sábado, 2 de março de 2019

Se em cada cem apenas um despertar, terá valido a pena

Por Saulo Alves de Oliveira

As leis da física e da química e os conhecimentos de engenharia são aceitos em todo o mundo, independentemente de raça, credo, cultura, sistema político, forma de governo, política econômica, etc. Por quê? Porque funcionam igualmente aqui e em qualquer outro lugar do planeta.

- Energia = m.c²; *

- Força = m.a; *

- Fgravidade = G (M1.M2/d²); *

- “Na Natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”;

- “O Sol, como as demais estrelas, é um corpo celeste formado por hidrogênio e hélio”;

- “Todos os elementos químicos, inclusive os que compõem os nossos corpos, são formados nos últimos estágios da vida de uma estrela”.

Tais leis ou descobertas são aceitas em todo o mundo sem questionamentos. Até outras Teorias como o Evolucionismo e o Big Bang são aceitas pela grande maioria dos cientistas, em todo o mundo, como as melhores explicações para a evolução da vida na Terra e a origem do Universo.

Os conhecimentos de engenharia que se usam no Brasil para construir grandes obras – por exemplo, uma grande hidrelétrica ou uma grande ponte – são os mesmos utilizados em qualquer parte do mundo.

Um conhecimento científico ou uma teoria científica podem mudar? Sim, desde que sejam apresentadas evidências que contrariem o que está estabelecido. Não há verdades absolutas em ciência. Há décadas houve uma grande discussão entre os cientistas que defendiam um Universo estacionário, eterno e imutável, e os que defendiam um Universo com início no Big Bang. O próprio Einstein, pelo menos no início, defendia a primeira ideia. A segunda teoria, entretanto, depois de intensos debates, foi a vencedora, pois todas as evidências apontavam para o Big Bang.

Para propor qualquer mudança em temas relacionados à ciência, são necessários, via de regra, uma formação acadêmica bastante sólida e muita pesquisa, o que, infelizmente, não é o meu caso. Portanto, eu não tenho conhecimentos científicos para questionar uma lei da física ou química ou mesmo da engenharia.

Lamentavelmente, porém, não se pode dizer o mesmo dos conhecimentos relacionados à religião, a Deus e à fé. Esses não são temas aceitos pacificamente e sem questionamentos no mundo. Pelo contrário. Quantas religiões há na Terra? Talvez centenas ou milhares. Quantos livros sagrados? Muitos. Nem mesmo os cristãos se entendem quanto à interpretação da Bíblia. Veja quantos desentendimentos há em uma só denominação evangélica!

Apenas três exemplos de divergência de interpretação, usando a mesma Bíblia: a guarda do sábado, a doutrina da Trindade e a predestinação/livre arbítrio.

Eu nasci ouvindo falar de religião, de Deus e de fé. E posso dizer que vivi toda a minha vida em um contexto que girava em torno desses temas. No entanto, cada grupo religioso trata desses temas segundo suas interpretações e suas conveniências. E essa subjetividade sempre me incomodou, e muito, sobretudo quanto à interpretação do caminho que leva a Deus.

Você pode estar pensando: “Mas, Saulo, Jesus disse ‘Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; e ninguém vem ao Pai, se não for por mim’”. É comum alguém alegar: mas Jesus reivindicou para si sua divindade, isto é, que Ele é o próprio Deus e, em várias declarações, a Bíblia se autodenomina Palavra de Deus. Isso é suficiente para comprovar a divindade de Jesus e a autenticidade da Bíblia como Palavra de Deus? Absolutamente, não!

Acontece que isso é uma verdade apenas para 1/3 do mundo, que é cristão, e nas suas mais divergentes visões doutrinárias. O restante do mundo nem sequer aceita que Jesus é o Filho de Deus, inclusive os judeus, tão defendidos pelos protestantes evangélicos como um povo especial. Eles nem ao menos aceitam toda a Bíblia como Palavra de Deus.

Espera aí! Os cristãos reverenciam de modo todo especial os judeus e eles nem ao menos aceitam o Mestre dos cristãos como o Messias prometido por Deus? Sim!

E tudo isso para mim sempre foi um problema muito sério.

Mesmo sem ser um grande conhecedor das Escrituras, um exegeta, ou teólogo, eu sou um ser pensante, que tem um mínimo de conhecimento e alguma capacidade crítica. Apesar de não estar muito acima da mediocridade, ainda assim isso me faz refletir sobre questões que eu jugo perturbadoras no tocante à fé, às Escrituras e a Deus.

Portanto, apesar da minha mediocridade, e tendo em vista que esses temas não são uma unanimidade em todo o mundo, eu me atrevo a questioná-los. Estou certo? Não sei. Talvez nem sempre, ou, quem sabe, nunca. 

Quem sabe o meu erro seja compartilhar com outras pessoas aquilo que de certa forma lhes incomoda – e em certa medida a mim também –, temas que alguns preferem nem pensar, justamente porque causam dúvidas, temores e incertezas. E muitos religiosos preferem esconder seus medos nas certezas, ao invés de procurar respostas para suas dúvidas.

Entretanto, na minha ótica, são as dúvidas, as perguntas, que mudam o mundo, não exatamente as respostas e as certezas, pois é através daquelas que se chega a grandes descobertas.

Para finalizar, eu não acho que seja mais fácil incutir dúvidas do que ensinar a fé. O mundo todo está aí para comprovar. A grande maioria da população mundial, e do Brasil em particular, tem algum tipo de fé. Não necessariamente a mesma fé. Fé em Jesus, fé em Alá, fé em Buda, fé em Shiva, fé nos espíritos, fé em Maria “mãe de Deus”, fé nos passes e nos despachos, etc. Fruto da doutrinação que sofrem, ou sofreram, sobretudo quando crianças.

Apenas uma pequena parcela é formada pelos céticos, ou pelos que duvidam, ou que apenas buscam explicação para os “mistérios” (?) da vida.                

Na realidade, o que eu gostaria mesmo é de incentivar as pessoas a pensar e a questionar, e não simplesmente aceitar pacificamente como verdade absoluta o que as “autoridades” nos ensinaram. Não sei se estou conseguindo. Talvez, ao contrário disso, esteja perdendo amizades e, quem sabe, sendo visto como um herege.

Quem sabe esse seja o preço a pagar.

Se em cada cem apenas um despertar para a realidade, terá valido a pena.

* m  = massa
   c   = velocidade da luz
   a   = aceleração
   G  = constante gravitacional
   M1 = massa do corpo 1
   M2 = massa do corpo 2
   d    = distância entre os corpos