Por Saulo Alves de Oliveira
Há pessoas que defendem rígida obediência a certos
princípios quando o desrespeito a tais princípios as atinge. Entretanto, quando
atinge a outros, especialmente seus desafetos, os princípios se diluem como um
pingo de tinta no oceano da desfaçatez humana.
Para ilustrar, vou citar uma possível situação que
– se não vivenciei na prática, ouvi rumores e também ouvi ensinamentos a
respeito – é totalmente factível.
Um pastor regional, ou mesmo um pastor de uma
igreja local, jamais aceitaria que um presbítero ou um pastor subordinado
desrespeitasse sua autoridade, mesmo que, eventualmente, o pastor de maior
hierarquia estivesse errado. E eu tenho certeza absoluta que este lançaria mão
de várias referências bíblicas para repelir a atitude do subordinado. Não falo
de padres e bispos católicos porque essa não é a minha experiência religiosa,
mas acredito que não deva ser muito diferente.
(Certa vez ouvi um pastor famoso no Brasil
dizer que ninguém deve confrontar seu pastor, mesmo que este seja um ladrão
(sic). E segue uma ameaça: “Meu irmão, não se mete nisso não!” É claro que isso
é uma forma de amedrontar e controlar as mentes de muitas ovelhinhas. As tolas,
evidentemente. E dá um bom retorno, financeiro, é claro.)
Entretanto, quando, em outra circunstância da
vida, um subordinado desrespeita a autoridade do seu superior hierárquico, e
aquele subordinado, segundo especialistas, não tem nem sequer competência para
interferir no caso na fase em que se encontra, não sendo nem ao menos o
responsável pela administração daquela situação, o subordinado é largamente
elogiado por tais pessoas. E pasmem: o elemento extrapolou sua competência, se
insubordinou, e é tido como herói.
(O interessante é que algumas dessas pessoas,
no passado, já me serviram de paradigma.)
Tal fato não me surpreende mais. Antes eu
ficaria angustiado, pois não foi assim que me ensinaram nos bancos da igreja.
Atualmente, porém, tal situação me parece totalmente normal – normal aqui não é
sinônimo de correção –, porquanto eu aprendi, ao longo dos anos, que o ser
humano é exatamente isso, “dois pesos e
duas medidas” ou “os fins justificam
os meios”, não importam o seu grupo social e sua posição dentro desse grupo
social.
Isso me faz ligar o meu scanner e me visualizar
por inteiro. Portanto, tenho que me policiar, o que é nada fácil, para não me
deixar contaminar com os dois conceitos em destaque acima, considerando que também
sou um ser humano.
Há um pastor, por quem eu tinha muito respeito
e admiração, que a cada dia me decepciona mais e mais. Suas posições, no
entanto, hoje não me surpreendem mais. Ele elogia o Sr. Moro que desrespeitou a
autoridade de um superior hierárquico, o Desembargador Favreto, quando, segundo
especialistas, o Sr. Moro não tinha nenhuma competência para interferir no caso
na fase em que estava, inclusive ele não é o juiz responsável pela
administração da prisão do Lula. Eu gostaria muito de saber qual seria sua
atitude se um presbítero ou um pastor subordinado desrespeitasse sua autoridade
ou a autoridade, por exemplo, de um pastor regional, mesmo que, eventualmente,
ele ou o pastor regional estivessem errados.
* “Bypass”
é uma palavra inglesa que quer dizer ignorar ou passar por cima de. Aqui é
usada no sentido de ignorar ou passar por cima da autoridade do superior