Eu nunca entendi certas atitudes de Jesus.
Alguém pode até afirmar: “É
porque você não tem fé”; ou “É porque você não tem intimidade com o Espírito
Santo para compreender a Palavra de Deus”; ou “É porque você ainda não conhece
a Deus em profundidade ou não está receptivo a Sua voz”; ou “Deus é soberano e
faz o que Ele quer e não deve satisfação a ninguém”; ou ainda, quem sabe,
qualquer outra justificativa similar ou mais contundente.
Bem, pode ser, mas vamos ao caso.
Em Mc. 5.1-20 está registrada a
história do endemoninhado gadareno,
ou geraseno. O homem é identificado como gadareno certamente porque era da
cidade de Gadara, localizada no que é hoje o território da Jordânia, país
vizinho a Israel. Gadara ficava a cerca de oito quilômetros do rio Jordão e a
quase dez quilômetros do mar da Galiléia. Hoje, sobre o sítio das ruínas da
antiga Gadara, está localizada a cidade jordaniana de Umm Qais.
Não vou contar toda a história. Vou
direto ao ponto que quero ressaltar.
Ao encontrar o homem possesso,
Jesus expulsou os demônios que o atormentavam havia muito tempo. Eram muitos os
espíritos maus, pois, quando Jesus perguntou pelo seu nome, ele respondeu:
“Legião é o meu nome, porque somos muitos”.
Nesse episódio, entretanto, há
uma atitude de Jesus que me incomoda há muito tempo. Ao invés de mandá-los para
as profundezas do inferno ou para outro lugar qualquer, ou, quem sabe, destruí-los,
Jesus os mandou para uma manada de porcos que pastava nas proximidades – cerca
de 2.000 animais. Atordoados, os animais caíram no mar e todos morreram
afogados.
Será que a atitude de Jesus deveu-se
ao fato dos porcos naquela época, segundo a Lei Mosaica, serem considerados
animais imundos? Se é assim, que culpa tinham aqueles animais da sua imundície?
Eles não fizeram a si próprios.
Eles foram “criados” da mesma forma que qualquer outro animal. Do ponto de
vista dos porcos, eles viviam de forma natural como qualquer outro animal e
tinham o comportamento que a própria natureza lhes determinou. Os porcos não
tinham consciência do fato “sou um animal imundo”.
Depois que os porcos morreram, os
espíritos imundos continuaram existindo ou desapareceram?
Se continuaram existindo, de nada
adiantou sua morte. Jesus poderia ter evitado esse sacrifício inútil simplesmente
mandando os espíritos maus para qualquer outro lugar, desde que não fossem
corpos de seres vivos.
Se com a morte dos porcos os
demônios foram extintos, Jesus também poderia ter evitado o sacrifício dos
animais. Bastaria tão somente que, com o poder da sua palavra – não foi
exatamente isso que aconteceu? –, Ele destruísse todos os espíritos maus que
atormentavam o gadareno. E deixasse os pobres animais seguirem o ciclo de vida
que a natureza lhes reservou. Simplesmente foge à minha percepção a necessidade
de matá-los.
Como já disse, até hoje nunca
entendi essa atitude de Jesus.
Saulo Alves de Oliveira