quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A realidade é outra

Às vezes me parece que algumas pessoas vivem em um mundo irreal, de fantasias mesmo. Para elas, talvez seja melhor assim. Eu até entendo, pois do contrário faltar-lhes-ia chão para enfrentar as dificuldades da vida.

Certas pessoas vivem divulgando clichês do tipo “Hoje é o dia da tua vitória” ou “Jesus manda te dizer isso e aquilo”, os quais nada mais são do que autoajuda para si e para os outros. Na realidade, Jesus não mandou dizer coisa alguma. É só um clichê de autoconvencimento.

Alguns usam até versículos bíblicos como uma espécie de amuleto que os “protege” de todo o mal.

São, talvez, sem o saber, adeptos do pensamento positivo ou da confissão positiva, que, pelo efeito placebo – não descarto a possibilidade –, têm algum valor para ajudá-las a superar as adversidades, próprias da vida humana.

Quer exemplo melhor do que a Bíblia aberta no salmo 91?

A Bíblia aberta ou fechada é a mesma coisa. Exceto, no primeiro caso, como motivador da autosugestão.

A realidade, no entanto, é totalmente diferente.

Lamentavelmente, parece que muitas pessoas não percebem – ou seria melhor dizer: fazem questão de não saber? – que o que acontece aos lá de fora acontece a elas também. Para este aprendiz na arte de viver, essa falta de percepção deve estar mais para um autoengano.

Os do “mundo” morrem de câncer, de acidentes, ou são curados? Os crentes também. Os lá de fora perdem o emprego, têm dificuldades financeiras, ou têm sucesso? Os de dentro também. Os de lá têm seus problemas – depressão, tristeza, sofrimento – ou alegrias? Os de cá também têm.    

Eu tenho plena consciência de que não sou melhor do que ninguém e também tenho os meus medos, meus anseios, meus problemas, todavia procuro encará-los de forma diferente. Não acho que Deus vai resolvê-los. Nem me apego a versículos ou profecias genéricas, que se aplicam a qualquer pessoa. Prefiro mais as palavras de Jesus: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” – Mt. 6:34. Isso, porém, não quer dizer que eu não me inquiete. Na realidade, às vezes eu me inquieto e muito pelo dia de amanhã. Não consigo colocar as palavras de Jesus em prática, mas eu sei que “basta a cada dia o seu mal”, e que o mal é algo natural ao ser humano.

Certa vez uma amiga disse o seguinte: “Deus quer proteger o seu povo de todo mal e cuidar por completo das suas vidas”. Sinceramente, eu não sei como alguém pode chegar a essa conclusão quando o dia a dia nos mostra outra realidade.

Sempre que leio palavras semelhantes, eu me faço algumas perguntas, como esta, por exemplo. Se Deus quer proteger o seu povo de todo mal e cuidar por completo das suas vidas, por que parece que em algumas situações Ele retira essa proteção e esse cuidado?

Vou citar apenas três casos que se adaptam perfeitamente ao questionamento que estou fazendo. Sei que existem muitos e muitos mais. E certamente você os conhece.

Em 1976, dois jovens cantores evangélicos, Otoniel e Oziel, que voltavam de uma cruzada evangelística, morreram tragicamente em um acidente automobilístico.

Em 1989, minha sogra, Glorinha Macedo, com apenas 51 anos, uma mulher de fé, morreu vítima de um câncer fulminante.

Em 1998, o pastor João Gomes, com apenas 62 anos, foi vítima de um trágico acidente de carro que lhe tirou a vida.

Por que Deus deixou de protegê-los de todo o mal naquelas circunstâncias? 

Porque esse é o mundo real, sem fantasias, ao qual todos nós estamos sujeitos. Com ou sem fé. Com ou sem clichês. Com ou sem o Salmo 91.

A realidade é totalmente diferente do que muitos pensam ou querem acreditar.

A não ser que se entenda que Deus estava protegendo aquelas pessoas de todo o mal ceifando-lhes a vida de forma tão trágica. Quem sabe você acredita assim.

Saulo Alves de Oliveira

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Dor na alma

É muito triste, mas muito triste mesmo ver alguém definhando há meses e, agora, totalmente dependente dos outros em cima de uma cama. E o pior: não podemos fazer coisa alguma com absoluta segurança que possa reverter o quadro. Vamos até onde os recursos da medicina, à nossa disposição, permitem.

E quando essa pessoa é alguém que amamos de forma especial, como o nosso Pai, o caso toma outra dimensão. Só quem sabe avaliar é quem já viveu situação similar.

Em não acredito em desígnio, nem mesmo de Deus. Acredito em processos naturais que, como sempre afirmei, me parecem cruéis. Na realidade, a natureza não é boa nem má, porém simplesmente indiferente à dor de qualquer ser vivo. Ela não se comove ao deixar órfã uma criança que depende totalmente dos seus pais e também nada sente ao ceifar a vida daqueles que nos trouxeram ao mundo, deixando-nos tristes e desolados. Ela cumpre suas leis de forma inexorável.

Para mim não há consolo, pois estou profundamente triste e desolado. Há momentos em que dói mesmo lá dentro da alma.

Todavia, tenho certeza de uma coisa: estarei sempre ao lado do marinheiro Sebastião Alves, meu Pai, em todos os momentos dessa jornada tão dura para mim, meus irmãos e irmãs.        

Saulo Alves de Oliveira