domingo, 22 de maio de 2011

A morte de Bin Laden




“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.”

Albert Einstein (1879 - 1955)






11 de Setembro de 2001. Radicais islâmicos atacam os Estados Unidos e destroem um dos maiores símbolos do poderio econômico norte-americano: o World Trade Center. Numa operação inédita, os terroristas projetam dois aviões contra as chamadas Torres Gêmeas, de cerca de 417 metros de altura, cada uma, imolando-se a si próprios – tais quais camicases da 2ª Guerra Mundial – e matando de imediato todos os passageiros e as tripulações dos aviões.

Minutos após os impactos, as duas torres desabam e formam um amontoado de concreto, aço, móveis, objetos pessoais, corpos humanos... Centenas e centenas de pessoas inocentes, inclusive de outras nacionalidades, sucumbem ao atentado. Número oficial de mortos: 2819 pessoas. Uma verdadeira demonstração da insanidade humana. Em duas palavras: uma barbárie.     

O então Presidente norte-americano, George W. Bush, cristão metodista, se autoproclama enviado de Deus e inicia uma “cruzada” moderna de caça ao grupo terrorista que perpetrou o atentado, presumivelmente chefiado pelo saudita Osama bin Laden. O Sr. Bush, porém, não conseguiu seu principal objetivo, isto é, matar Bin Laden.   

01 de Maio de 2011. Agentes especiais norte-americanos, provavelmente todos cristãos – será que eles oraram quando saíram para a operação? –, invadem secretamente o Paquistão, sem autorização do governo daquele país. Em seguida, invadem uma casa na cidade de Abbottabad e matam o famoso – para o mundo ocidental, principalmente – terrorista, Osama bin Laden; para muitos muçulmanos, um herói. O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama – cristão evangélico e Nobel da Paz (?) –, que autorizou a operação, vai à TV e anuncia: “...justiça está sendo feita”.

Será mesmo justiça? Então, o que é justiça?

Não sou um homem afeito às leis, entretanto me parece que fazer justiça seria prendê-lo, apurar a verdade, julgá-lo e condená-lo, se comprovada a sua culpa. Um comando super treinado, armado com o que há de mais moderno, que executa com um tiro na cabeça um homem desarmado, está mais para vingança ou desforra, incompatível com a fé que o Sr. Obama e a grande maioria dos norte-americanos professam. Parece que em questões de estado não se dá a outra face, tal qual preconizou Jesus. Parece que o que vale mesmo é o “olho por olho, dente por dente... golpe por golpe”, de Moisés. Ou eu estou sendo ingênuo?
        
Todavia, minha ingenuidade, ou hipocrisia, não chega ao ponto de admitir que o ser humano jamais pense em fazer justiça com as próprias mãos. Quiçá eu mesmo, passando por situação semelhante, tivesse esse sentimento tão selvagem, mas humano, demasiadamente humano. Resquícios da fera que nós fomos um dia? Talvez!

Lembram-se do menino João Hélio, que foi barbaramente assassinado no dia 07 de fevereiro de 2007? Um dos assaltantes arrancou com o veículo em alta velocidade tendo o garoto preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do carro. O garoto foi arrastado por sete quilômetros e pedaços do seu pequeno corpo foram arrancados pelo choque com o asfalto. Ao final do trajeto, o corpo do menino estava totalmente irreconhecível. No primeiro momento, seria compreensível se os pais desejassem vingar a morte do filho? Responda para você mesmo. Mas, entre o desejar e o executar, há uma enorme distância.

Que haja sentimentos de vingança em cidadãos comuns, é compreensível, porém em uma instituição, como é o governo dos Estados Unidos, é inaceitável. O que há por trás de tudo isso?

Quando vi na televisão o povo norte-americano vibrando por causa da morte de Bin Laden, jovens batendo no peito e gritando U-S-A! U-S-A! U-S-A!, eu me lembrei das imagens dos povos árabes/muçulmanos vibrando nas ruas de suas cidades quando homens-bomba se autoexplodem e levam consigo dezenas de pessoas inocentes no ocidente ou em Israel. Isso me faz temer pelo futuro da humanidade. E as palavras de Einstein, citadas no início da página, ecoam nos meus ouvidos.     

Há justificativas para ações terroristas que destroem vidas humanas inocentes? A resposta é um retumbante “não”.

Há explicação para ações como as executadas por grupos radicais muçulmanos? Sim. No entanto, acho que não há somente uma explicação. São conseqüência de anos de opressão, do imperialismo, da condescendência das nações ricas com regimes que oprimem o povo, enquanto os interesses daquelas não são contrariados. Acrescente-se a isso o fanatismo religioso levado ao extremo e estará pronto o caldo explosivo que poderá levar a humanidade à destruição.

O mundo está mais seguro sem Osama bin Laden?  Obviamente, não.

O mundo só estará mais seguro quando a questão da Palestina estiver resolvida e houver mais justiça entre as nações. O mundo só estará mais seguro quando as nações ricas fizerem às nações pobres apenas aquilo que querem que os outros lhes façam.

Enquanto interesses subalternos das grandes corporações – leia-se ambição desmedida pelo petróleo, venda de armas... – se sobrepuserem aos interesses dos povos, não existirá segurança na Terra, pois sempre haverá aqueles que se revoltarão contra a opressão, valendo-se, lamentavelmente, dos meios mais bárbaros e vis possíveis.

Enquanto religião, cultura, cor da pele, classe social, riqueza... forem parâmetros para grupos ultra-radicais se julgarem superiores e melhores que outros povos, não haverá paz na Terra. 

O terrorismo não acabou e talvez jamais acabe, enquanto perdurar o “status quo” das nações ricas, tendo à frente o Tio Sam.

Eu escrevi o texto “Pálido Ponto Azul” – você poderá lê-lo logo abaixo – uns dois meses antes dos acontecimentos recentes. Ele tem tudo a ver com o que estamos comentando. A Terra é tão pequena na vastidão do Universo e totalmente sujeita aos caprichos da natureza. Basta-nos ser atingidos por um cometa ou asteróide como o que atingiu a Terra há cerca de 65 milhões de anos e destruiu os dinossauros. E todos os animais superiores que habitam este planeta poderão ser extintos, inclusive os seres humanos.

Será que já não bastam os terremotos, tsunamis, chuvas torrenciais, deslizamentos de terra, vulcões, secas e tantos outros predadores naturais, que muitas vezes ceifam centenas de milhares de vidas? Não precisamos de mais um predador do homem: o próprio homem.          

Saulo Alves de Oliveira