domingo, 6 de agosto de 2017

Um dia a vítima pode ser você

Por Saulo Alves de Oliveira

Há dias eu vi uma cena que me chocou. Policiais atiraram em dois rapazes -  criminosos, não se pode negar -, caídos no chão, matando-os.

Uma coisa é o policial matar um bandido ou criminoso em um confronto, quando sua vida e a dos seus iguais estão em perigo. O bom policial tem todo o meu apoio. Outra coisa bem diferente é esse mesmo policial matar friamente alguém ferido, caído no chão, que não oferece nenhuma resistência, ainda que seja um bandido. Isso é a decadência moral da civilização, que, ao invés de avançar, regride. Não cabe ao policial fazer “justiça” com as próprias mãos.

O policial que age assim está no mesmo nível moral daquele que ele acaba de eliminar. Eu acrescentaria: na realidade tal policial está em um patamar moral abaixo do bandido, pois ele é um agente do Estado e da lei e a ele cabe cumprir rigorosamente a lei.

O policial que mata um bandido desarmado, dominado e deitado no chão é um bandido policial, ou melhor, é um bandido pior do que o bandido morto. A diferença entre este e aquele é que aquele faz o mal usando a própria roupa e as armas que recebe do Estado para combater o mal.

O Estado que não impede que isso aconteça ou pelo menos não pune o bandido policial é um Estado bandido.

Lamentavelmente, ainda há alguns "filhos" de Deus, que se autodenominam cidadãos dos céus, povo especial, cheios do amor de Cristo (sic) que louvam e vibram com a atitude de bandidos policiais. Isso é a demonstração de algo que eu venho observando há algum tempo: ter uma religião, qualquer que seja ela, não é condição “sine qua non” para ter um caráter moral elevado.

Imagine seu parente ou você mesmo, isto é, você que louva a atitude dos maus policiais, ser abordado por um bandido policial que lhe tem, por engano, como suspeito, de preferência longe da vista de outras pessoas!

O policial que é capaz de matar um bandido caído no chão, rendido, também é capaz de tratar você, dependendo das circunstâncias, com violência e sem o menor respeito ou, quem sabe, chegar ao clímax da violência contra um ser humano.

O policial que age dessa forma se achará no direito - dependendo do julgamento pessoal que ele fizer de uma determinada situação - de fazer o mesmo com qualquer cidadão do bem.    

Portanto, pense bem antes de elogiar um mau policial, isto é, aquele que extrapola criminosamente os limites das suas funções. Um dia a vítima pode ser você.