Às vezes me parece que algumas
pessoas vivem em um mundo irreal, de fantasias mesmo. Para elas, talvez seja
melhor assim. Eu até entendo, pois do contrário faltar-lhes-ia chão para
enfrentar as dificuldades da vida.
Certas pessoas vivem divulgando clichês
do tipo “Hoje é o dia da tua vitória” ou “Jesus manda te dizer isso e aquilo”,
os quais nada mais são do que autoajuda para si e para os outros. Na realidade,
Jesus não mandou dizer coisa alguma. É só um clichê de autoconvencimento.
Alguns usam até versículos
bíblicos como uma espécie de amuleto que os “protege” de todo o mal.
São, talvez, sem o saber, adeptos
do pensamento positivo ou da confissão positiva, que, pelo efeito placebo – não
descarto a possibilidade –, têm algum valor para ajudá-las a superar as adversidades, próprias da vida humana.
Quer exemplo melhor do que a
Bíblia aberta no salmo 91?
A Bíblia aberta ou fechada é a
mesma coisa. Exceto, no primeiro caso, como motivador da autosugestão.
A realidade, no entanto, é
totalmente diferente.
Lamentavelmente, parece que
muitas pessoas não percebem – ou seria melhor dizer: fazem questão de não
saber? – que o que acontece aos lá de fora acontece a elas também. Para este
aprendiz na arte de viver, essa falta de percepção deve estar mais para um autoengano.
Os do “mundo” morrem de câncer,
de acidentes, ou são curados? Os crentes também. Os lá de fora perdem o
emprego, têm dificuldades financeiras, ou têm sucesso? Os de dentro também. Os
de lá têm seus problemas – depressão, tristeza, sofrimento – ou alegrias? Os de
cá também têm.
Eu
tenho plena consciência de que não sou melhor do que ninguém e também tenho os
meus medos, meus anseios, meus problemas, todavia procuro encará-los de forma
diferente. Não acho que Deus vai resolvê-los. Nem me apego a versículos ou
profecias genéricas, que se aplicam a qualquer pessoa. Prefiro mais as palavras
de Jesus: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” – Mt. 6:34. Isso, porém, não
quer dizer que eu não me inquiete. Na realidade, às vezes eu me inquieto e
muito pelo dia de amanhã. Não consigo colocar as palavras de Jesus em prática,
mas eu sei que “basta a cada dia o seu mal”, e que o mal é algo natural ao ser
humano.
Certa vez uma amiga disse o
seguinte: “Deus quer proteger o seu povo de todo mal e cuidar por completo das suas vidas”. Sinceramente, eu
não sei como alguém pode chegar a essa conclusão quando o dia a dia nos mostra
outra realidade.
Sempre que leio palavras semelhantes,
eu me faço algumas perguntas, como esta, por exemplo. Se Deus quer proteger
o seu povo de todo mal e cuidar por completo das
suas vidas, por que parece que em algumas situações Ele retira essa proteção e
esse cuidado?
Vou citar
apenas três casos que se adaptam perfeitamente ao questionamento que estou
fazendo. Sei que existem muitos e muitos mais. E certamente você os conhece.
Em 1976,
dois jovens cantores evangélicos, Otoniel e Oziel, que voltavam de uma cruzada
evangelística, morreram tragicamente em um acidente automobilístico.
Em 1989,
minha sogra, Glorinha Macedo, com apenas 51 anos, uma mulher de fé, morreu
vítima de um câncer fulminante.
Em 1998,
o pastor João Gomes, com apenas 62 anos, foi vítima de um trágico acidente de
carro que lhe tirou a vida.
Por que
Deus deixou de protegê-los de todo o mal naquelas circunstâncias?
Porque esse é o mundo real, sem
fantasias, ao qual todos nós estamos sujeitos. Com ou sem fé. Com ou sem
clichês. Com ou sem o Salmo 91.
A realidade é totalmente diferente
do que muitos pensam ou querem acreditar.
A não ser que se entenda que Deus
estava protegendo aquelas pessoas de todo o mal ceifando-lhes a vida de forma
tão trágica. Quem sabe você acredita assim.
Saulo Alves de Oliveira