sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Referencial bruxuleante. Será que vai apagar?

A propósito de recentes notícias acerca de Cuba, este foi um dos comentários que eu li na internet:
“Ah, mas nossa presidenta fez uma doação generosa à ditadura cubana, para a construção do bem equipado porto de Mariel! Como ela é generosa, com nosso dinheiro!”
As palavras acima são de autoria de alguém que já foi um referencial em minha vida, especialmente na minha juventude e parte da vida adulta.

Todos sabemos, pelo menos quem se mantém minimamente informado, que o Brasil não fez doação alguma a Cuba e sim um empréstimo, via BNDES, para construção de um moderno porto naquele país. E, segundo alguns especialistas, é um bom negócio para o Brasil.

Veja aqui entrevista com o diretor da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo –, Thomaz Zanotto, acerca do tema. Veja também, no mesmo site, a opinião da polêmica jornalista Rachel Sheherazade.

Dessa forma, não sei qual a intenção do autor da frase, já que se trata de uma pessoa bem esclarecida, que tem formação profissional exatamente nessa área.

Pela posição que o autor da frase ocupa na sociedade, essa atitude é extremamente lamentável, haja vista que muitas pessoas desavisadas poderão repercutir suas palavras como uma verdade inquestionável. 

Para mim, portanto, é profundamente decepcionante mesmo, pois, apesar de não concordar com algumas de suas opiniões políticas, eu sempre o tive em alta conta e respeito.     

Todos temos pessoas que foram ou são nossos referenciais. Nossos pais, um professor, um amigo, um pastor, um padre, um escritor, etc.

É lamentável quando alguém que já foi nosso referencial tem uma postura questionável ou escreve algo que, pelo seu conteúdo implausível, nos decepciona.

Quando tal pessoa divulga algo que a gente sabe que essa pessoa sabe que não é verdade, pelo seu nível intelectual e pela sua formação profissional, aí a coisa toma uma dimensão muito mais grave.

É muito comum pessoas inescrupulosas divulgarem na internet notícias ou opiniões que não são verdadeiras, muitas vezes difamando “desafetos” ou mesmo instituições. E isso causa um prejuízo enorme ao difamado, especialmente quando divulgado por alguém que tem dezenas, centenas ou até milhares de discípulos, e estes têm aquele referencial como uma personalidade cujas palavras são a expressão da verdade.

É o que nós podemos chamar de “testemunho de autoridade”. “A autoridade falou, quem sou eu para questionar?” Felizmente, eu já ultrapassei essa etapa intelectual primária há muito tempo. Para mim, não há quem não possa ser questionado, em qualquer área do conhecimento humano, da ciência à religião.  

Quando afirmações sem consistência procedem de pessoas precipitadas, despreparadas ou mal intencionadas mesmo, nós podemos até pensar: dessa mente deformada ou, quem sabe, que recebeu algum tipo de lavagem cerebral, só pode sair isso mesmo. Porém, quando vem de alguém que já foi nosso referencial, com todo o preparo intelectual que sabemos que tem, é profundamente lamentável.

Não tenham dúvidas, só nos cabe uma alternativa: rever o que ainda nos resta dos referenciais relacionados àquela pessoa.

Saulo Alves de Oliveira