domingo, 29 de dezembro de 2013

Qual a idade da Terra? Apenas 6.000 anos?




Em 1654, um arcebispo irlandês, James Ussher, “calculou” a idade da Terra. Utilizando personagens bíblicos e suas gerações, e regredindo até Adão, o Sr. Ussher calculou que a Terra fora criada no dia 23 de outubro de 4004 antes de Cristo, um domingo (sic). Isso mesmo! Em um domingo. Portanto, há cerca de 6.000 anos.

Será esse o motivo que leva alguns cristãos a acreditarem que o Universo tem apenas 6.000 anos?

Entretanto, a ciência estima a idade da Terra em 4,5 bilhões de anos e os primeiros sinais de vida em nosso planeta datam de 3,5 bilhões de anos. Estes sinais de vida primordial são fósseis de bactérias chamadas “procariontes” encontrados em estratos, ou rochas, que se formaram há 3,5 bilhões de anos.

Já os primeiros espécimes reconhecidos como o moderno “Homo sapiens”, a espécie humana, datam de cerca de 195 mil anos atrás.

Saulo Alves de Oliveira

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Por que pessoas morrem? Por que pessoas sofrem?

Todos os dias a natureza começa ou termina o ciclo da vida.

Alguns abrem os olhos para ver a luz pela primeira vez e trazem toda a alegria aos pais.

Outros fecham os olhos para sempre deixando só tristeza aos que ficam.

Nos últimos dias eu tomei conhecimento da morte de algumas pessoas conhecidas.

E isso me fez lembrar algumas perguntas que sempre me faço.

“Por que pessoas morrem tão jovens?”

“Por que pessoas morrem antes do tempo?”

“Por que pessoas boas sofrem?”

Na verdade, eu nunca encontrei respostas para estes questionamentos.

Quem sabe tais perguntas realmente não têm respostas.

Por quê?

Porque talvez as perguntas estejam erradas.

Então, após meditar algum tempo, resolvi refazê-las de outra forma.

“Por que pessoas morrem?”

“Por que pessoas sofrem?”

Eu acho que estas perguntas têm respostas.

Entretanto, quem pode respondê-las?

Você?

Saulo Alves de Oliveira

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Jesus e a figueira

Existem cerca de 755 espécies de figueira em todo o mundo. De rasteiras a trepadeiras, de arbustos a árvores. As figueiras nascem em todos os continentes, exceto na Antártica. A única espécie que produz figos comestíveis é a “Ficus carica” ou figueira-comum, que atinge em média 8 metros de altura, podendo alcançar até 10 metros.

É muito provável que a árvore citada em Mc. 11.12-14, Mc. 11.20-25 e Mt. 21.18-22 fosse uma figueira “Ficus carica”.

Há alguns aspectos relacionados à vida de Jesus que sempre me intrigaram. Um deles é justamente a história da figueira sem frutos mencionada nos textos cujas referências estão acima.

Naquela ocasião Jesus teve fome e procurou figos em uma figueira. Como não os encontrou, lançou uma maldição sobre a árvore e esta secou completamente.

O mais impressionante é que a figueira não tinha frutos porque não era a época de produzi-los, conforme “determinava” a própria natureza. Não era sua culpa, pois não estava na estação dos figos. E Jesus com certeza o sabia.   

Interessante é que em Mateus está registrado que a figueira secou imediatamente. Já o escritor de Marcos afirma que os discípulos só perceberam que a figueira tinha secado no dia seguinte. 

Ao invés de amaldiçoar a figueira, por que Ele não ordenou que a árvore produzisse frutos naquele instante, os quais alimentariam a si próprio e a seus discípulos?

Também teria evitado eliminar um ser vivo que, se não tinha frutos, não era por que tinha cometido algum “pecado” ou devido a uma doença qualquer, mas simplesmente por que não era o tempo próprio, a estação dos figos.   

Essa outra atitude, isto é, fazer a árvore produzir frutos, não teria sido algo mais compatível com sua missão e com seu caráter benigno? 

Saulo Alves de Oliveira

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quase morri, literalmente

Eu a conhecia há muito tempo. Desde os meus 16 anos. Lá se vão, portanto, algumas décadas. Acho que ela era mais velha do que eu um ou dois anos. Era uma jovem simples, meiga, educada e um pouco tímida.

Éramos amigos, seu namorado e eu. Ele, um pouco mais velho, mas nos dávamos muito bem.

Essa relação de amizade me deu a oportunidade de desfrutar bons momentos com sua família na lagoa do Bonfim nos carnavais, se não me engano, dos anos 73, 74 e 75. Conheci seus pais e todos os seus irmãos e irmãs.

Algum tempo depois, os dois se casaram, e eu também. A partir daí, nos afastamos um pouco e nossa amizade não foi mais a mesma. Eram só encontros muito casuais na igreja. Porém eu os acompanhava de longe.

Certo dia me chegou uma notícia muito triste e chocante. Ela havia se suicidado. Enforcara-se. E o que mais me impressionou: com as cordas do punho de uma rede, e sentada na cama.

Aquela notícia ficou repercutindo na minha mente durante alguns dias. Como pode uma pessoa se enforcar com os cordões do punho de uma rede?, perguntava-me.

Dias depois resolvi fazer uma experiência que poderia ter sido fatal. Se tivesse dado “certo” eu não estaria contando essa história hoje. Bastaria apenas que eu estivesse sozinho ou que todos os meus familiares estivessem na cozinha da minha casa.

Naquela época eu ainda trabalhava em Recife e passava apenas os finais de semana em casa.

Normalmente as manhãs de sábado eram reservadas para resolver algum problema em casa ou para fazer compras no comércio, já que de segunda à sexta toda minha rotina era em Recife.

Eu já estava pronto para sair. Sulanira ainda estava no banheiro dando os últimos retoques na maquiagem. Meus filhos e um casal de “secretários” que nos ajudava naquela época estavam na cozinha tomando o café.

De repente me chamou a atenção uma rede que tínhamos em nosso quarto. Ainda hoje fazemos uso de tal artefato. Então, naquele exato momento, resolvi fazer uma experiência para testar o quanto seria possível uma pessoa enforcar-se com os cordões do punho de uma rede. Como já disse: poderia ter sido uma experiência sem volta.

Fiquei de pé junto à parede, de costas para esta, dividi os cordões em duas partes e passei a cabeça pelo meio. Em seguida dei uma volta com os cordões no pescoço. Forcei um pouco para baixo e senti uma leve sensação de estrangulamento com pressão no pescoço e cabeça. A partir daí não me lembro de mais nada. Apaguei completamente.

Com a pressão nas artérias do pescoço, a circulação de sangue para o cérebro diminuiu e assim perdi totalmente os sentidos. Então, sem consciência, comecei a me debater, não sei por quanto tempo, se segundos ou minutos. E, evidentemente, não conseguia folgar os cordões.

Mesmo inconsciente, é muito provável que fiz algum barulho. Talvez emiti algum som gutural ou mesmo os sons característicos de um corpo se debatendo. Sulanira deve ter escutado alguma coisa. Quando se virou para ver do que se tratava, presenciou um espetáculo assustador. Eu estava morrendo enforcado de pé no nosso quarto preso ao punho da rede em que eu ou ela costumávamos dormir.

Imediatamente ela gritou e correu para me socorrer e logo todos de casa chegaram. Conseguiu folgar os cordões e eu recuperei os sentidos.

Meio sem graça e ainda tentando entender o que estava acontecendo, me sentei na cama e disse: Calma pessoal, está tudo bem! Na realidade, eu poderia ter morrido naquele momento. 

Além do transtorno e da tristeza de toda a minha família, até hoje perduraria a dúvida dos familiares e amigos: Por que Saulo se matou? Nenhum bilhete. Nenhum indício de tristeza ou depressão nos dias anteriores. Tudo estava bem. O que as pessoas poderiam insinuar? Não havia motivo algum para uma atitude tão drástica como o suicídio. Eu não passava por nenhum problema que pudesse me levar a um ato tão desesperador.

Felizmente o único transtorno pessoal foi uma leve hemorragia nos olhos, característica das tentativas de suicídio por enforcamento. Fui de imediato à emergência de um hospital e, na segunda-feira seguinte, ao oftalmologista. Nada de mais grave. Tudo estava bem. Alguns dias depois, os olhos voltaram ao normal.

O único constrangimento foi contar a história aos médicos sem saber se eles acreditavam ou não. Talvez pensassem que estavam diante de um potencial assassino de si próprio.

Do episódio, ficou uma grande lição, para mim e para todos. Jamais devemos fazer qualquer coisa potencialmente perigosa, isto é, com qualquer possibilidade de risco,  sem o acompanhamento de outra pessoa adulta e, de preferência, que tenha uma boa cabeça.

Concluindo, sua morte me chocou profundamente e, de forma indireta, quase me fez seguir o mesmo caminho. Não intencionalmente, é óbvio. 

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 16 de novembro de 2013

Divagando sobre livre arbítrio e predestinação

Dois aspectos muito complicados da fé cristã, no meu ponto de vista. Livre arbítrio e predestinação.

Há pessoas que defendem, com base na Bíblia, a doutrina do livre arbítrio. Outros, também com base na Bíblia, defendem a doutrina da predestinação. E ainda há aqueles que afirmam que as duas doutrinas estão de igual modo contidas na Bíblia. Eu julgo tal fato algo muito complicado, visto que as duas doutrinas são conflitantes e mutuamente excludentes. Portanto, ou uma está errada ou as duas estão erradas.

Eu pessoalmente prefiro aceitar o livre arbítrio, pois assim cada pessoa é responsável pelas suas escolhas e pelas consequências dessas escolhas.

Julgo a doutrina da predestinação uma das coisas mais terríveis e sem sentido que eu já ouvi falar, pois ela ensina que Deus escolheu, previamente, pela sua soberania, antes de todas as coisas, aquelas pessoas que vão ser condenadas e as que serão salvas. Como não deve satisfação a ninguém, Deus escolheu, muito antes das pessoas existirem, aqueles que serão condenados para todo o sempre.

Deus, para ser Deus, em toda sua grandeza e onipotência, não precisava fazer a Terra nem tampouco trazer à existência o ser humano. De repente, Ele decide: vou fazer uns “vermezinhos” e destiná-los ao tormento eterno. Para mim isso se chama indignidade, sadismo ou desvio de caráter. 
  
Qualquer pessoa civilizada e de cultura apenas razoável sabe que isso é algo absurdo e tremendamente injusto. Deus criar seres, que não têm a liberdade de escolha, isto é, se querem vir ou não ao mundo, e destiná-los à condenação eterna.

Confesso que tenho uma enorme dificuldade de ter qualquer relacionamento com um deus assim.

Saulo Alves de Oliveira       

domingo, 10 de novembro de 2013

Albert Einstein: teísta ou ateu?

Parece que nenhuma coisa nem outra.

Para algumas pessoas Albert Einstein foi o maior cientista que já habitou este planeta. Para outros, só comparável a Sir Isaac Newton, o inglês que no século 17 descobriu a física dos movimentos dos corpos terrestres e celestes, isto é, a famosa Lei da Gravitação Universal. Há quem julgue Newton o maior de todos os cientistas. Todavia, não importa essa comparação. O que realmente importa é que Einstein foi um dos maiores gênios da humanidade de todos os tempos.

Suas descobertas inspiraram a fantástica Teoria do Big Bang, a grande “explosão” primordial que deu origem a tudo o que vemos hoje.

Einstein fez outra descoberta fantástica, a de que o tempo não é um fenômeno absoluto, como definia Newton, mas uma grandeza relativa, isto é, o tempo passa de forma diferente para referenciais diferentes. Mas isso só é perceptível para velocidades muito grandes, próximas à velocidade da luz – 300 mil quilômetros por segundo.

Imagine que você entre em uma nave e faça uma viagem deslocando-se a uma velocidade próxima à velocidade da luz em relação à Terra. Algum tempo depois, ao retornar à Terra, você encontrará seus amigos e parentes bem mais velhos do que você. Dentro da nave tudo se passou como se você estivesse em sua casa e você não percebeu nenhuma alteração em seu relógio. Dependendo da velocidade da nave, é possível calcular quantos anos eles estarão mais velhos na sua chegada. Quanto maior a velocidade, maior será a diferença de idade entre você e todos os que permaneceram na Terra. E isso já foi provado que é verdade. Mas vamos ficar por aqui, pois a Teoria da Relatividade de Albert Einstein não é um assunto de muito fácil compreensão para leigos, entre os quais eu me incluo.    

Algumas pessoas citam o exemplo de Albert Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos – se não o maior –, incluindo-o no rol dos cientistas crentes, ou melhor, que creem em Deus. Dizem que ele não era ateu. Talvez não o fosse, mas com certeza não cria em Deus como creem os cristãos. Se ele cria em Deus, era em um Deus que em nada interfere no destino dos homens e da criação.

Estas palavras são suas e eu as transcrevo do livro “Como vejo o mundo”, 6ª edição.  Tire você suas próprias conclusões. 
“Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer ideia de um ser que sobreviva à morte do corpo. Se semelhantes ideias germinam em um espírito, para mim é ele um fraco, medroso e estupidamente egoísta.” 

“A condição dos homens seria lastimável se tivessem de ser domados pelo medo do castigo ou pela esperança de uma recompensa depois da morte”.

“O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um Ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo – uma espécie de sentimento exaltado da mesma natureza que os laços do filho com o pai –, um ser com quem também estabelecem relações pessoais, por respeitosas que sejam”.
Em outro trecho interessante ele tenta explicar como, em sua visão, as religiões surgiram:
“Descubro logo que as raízes da ideia e da experiência religiosa se revelam múltiplas. No primitivo, por exemplo, o temor suscita representações religiosas para atenuar a angústia da fome, o medo das feras, das doenças e da morte. Neste momento da história da vida, a compreensão das relações causais mostra-se limitada e o espírito humano tem de inventar seres mais ou menos à sua imagem. Transfere para a vontade e o poder deles as experiências dolorosas e trágicas de seu destino. Acredita mesmo poder obter sentimentos propícios desses seres pela realização de ritos ou de sacrifícios. Porque a memória das gerações passadas lhe faz crer no poder propiciatório do rito para alcançar as boas graças de seres que ele próprio criou”.
Veja ainda o que ele disse em outra ocasião: 
“Com respeito a Deus, não posso aceitar nenhum conceito baseado na autoridade da Igreja. Desde que me lembro de mim mesmo, sempre me ressenti da doutrinação em massa. Não acredito no medo da vida, no medo da morte ou na fé cega. Não posso provar-lhe que não existe um Deus pessoal, mas, se lhe falasse dele, estaria mentindo. Não creio no Deus da teologia, que recompensa o bem e castiga o mal. Meu Deus cria leis que se encarregam disso. Seu Universo não é regido por ideias em que se deseja acreditar, mas por leis imutáveis.” Do livro “Einstein e a religião”, de Max Jammer. 
Talvez Albert Einstein fosse um deísta, isto é, aquele que crê numa Causa Primordial, que deu “corda” na máquina e criou leis que a regem, mas a partir daí não interfere em seu funcionamento.

Agora que Albert Einstein não era um teísta, não há dúvida alguma.

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 26 de outubro de 2013

Pequeno diálogo¹: o Pastor e eu

Pastor: “Todo o que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; o que permanece neste ensino, tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz este ensino, não o recebais em casa nem o saudeis; porque aquele que o saúda, participa de suas más obras” – 2 Jo. 1:9-11. João, apóstolo do amor, era focado nas escrituras sagradas, e tinha posição firme e contundente contra as heresias nos seus dias.

Saulo: Eu julgo muito complicado trazer, ao pé da letra, esse ensinamento do apóstolo João, proferido há quase dois mil anos, para os nossos dias.

Pastor: Os evangelhos sinóticos dizem “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” – Lc. 21:33, Mt. 24:35, Mc. 13:31.  “Toda a Escritura divinamente inspirada é também útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça” – 2 Tm. 3:16.

Saulo: Caro pastor, na sua igreja existem pessoas ricas? As mulheres ensinam e pregam? Há pastoras? Se as respostas forem "sim", eu pergunto: como ficam, nos nossos dias, os ensinamentos de Jesus em Mt. 19.21 e de Paulo em 1 Co. 14.34,35 e 1 Tm. 2.11,12?

Pastor: Não confunda alhos com bugalhos, temos o essencial e os assessórios.

Saulo: Pastor, desculpe-me a pergunta, é somente para eu entender corretamente o seu comentário. O senhor quis dizer realmente “assessórios” ou “acessórios”?

Pastor: Acessórios, falha nossa.

Saulo: Bom, então eu entendi que, apesar de 2 Tm. 3.16, a atitude de não receber em casa e nem sequer falar com quem não tem o ensinamento de Cristo, conforme ensinou o apóstolo João em 2 Jo. 1.9-11, é essencial, entretanto a mulher não falar na igreja, conforme ensinou o apóstolo Paulo em 1 Cor. 14.34,35, é apenas um acessório. Também é apenas acessório o ensinamento de Jesus aos ricos: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me”.      

¹Real

Saulo Alves de Oliveira

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O animal humano, e os outros

“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego; e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade".
                                                     Eclesiastes 3.19

Às vezes eu me ponho a pensar sobre certos aspectos da vida humana. Outro dia à tarde eu saí para resolver algumas coisas e, na volta, dirigindo meu carro pelas ruas da cidade, comecei a pensar acerca das semelhanças que há entre os seres humanos e os outros animais.

Quando nos comparamos com os mamíferos as semelhanças são extraordinárias. Quando reduzimos o quadro e nos colocamos entre os grandes primatas, as semelhanças são estonteantes. Quando olhamos o chimpanzé, aí ficamos sem palavras, pois as semelhanças são estarrecedoras.


Por que nós somos tão parecidos com os animais, e de um modo muito particular com os chimpanzés?

Todos somos formados de carne, sangue e ossos. Como os grandes macacos, temos cabeça, tronco e membros. Duas pernas, dois braços, dez dedos nas mãos, dois olhos, nariz, boca, língua e dentes. Você sabia que o chimpanzé também tem 32 dois dentes como os humanos, divididos em duas arcadas de 16 dentes cada uma?

Veja a mão do chimpanzé, seus dedos, suas unhas, e compare-as com as nossas. A semelhança é impressionante.

Todos nós, animais e seres humanos, nos alimentamos de igual modo, engolimos os alimentos pela boca, processamos e absorvemos os nutrientes no estômago/intestino e expelimos o refugo exatamente da mesma forma, isto é, como urina ou fezes.

Como os humanos, os chimpanzés apresentam expressões faciais para todo tipo de emoção como alegria, raiva, depressão e medo. Eles usam mãos e braços em seus cumprimentos, se beijam e, como nós, o que eu não sabia, também ficam com os pelos grisalhos na velhice.

Todos temos cérebro e inteligência, muito embora aí resida a grande diferença a favor dos seres humanos. Desenvolvemos uma inteligência muito maior que a de todos os outros animais. Mas, às vezes, penso: será que isso foi bom?, pois estamos destruindo o planeta e a nós mesmos.

Julgo dispensável dizer qualquer coisa acerca do processo de envelhecimento e morte, pois são exatamente iguais. A única diferença deve-se aos recursos artificiais descobertos ou inventados pela inteligência humana maior, tais como: a medicina, os medicamentos, as vacinas, os exercícios, os hábitos de higiene pessoal, uma alimentação saudável, etc., que em muitos casos retardam o envelhecimento e a morte. Todavia, por mais que se posterguem esses processos naturais, o final e o fim são exatamente iguais para todos os animais, inclusive os humanos mais ricos ou poderosos.

Se tem alguma dúvida quanto a isso, faça um simples experimento mental. Imagine ao relento, à mercê da natureza, dois corpos que acabaram de expirar, um humano e outro de um animal qualquer, um chimpanzé, por exemplo.

Dias depois volte ao local e veja o triste aspecto em que se encontram os dois corpos. Corpos inchados e em putrefação sendo devorados pelos vermes e bactérias. Um espetáculo chocante e deprimente, que nem todas as pessoas têm condições emocionais e físicas de ver.

Volte dois anos depois e você encontrará apenas os ossos. Volte novamente 30 anos após e você não encontrará mais nada. Os próprios ossos se desintegraram e os minerais que os compõem se integraram ao solo local.        

Entretanto, confesso-lhes que o que mais me impressiona é a maneira como nós vimos ao mundo, isto é, como nós nascemos, e o sexo. No caso dos mamíferos, o processo de concepção, geração da vida, formação do ser vivo e seu nascimento é exatamente o mesmo. Todos, animais e humanos, temos genitálias semelhantes, e estas participam desse processo de modo exatamente igual. 

O ato sexual é algo muito animal, carnal e nada tem de espiritual, e nos revela o extraordinário grau de parentesco que temos com todos os outros animais. Acho que, se já viu o relacionamento sexual de dois outros animais, você sabe exatamente do que estou falando.

Talvez a maior diferença seja o carinho e o amor que há entre homem e mulher, mas para que haja concepção e formação de uma nova vida isso não é indispensável, e muitas vezes o que fala mais alto é o instinto animal. Também não sei dizer se os animais sentem ou não carinho ou algo parecido com amor pelos seus parceiros.

E, lamentavelmente, muitas vezes os seres humanos se assemelham mais aos brutos do que a seres dotados de inteligência e sensibilidade. Estão aí os pedófilos e os estupradores para provar.

Enlouquecido por décadas de cativeiro e desesperado para estabelecer contato, um chimpanzé furioso acaba reagindo às táticas tranquilizadoras da Dra. Jane Goodall, que se curva em um gesto de submissão
Que me perdoem os que tomam o Gênesis ao pé da letra, mas as semelhanças entre os humanos e os outros animais são tão grandes que me levam a concluir que essa é uma, apenas uma das evidências de que o velho Charles Darwin tinha razão.    

Saulo Alves de Oliveira

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Estado não tem igreja

Há pessoas que, ao escutarem a expressão “Estado laico”, fazem de imediato uma associação com “Estado ateu”. Todavia, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Estado laico é o Estado que não privilegia nenhuma religião, em detrimento de outras, e nem a falta de religião. O Estado laico garante a todos o direito de crer ou de não crer.

No Estado laico, cultos, missas, cerimônias religiosas ou proselitismo são feitos em casa e nos templos, não nas repartições públicas e órgãos do Estado.

A França está de parabéns ao publicar a Carta da Laicidade, na qual lembra a todos os cidadãos franceses que o Estado não tem religião.

Que esta carta sirva de lição a todos os brasileiros bem como aos fundamentalistas norte-americanos.

Reproduzo abaixo uma pequena matéria divulgada pela revista CartaCapital sob o título  “O Estado não tem igreja”.

“A França decidiu entrar na contramão de países como os Estados Unidos – hoje contaminados, em sua vida política e social, por uma visível atmosfera carola, quase teocrática. A nação que proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, continua fazendo jus à tradição de liberdade e igualdade.

A rentrée escolar coincidiu com a proclamação, pelo ministro da Educação, Vincent Paillon, de uma Carta da Laicidade, 15 mandamentos que lembram que todo cidadão francês é livre para crer no que quiser (e também para não crer), que o Estado não tem religião e que, portanto, as escolas públicas (55 mil) devem vetar símbolos e objetos religiosos que lembrem qualquer crença religiosa.

O documento tem a bêncão do presidente François Hollande, que parece disposto a pagar o preço da incompreensão dos radicais da fé, especialmente os muçulmanos extremados, que se consideram estigmatizados pelo novo código.

Na verdade, a queixa vem de 2004 e do governo Sarkozy, que proibiu o véu islâmico nas escolas públicas francesas.


A Carta da Laicidade

1
A França é uma república indivisível, laica, democrática e social que respeita todas as crenças.

2
A república laica organiza a separação entre religião e Estado. Não há religião do Estado.

3
O laicismo garante a liberdade de consciência. Cada qual é livre para crer ou não crer.

4
O laicismo permite o exercício da cidadania, conciliando a liberdade de cada um com a igualdade e a fraternidade.

5
A república garante o respeito a seus princípios nas escolas.

6
O laicismo na escola oferece aos alunos as condições para forjar sua personalidade e os protege de todo proselitismo e toda pressão que os impeça de fazer sua livre escolha.

7
Todos os estudantes têm garantido o acesso a uma cultura comum e compartida.

8
A Carta do Laicismo assegura também a liberdade de expressão dos alunos.

9
Garante-se o repúdio às violências e às discriminações e assegura-se a igualdade entre meninas e meninos.

10
O pessoal das escolas está obrigado a transmitir aos alunos o sentido e os valores do laicismo.

11
Os professores têm o dever de ser estritamente neutros.

12
Os alunos não podem invocar uma convicção religiosa para contestar uma questão do programa.

13
Não se podem rechaçar as regras da escola invocando uma filiação religiosa.

14
Está proibido portar signos ou objetos com os quais os alunos manifestem ostensivamente suas filiações religiosas.

15
Com suas reflexões e atividades, os alunos contribuem em dar vida à laicidade no seio de seu estabelecimento escolar.”

Revista CartaCapital de 25/09/2013

domingo, 22 de setembro de 2013

Amar só a Israel? Por quê?

E os outros povos? E os palestinos? Não merecem ser amados também?

De vez em quando eu me pergunto: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo palestino?”

Certa vez, diante desse questionamento, alguém me fez a seguinte observação: “É porque eu encontro na Bíblia um versículo que diz assim: Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam – Sl. 122:6. Portanto, já tenho argumento suficiente para manter um carinho todo especial pelo povo criado e escolhido por Deus”.

Acontece que eu também encontro argumentos suficientes nos textos abaixo para proceder da seguinte forma:

Gn. 27.5-45 – acreditar que os fins justificam os meios;

Ex. 22.28 – parar de criticar o governo e deixar de afrontá-lo com postagens às vezes deselegantes e, lamentavelmente, com inverdades, como muitos estão fazendo;

Ex. 23.2 – deixar de apoiar os protestos contra o governo, pois estes resvalam para o mal (depredações, arruaças, prejuízos ao patrimônio público e/ou privado);

Lv. 7.23 – proibir as pessoas de comerem gordura, não só por questões de saúde – neste caso trata-se de orientação, e não de tirar o direito das pessoas optarem –, mas porque é uma ordenança bíblica;

Lv. 12.2-5 – considerar qualquer mulher imunda após o parto e proibi-la de ir à igreja durante 40 dias, se tiver um menino, ou durante 80 dias, se tiver uma menina. Também acho argumento para fazer discriminação entre homem e mulher;

Lv. 20.9 – mandar matar todos os filhos que desobedecerem a seu pai ou a sua mãe;

Lv. 21.18-20 – proibir qualquer homem com defeito físico de estar à frente de qualquer igreja, incluindo-se nessa proibição os anões, os corcundas e o que tiver nariz chato. A pergunta a seguir é específica para os evangélicos da Assembléia de Deus de Natal: “Isso lembra vocês de alguma coisa?”

Dt. 25.11,12 – mandar decepar a mão da mulher que, a fim de livrar o marido daquele que o agredia em uma briga, pegou na genitália do agressor;

Sl. 137.9 – retribuir da mesma forma o mal que alguém fizer aos nossos filhos, inclusive, se for o caso, jogando os filhos pequenos dos nossos desafetos contra as pedras; ou, como diz outra versão, “despedaçá-los contras as rochas”;

Mt. 19.21 – afirmar que todos os que querem ter um tesouro no céu devem vender tudo o que têm e entregar aos pobres, ou seja, na igreja não podem existir ricos;

Rm. 13.1,2 – parar com a ideia de impeachment dos governantes, pois isso é “resistir à ordenação de Deus”;

1 Co. 14.34,35 e 1Tm. 2.11,12 – proibir qualquer mulher de pregar e ensinar, o que significa, obviamente, proibi-la também – o que me parece fundamental – de ser pastora. As mulheres devem ficar simplesmente sentadas nos bancos das igrejas ouvindo em silêncio. E, se quiserem saber alguma coisa, perguntem em casa aos seus maridos. Evidentemente, eu não sou machista, portanto não comungo desse ensino do apóstolo Paulo;

2 Jo. 1.10 – não receber em casa, nem sequer falar com aqueles que não participam conosco da mesma compreensão da fé cristã.

Eu quero deixar claro, todavia, que não concordo com nenhum desses argumentos que citei, exceto quanto a postagens deselegantes e com inverdades ou quanto às manifestações com arruaças e depredações.

Infelizmente, a Bíblia dá margem a muitas interpretações, ao sabor dos interesses de qualquer um. Todos os textos citados e muitos outros fizeram parte de um momento da história de Israel ou da história cristã e estavam de acordo com as circunstâncias de uma época. Não podemos simplesmente trazê-los ao pé da letra para o nosso tempo sob pena de causarmos um enorme prejuízo às relações humanas.

Em alguns casos eu chego a me perguntar: como Deus pôde estabelecer ou aceitar leis, práticas ou costumes tão bárbaros?

As palavras do Salmo 122, versículo 6, por exemplo, foram proferidas por Davi talvez há cerca de 3.000 anos. É perfeitamente compreensível que Davi assim se expressasse, pois ele era um israelita, um judeu, rei de Israel, que amava seu povo e sua terra. Entretanto, isso não quer dizer que Davi estava afirmando que “não orem pelos outros povos nem os amem”. E se ele assim tivesse afirmado, eu não teria receio algum em dizer que “não concordo com Davi”.

O próprio Jesus afirmou “Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem”.

Veja bem: nem sequer os palestinos são nossos inimigos ou nos perseguem. Não há motivo algum para não amá-los ou não orar por eles.

Devemos amar e orar não só por Israel e pelos palestinos, mas por todos os povos do mundo.

Todavia, se você insiste em só amar e orar por Israel, é um direito seu. Você é livre para proceder da forma que achar conveniente e conforme a compreensão que tem da Bíblia.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 1 de setembro de 2013

Sejam bem-vindos, cubanos

E nos desculpem pela falta de educação de alguns dos nossos irmãos brasileiros.

No último dia 26, em Fortaleza/CE, médicos cubanos, que aqui vieram trabalhar honestamente atendendo a um chamamento do governo brasileiro, foram recepcionados pelos seus colegas brasileiros com xingamentos e discriminação.

Os cubanos tiveram de passar por um “corredor polonês formado por brasileiros sob vaias e gritos de “escravos”. 

Se os médicos brasileiros não concordam com o programa Mais Médicos, deveriam criticar a presidente Dilma ou o ministro Alexandre Padilha, não os cubanos.

É uma questão de educação, ou melhor, de falta de educação. Como alguém pode criticar e xingar pessoas que nunca lhe fizeram mal? Esse tipo de reação não se coaduna com a postura de profissionais que se julgam elite no Brasil. Eles deveriam ser elite no quesito educação e na formação de respeito ao ser humano.

A propósito do tema “médicos cubanos”, uma colega fez o seguinte comentário: “Pois é, [eles] só querem ganhar um trocadinho pra comprar novos eletrodomésticos e servir de mula pra levar nosso dinheiro para o regime cubano...”

Realmente, não precisava ser assim, o dinheiro poderia ficar aqui mesmo, era só os médicos brasileiros não boicotarem o Mais Médicos.

O dinheiro que vai ser repassado ao governo cubano é justamente para melhorar a saúde do povo mais carente do Brasil. Deveria ficar aqui mesmo, se os profissionais brasileiros tivessem aderido ao programa Mais Médicos, mas eles não só não aderiram, eles fizeram pior: boicotaram o programa.

Ademais, não vejo problema nenhum em pagar a Cuba pelos serviços dos seus profissionais médicos. Cada país exporta o que tem de melhor, e Cuba tem um sistema de saúde de boa qualidade, muito melhor que o do Brasil. Vergonhosa está sendo a atitude dos nossos médicos, que "não querem entrar" e ainda "pretendem impedir a entrada de quem quer".

Talvez os médicos cubanos não tenham a visão mercantilista de grande parte dos nossos médicos. Parece que a medicina cubana tem uma visão mais humanista. Será que é essa mudança de paradigma que tanto temem os nossos profissionais?  

Cuba é um país pobre. Talvez um "trocadinho" seja suficiente para o padrão de vida do seu povo.

Talvez os cubanos, socialistas – na realidade, nem sei se todos os médicos o são – , estejam cumprindo, sem o saber, as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: "...tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes... Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males...", 1 Tm. 6.7-10, e dando-nos uma lição de humildade.

Parece-me que muitos cristãos, que se dizem cumpridores da Bíblia – será? –, e que estão combatendo sem tréguas o Mais Médicos, estão precisando dessa lição de humildade.

Lamentavelmente, o fundamentalismo e, muitas vezes, a fé cegam as pessoas.

Saulo Alves de Oliveira 

domingo, 25 de agosto de 2013

Ingenuidade, crendice ou superstição

É acreditar que Papai Noel existe;

É acreditar que a mezuzá judaica pode proteger;
É acreditar que o toque no Muro das Lamentações em Jerusalém pode atrair bênçãos;
 
É acreditar na infalibilidade do Papa;
É acreditar que a hóstia consagrada é o corpo humano de “Nosso Senhor Jesus Cristo”;
É acreditar nas crianças pastorinhas de Fátima;
É acreditar nas pílulas do Frei Galvão;
É acreditar em imagens que choram e produzem milagres;
É acreditar no sinal da cruz;



É acreditar no poder das águas do rio Ganges;

É acreditar em caixinha de promessas;
É acreditar em revelações ou profecias genéricas que se adaptam a qualquer pessoa;
É acreditar que a Bíblia aberta no Salmo 91 traz alguma proteção;
É acreditar na teologia da prosperidade;
É acreditar que mãos espalmadas à frente do corpo recebem bênçãos;
É acreditar que semeando-se R$ 900,00 colhe-se o fruto dos bens materiais;

É acreditar em contatos com os mortos;
É acreditar em passe espiritual;

É acreditar que amuletos protegem;
É acreditar em benzedeiras;
É acreditar em mau-olhado ou olho gordo;
É acreditar que plantas – como a espada de São Jorge – trazem o mal para dentro de casa;

É acreditar que tem um anãozinho atrás da porta;
É acreditar em duendes, fadas e gnomos;

É acreditar em despacho nas encruzilhadas;
É acreditar em bruxarias;

É acreditar no chá do Santo Daime;

É acreditar que visões ou audições de vozes são coisas do diabo;
É acreditar na cruz vazada;
É acreditar no poder do sal grosso ou da folha de arruda;
É acreditar que a água do rio Jordão ou que o óleo de Israel fazem milagres;
É acreditar no toque no manto santo;
É acreditar em descarrego;
É acreditar em toalhinhas ungidas;

É acreditar que Papai Noel existe.

Eu poderia encher páginas e mais páginas, mas acho que esses exemplos são suficientes para dar uma boa ideia da quantidade de ingenuidade, crendices e superstições que tanto atormentam os seres humanos ou que, como um verdadeiro placebo, até levam algum conforto para quem sofre ou mesmo, é possível, a cura para certas doenças.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 18 de agosto de 2013

Protestar contra o governo? Antes não, agora pode

“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus.

Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.

Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás o louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal.

Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência.

Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo.

Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.”          
                                                                                                                   Romanos 13.1-7

Eu vivi parte da minha infância, toda a minha adolescência e juventude e parte da minha vida adulta sob o regime da ditadura militar que se implantou no Brasil a partir de 1964.

Lembro-me muito bem que, evocando-se o texto acima, as pessoas eram compelidas, ou doutrinadas na igreja que eu frequentava, a não falar mal – ou, de modo mais ameno, protestar – contra o governo. Ademais, havia o medo de ser taxado de subversivo. Aí as coisas poderiam ficar complicadas.

Lembro-me também que havia uma certa aversão à política e as pessoas que por acaso se candidatavam a algum cargo eletivo só o faziam pelo partido que apoiava a ditadura, isto é, ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que, em 1980, foi sucedido pelo PDS (Partido Democrático Social).

Entretanto, o que é que alegavam naquela época? Que “... não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus”. Portanto, “... quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus...”. E os generais ditadores certamente foram ordenados por Deus.

Tempos depois, para nossa satisfação, as coisas mudaram e hoje os evangélicos podem se candidatar livremente. Acredito que quase todos os partidos, se não todos, contam com evangélicos em seus quadros.

Hoje, felizmente, nós vivemos em um regime democrático e qualquer pessoa pode falar mal e protestar contra o governo. Até dizer que a presidente Dilma é um anticristo – não “o” anticristo, obviamente –, como disse um conhecido pastor deste estado.

Todavia, o texto bíblico ainda é o mesmo. E por que agora se pode protestar contra o governo?  

Porque o mesmo texto – dizem os protestadores – ainda afirma que “... os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal”. E, como o governo atual, ele próprio – tal qual o anterior também –, está apoiando o mal, ao propor ou apoiar medidas que contrariam a Bíblia ou os pontos de vista dos cristãos, os protestos contra o governo hoje se justificam e são legítimos.

Acontece, no entanto, que a ditadura não só apoiava medidas que contrariavam a Bíblia. Ela própria executava ações que contrariavam a Bíblia. Afinal de contas, naquela época vários opositores do governo foram sequestrados, presos, torturados e muitos foram mortos ou desapareceram e até hoje os familiares não sabem onde estão seus corpos. Todavia, se alguém puder me provar que sequestrar, torturar, matar e sumir com corpos humanos está de acordo com a Bíblia, eu me calo e retiro este comentário do meu blog.

Bom, em qual contexto foi escrito o texto citado no início?

Pessoalmente, eu não vejo com muita simpatia essa prática de citar contexto histórico para interpretar certos textos bíblicos, pois muitos usam esse argumento para dar a interpretação que melhor lhes convêm. Alguns também costumam dizer “Porque no grego ou no hebraico ou no aramaico tal palavra quer dizer isso e aquilo” e mudam realmente o sentido do que está escrito em português.

Eu acho que, se a Bíblia é a palavra de Deus, não deveria de modo algum haver necessidade de se entender o contexto histórico nem de se recorrer a línguas antigas para interpretá-la, aliás, eu julgo que a Bíblia não deveria precisar de interpretação, mas ser clara e transparente para o entendimento de quaisquer pessoas, leigos ou doutores.   

Eu sou brasileiro, não falo grego nem hebraico ou aramaico. Então, para entender as doutrinas bíblicas eu preciso aprender tais idiomas em suas versões antigas?

Eu necessito ler a Palavra de Deus em meu idioma nativo exatamente como originalmente inspirada por Deus. E essa preocupação não cabe a mim, mas a Deus, seu autor e inspirador.

A Bíblia não é um livro comum escrito por um grande filósofo. Não é este o entendimento de todos os cristãos? Não foi Deus que a inspirou? Não teria Ele o poder de fazê-la perpassar intacta ao longo dos anos, conforme o original, inclusive nas suas traduções para os diversos idiomas?   

Eu entendo que, se Deus a inspirou e tem o controle de tudo, a Bíblia deveria estar escrita, em qualquer que seja o idioma, de modo tal que todos a lessem e a entendessem exatamente da mesma forma, sem necessidade de recorrer ao grego, hebraico, aramaico ou contexto histórico. Caso contrário, a compreensão da Bíblia em toda sua plenitude ficará reservada apenas aos grandes doutores, teólogos ou exegetas. Não ao homem comum, como este beócio semiaprendiz de escritor, que vos incomoda com este comentário elementar.

Foi só uma divagação. Voltemos ao contexto histórico.

O apóstolo Paulo escreveu a epístola aos romanos entre os anos 57 e 58 da era cristã, por ocasião da sua terceira viagem missionária. Ele estava visitando a cidade de Corinto quando a redigiu.

E quem era o imperador romano naquela época? O Sr. Lúcio Domício Enobarbo, mais conhecido como Nero Cláudio César Augusto Germânico, ou simplesmente Nero.       

Nero começou a governar no ano 54 da era cristã, aos dezesseis anos de idade, e seu reinado durou até o ano 68, quando suicidou-se após um golpe de estado, que teve, segundo os historiadores, o apoio do senado romano.

Dizem que os primeiros anos de seu reinado foi um período de boa administração. No entanto, segundo os historiadores, Nero envenenou seu meio-irmão, ou primo, Britânico em 55, ordenou o assassinato de sua mãe em 59, mandou matar sua primeira esposa Cláudia Octávia em 62, provocou com um pontapé a morte de sua outra esposa Popeia Sabina, que estava grávida, e promoveu uma cruel perseguição contra os cristãos.  

É verdade que a maior parte dos fatos relatados acima ocorreu depois que o apóstolo escreveu sua epístola, porém, como cidadão romano que era, certamente Paulo tinha conhecimento de que Nero não era um cidadão do bem. E ele escreveu esse ensinamento exatamente para os romanos que viviam diretamente sob o jugo de Nero.

Além disso, o Velho Testamento está repleto de líderes religiosos e políticos que foram ordenados por Deus, os quais cometeram deslizes gravíssimos e até crimes horrendos. Vou citar apenas quatro dos mais conhecidos e festejados: Abraão, Moisés, Josué e Davi. Hoje, se vivo fosse, com certeza Moisés seria julgado por crimes contra a humanidade. E certamente Paulo conhecia suas histórias muito bem.
  
Portanto, não me parece que Paulo quis dizer aos romanos que somente os magistrados do bem foram ordenados por Deus, mas todos. Ele foi claro e direto: “...e as [autoridades] que existem foram ordenadas por Deus.” As autoridades, por sua vez, devem fazer o bem, se não o fazem, aí é outra história. Vou usar a mesma argumentação ridícula que muita gente usa quando não quer se comprometer ao ouvir críticas a algum líder religioso que age de forma indevida: “Isso é com Deus, se Ele o colocou lá, a Ele cabe tomar providências”.

Se alguém ainda tem alguma dúvida acerca do que Paulo pretendeu ensinar aos romanos, leia Tt. 3.1,2. A epístola a Tito foi escrita possivelmente nos anos 65 ou 66, quando o apóstolo já sabia muito bem quem era Nero.  

Leia também Ex. 22.28; Ec. 10.20; At. 23.5; 1 Pd. 2.11-17.  

Podemos não concordar com Paulo, e, ao invés de tentar contornar uma situação que está clara na Bíblia, deveríamos ser mais honestos e afirmamos claramente: “Não concordo com Paulo, isso não se aplica aos nossos dias.” E este não é o único caso.

Para concluir e deixar clara minha opinião.

Devemos respeitar todas as autoridades, no entanto temos o direito e devemos protestar ou criticá-las quando suas atitudes agredirem a moral, a justiça e os direitos de todos os cidadãos, sejam tais autoridades de direita ou de esquerda, na democracia ou na ditadura – que alguns querem ver de volta ao Brasil, porém tomara que isso jamais aconteça –, quer sejam simpáticas ao cristianismo ou não, ou a quaisquer outras religiões.    

Saulo Alves de Oliveira 

sábado, 20 de julho de 2013

Por que não questionar a Bíblia?

Há alguns dias eu publiquei no Facebook um questionamento acerca de Israel. Eu fiz a seguinte pergunta: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo palestino?”

Uma colega fez um comentário – educado, ressalte-se – com o objetivo de esclarecer o meu questionamento.

Em seguida, eu fiz uma réplica contra-argumentando, também de modo respeitoso, obviamente. 

Então, a mesma colega fez a seguinte tréplica:

“Acreditar na palavra [de Deus] é uma questão de liberdade, coisa prioritária para cada pessoa. Aceitá-la é uma questão de fé. Criar situações para discussões que não edificam demonstra imaturidade cristã ou a perda da fé genuína. Coisa que nem um pouco atrai minha atenção. Portanto, cada um faça o que quiser da sua vida espiritual, sabendo eu que serei cobrada por tudo que digo, que faço, que falo ou escrevo. Não há como discutir, mesmo no bom sentido, quando os interesses e os fundamentos são diferentes.”

Na realidade, eu não criei uma situação para discussões. Não era esse meu propósito. Apenas externei um pensamento, o que é possibilitado e incentivado pelo Facebook. Alguns amigos deram suas opiniões, o que é e sempre será bem-vindo, mesmo discordando do que eu penso.

Se gerou uma discussão, ótimo. Qualquer discussão sem agressão pessoal e com respeito ao pensamento do outro, qualquer que seja o assunto, inclusive temas bíblicos, é saudável. Antes de ser imaturidade cristã, trata-se de maturidade intelectual e grandeza de espírito.

Quando os interesses e os fundamentos são iguais, aí sim é que não há como discutir. Se todos pensam da mesma forma, vai-se discutir o quê? Se eu digo que “pedra” é “pedra” e o meu interlocutor prontamente concorda, não há possibilidade nem necessidade de discussão.

Qualquer tema ou assunto em que não há consenso é passível de discussão ou de questionamento, inclusive a Bíblia. Se não fosse assim não haveria tantas igrejas com doutrinas tão divergentes todas com base na Bíblia.

E por que não questionar a Bíblia?


Parece-me que há pelo menos dois motivos para isto:

1. Primeiro, o medo de ser castigado por Deus por estar questionando sua Palavra.

Esta forma de pensar me parece própria de quem tem receio de questionar certos aspectos relacionados a Deus ou à Bíblia, porquanto tem medo de estar agredindo a sensibilidade ou a soberania do Criador, sendo, por conseguinte, passível de castigo.

Eu sei, não poucas pessoas pensam assim. E até compreendo quem ainda não ultrapassou este estágio espiritual e intelectual. Simplesmente não é nada fácil. Experiência própria. Foi necessário vencer anos e anos de doutrinação. Foram necessários muitos e muitos anos de observações, questionamentos e aprendizado.

Entretanto, pergunto: que Deus é este que não pode ser questionado racionalmente por mim ou por você, seres racionais?

Seria Deus um tirano ranzinza, atacado pela raiva, cheio de rancor e vingativo que não suporta ouvir questionamentos das suas criaturas sem castigá-las de imediato?

Eu também já pensei assim. Felizmente há muito tempo me livrei dessa concepção deturpada acerca de Deus.

2. Em segundo lugar, parece que há o medo de descobrir coisas que contrariam aquilo que aprendemos, ou seja, medo de descobrir verdades que contrariam certas “verdades” que foram incutidas nas nossas mentes desde criança.

Às vezes isso significa sentir-se só, sem ter a quem recorrer, sem uma tábua de salvação no sobe e desce das ondas do revolto mar da vida, com aquela assustadora sensação de falta de chão sob os pés, sabendo que nós somos os únicos responsáveis pelas escolhas que temos a fazer.

Eu também sei que não é nada fácil, dá medo mesmo, pois já passei por isso. E ainda passo, pra ser sincero. Mas felizmente as enfrentei e as enfrento ainda – “as verdades” – e hoje não tenho receio de ouvir quaisquer questionamentos referentes aos temas Bíblia, fé ou Deus, nem preconceito algum contra quem os faz, até mesmo colocando-me a mim próprio no lugar do promotor. Porém, respeito quem não se sente à vontade para fazê-lo.

Na realidade, é preciso despir-se de certas armaduras que nos foram impostas, especialmente quando crianças, que tolhem nossa liberdade de pensamento. “Dá medo só em pensar que certas coisas não são exatamente como nos ensinaram. Portanto, é melhor nem pensar”.

Lembro-me que ao fazer certos questionamentos, minha mãe sempre dizia: “Cuidado, meu filho, esse tipo de pergunta pode levá-lo a perder a fé”.

E eu sempre respondia: “Prefiro correr esse risco a não saber a Verdade”.

É preciso ter a mente aberta e não reduzir nossa fonte de conhecimentos à Bíblia.

É preciso não nos fecharmos para o mundo e observarmos o que acontece à nossa volta.

É preciso observar o que acontece dentro de nós mesmos, isto é, nossas próprias experiências, e não ter medo de tirar lições e nossas próprias conclusões.        

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 13 de julho de 2013

Mudar pelo voto, a saída racional

Nós mesmos, povo brasileiro, somos os únicos responsáveis pelos políticos que temos. 

Para mudar o país, não precisamos criminalizar a atividade política – base da Democracia –, como muitos estão fazendo. Precisamos mudar os políticos, e isso se faz pelo voto.

Criminalizar a atividade política é dar margem a que aventureiros, “salvadores da pátria”, se apresentem como solução única para todos os problemas do país, e isso geralmente implica em colapso das instituições democráticas, ou seja, é a saída preferida por aqueles que flertam com regimes ditatoriais.  

Somente essa conscientização poderá mudar o quadro político e a estrutura social do Brasil. É com protestos e reivindicações – sem arruaças e depredações – que o nosso país poderá mudar as condições sociais do povo brasileiro, mas, sobretudo, com conscientização política, que é votar com dignidade e não em troca de emprego ou porque fulano é meu irmão de fé.

Os políticos que estão aí fomos eu e você que escolhemos.

Aquele vereador que votou pelo aumento do seu já bom salário, foi você quem o escolheu.

O deputado que só vota favorável aos interesses do empresário que doou dinheiro para sua campanha, e não tem compromisso com as causas populares, foi você quem o elegeu.

Aquele prefeito que enriqueceu ilicitamente e depois se elegeu senador, foi conduzido ao parlamento pelo seu voto.

O governador que desviou recursos da educação e da saúde foi você quem o reelegeu.

Aquele vereador para quem você fez campanha, e ajudou a eleger só porque era membro do seu grupo religioso, ou porque prometeu arranjar emprego para seu irmão, e hoje está envolvido em escândalos, é responsabilidade sua.  

Portanto, nós também somos culpados se a política não vai bem em nosso país.

Se não cumprimos nossas obrigações como cidadãos, também somos tão culpados quanto os maus políticos que ajudamos a eleger. Falta de conscientização não se restringe simplesmente a votar mal.

Conscientização política também é não estacionar na vaga destinada a deficiente físico ou idoso. É não jogar aquela latinha de refrigerante na estrada. É não estacionar em lugares proibidos. É cumprir as leis de trânsito. E se, por acaso, for multado justamente, é não subornar o guarda para conseguir facilidades, é pagar o que a lei lhe impõe.

Conscientização política é devolver o troco recebido a mais. É respeitar a fila no supermercado ou em qualquer outro lugar. É não querer levar vantagem em tudo a qualquer preço.

Vamos, pois, começar mudando a nós mesmos para depois mudarmos a classe política em nosso país.

Está difícil mudar pelo voto? Sim, é verdade, mas há quanto tempo nós o estamos exercitando? Há menos de trinta anos. Com certeza vivemos um aprendizado pelo qual temos de passar, isto é, de erros e acertos, até chegarmos a um estágio mais avançado de conscientização.   

É o preço que temos de pagar para não termos usurpado o nosso direito de escolher livremente os governantes que queremos.

Eu não aceito que ninguém me diga em quem devo votar, para o bem ou para o mal. Digo para o mal, pois também posso me equivocar. Tenho idade e consciência suficientes para não ser tutelado por ninguém.

Só há duas saídas: o voto ou a ditadura. Quanto a esta, eu digo: livre-nos Deus. A Democracia é um regime imperfeito, cheio de falhas, mas ainda não inventaram nada melhor para colocar em seu lugar. Numa ditadura, talvez nem essas ideias eu pudesse estar elaborando publicamente.

Possivelmente a essa altura das manifestações, os militares já estivessem nas ruas para reprimi-las. Com certeza as críticas que são feitas ao governo, no próprio Facebook, ou em outro qualquer meio de comunicação, às vezes de forma deselegante e com inverdades, não seriam toleradas.

E para os que flertam com a ditadura, eu faço o seguinte desafio: deem-me um exemplo, um sequer, de uma grande nação, onde o povo tem boas condições de vida, no que diz respeito a educação, saúde, transporte, segurança ou outros indicadores sociais, na qual os cidadãos não têm o direito de escolher seus próprios governantes.

Saulo Alves de Oliveira