certamente sou eu que não consigo alcançar os mistérios de Deus. É, deve ser isso.     

Infelizmente, ou felizmente, não sei ao certo, é algo que eu venho comprovando ao longo da minha vida, especialmente nos últimos 20 anos, e, nos anos mais recentes, isso vem se confirmando assustadoramente.

Existem crentes que são exemplo para todos nós? É claro. Eu conheci muitos e ainda conheço alguns.