sábado, 20 de julho de 2013

Por que não questionar a Bíblia?

Há alguns dias eu publiquei no Facebook um questionamento acerca de Israel. Eu fiz a seguinte pergunta: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo palestino?”

Uma colega fez um comentário – educado, ressalte-se – com o objetivo de esclarecer o meu questionamento.

Em seguida, eu fiz uma réplica contra-argumentando, também de modo respeitoso, obviamente. 

Então, a mesma colega fez a seguinte tréplica:

“Acreditar na palavra [de Deus] é uma questão de liberdade, coisa prioritária para cada pessoa. Aceitá-la é uma questão de fé. Criar situações para discussões que não edificam demonstra imaturidade cristã ou a perda da fé genuína. Coisa que nem um pouco atrai minha atenção. Portanto, cada um faça o que quiser da sua vida espiritual, sabendo eu que serei cobrada por tudo que digo, que faço, que falo ou escrevo. Não há como discutir, mesmo no bom sentido, quando os interesses e os fundamentos são diferentes.”

Na realidade, eu não criei uma situação para discussões. Não era esse meu propósito. Apenas externei um pensamento, o que é possibilitado e incentivado pelo Facebook. Alguns amigos deram suas opiniões, o que é e sempre será bem-vindo, mesmo discordando do que eu penso.

Se gerou uma discussão, ótimo. Qualquer discussão sem agressão pessoal e com respeito ao pensamento do outro, qualquer que seja o assunto, inclusive temas bíblicos, é saudável. Antes de ser imaturidade cristã, trata-se de maturidade intelectual e grandeza de espírito.

Quando os interesses e os fundamentos são iguais, aí sim é que não há como discutir. Se todos pensam da mesma forma, vai-se discutir o quê? Se eu digo que “pedra” é “pedra” e o meu interlocutor prontamente concorda, não há possibilidade nem necessidade de discussão.

Qualquer tema ou assunto em que não há consenso é passível de discussão ou de questionamento, inclusive a Bíblia. Se não fosse assim não haveria tantas igrejas com doutrinas tão divergentes todas com base na Bíblia.

E por que não questionar a Bíblia?


Parece-me que há pelo menos dois motivos para isto:

1. Primeiro, o medo de ser castigado por Deus por estar questionando sua Palavra.

Esta forma de pensar me parece própria de quem tem receio de questionar certos aspectos relacionados a Deus ou à Bíblia, porquanto tem medo de estar agredindo a sensibilidade ou a soberania do Criador, sendo, por conseguinte, passível de castigo.

Eu sei, não poucas pessoas pensam assim. E até compreendo quem ainda não ultrapassou este estágio espiritual e intelectual. Simplesmente não é nada fácil. Experiência própria. Foi necessário vencer anos e anos de doutrinação. Foram necessários muitos e muitos anos de observações, questionamentos e aprendizado.

Entretanto, pergunto: que Deus é este que não pode ser questionado racionalmente por mim ou por você, seres racionais?

Seria Deus um tirano ranzinza, atacado pela raiva, cheio de rancor e vingativo que não suporta ouvir questionamentos das suas criaturas sem castigá-las de imediato?

Eu também já pensei assim. Felizmente há muito tempo me livrei dessa concepção deturpada acerca de Deus.

2. Em segundo lugar, parece que há o medo de descobrir coisas que contrariam aquilo que aprendemos, ou seja, medo de descobrir verdades que contrariam certas “verdades” que foram incutidas nas nossas mentes desde criança.

Às vezes isso significa sentir-se só, sem ter a quem recorrer, sem uma tábua de salvação no sobe e desce das ondas do revolto mar da vida, com aquela assustadora sensação de falta de chão sob os pés, sabendo que nós somos os únicos responsáveis pelas escolhas que temos a fazer.

Eu também sei que não é nada fácil, dá medo mesmo, pois já passei por isso. E ainda passo, pra ser sincero. Mas felizmente as enfrentei e as enfrento ainda – “as verdades” – e hoje não tenho receio de ouvir quaisquer questionamentos referentes aos temas Bíblia, fé ou Deus, nem preconceito algum contra quem os faz, até mesmo colocando-me a mim próprio no lugar do promotor. Porém, respeito quem não se sente à vontade para fazê-lo.

Na realidade, é preciso despir-se de certas armaduras que nos foram impostas, especialmente quando crianças, que tolhem nossa liberdade de pensamento. “Dá medo só em pensar que certas coisas não são exatamente como nos ensinaram. Portanto, é melhor nem pensar”.

Lembro-me que ao fazer certos questionamentos, minha mãe sempre dizia: “Cuidado, meu filho, esse tipo de pergunta pode levá-lo a perder a fé”.

E eu sempre respondia: “Prefiro correr esse risco a não saber a Verdade”.

É preciso ter a mente aberta e não reduzir nossa fonte de conhecimentos à Bíblia.

É preciso não nos fecharmos para o mundo e observarmos o que acontece à nossa volta.

É preciso observar o que acontece dentro de nós mesmos, isto é, nossas próprias experiências, e não ter medo de tirar lições e nossas próprias conclusões.        

Saulo Alves de Oliveira

sábado, 13 de julho de 2013

Mudar pelo voto, a saída racional

Nós mesmos, povo brasileiro, somos os únicos responsáveis pelos políticos que temos. 

Para mudar o país, não precisamos criminalizar a atividade política – base da Democracia –, como muitos estão fazendo. Precisamos mudar os políticos, e isso se faz pelo voto.

Criminalizar a atividade política é dar margem a que aventureiros, “salvadores da pátria”, se apresentem como solução única para todos os problemas do país, e isso geralmente implica em colapso das instituições democráticas, ou seja, é a saída preferida por aqueles que flertam com regimes ditatoriais.  

Somente essa conscientização poderá mudar o quadro político e a estrutura social do Brasil. É com protestos e reivindicações – sem arruaças e depredações – que o nosso país poderá mudar as condições sociais do povo brasileiro, mas, sobretudo, com conscientização política, que é votar com dignidade e não em troca de emprego ou porque fulano é meu irmão de fé.

Os políticos que estão aí fomos eu e você que escolhemos.

Aquele vereador que votou pelo aumento do seu já bom salário, foi você quem o escolheu.

O deputado que só vota favorável aos interesses do empresário que doou dinheiro para sua campanha, e não tem compromisso com as causas populares, foi você quem o elegeu.

Aquele prefeito que enriqueceu ilicitamente e depois se elegeu senador, foi conduzido ao parlamento pelo seu voto.

O governador que desviou recursos da educação e da saúde foi você quem o reelegeu.

Aquele vereador para quem você fez campanha, e ajudou a eleger só porque era membro do seu grupo religioso, ou porque prometeu arranjar emprego para seu irmão, e hoje está envolvido em escândalos, é responsabilidade sua.  

Portanto, nós também somos culpados se a política não vai bem em nosso país.

Se não cumprimos nossas obrigações como cidadãos, também somos tão culpados quanto os maus políticos que ajudamos a eleger. Falta de conscientização não se restringe simplesmente a votar mal.

Conscientização política também é não estacionar na vaga destinada a deficiente físico ou idoso. É não jogar aquela latinha de refrigerante na estrada. É não estacionar em lugares proibidos. É cumprir as leis de trânsito. E se, por acaso, for multado justamente, é não subornar o guarda para conseguir facilidades, é pagar o que a lei lhe impõe.

Conscientização política é devolver o troco recebido a mais. É respeitar a fila no supermercado ou em qualquer outro lugar. É não querer levar vantagem em tudo a qualquer preço.

Vamos, pois, começar mudando a nós mesmos para depois mudarmos a classe política em nosso país.

Está difícil mudar pelo voto? Sim, é verdade, mas há quanto tempo nós o estamos exercitando? Há menos de trinta anos. Com certeza vivemos um aprendizado pelo qual temos de passar, isto é, de erros e acertos, até chegarmos a um estágio mais avançado de conscientização.   

É o preço que temos de pagar para não termos usurpado o nosso direito de escolher livremente os governantes que queremos.

Eu não aceito que ninguém me diga em quem devo votar, para o bem ou para o mal. Digo para o mal, pois também posso me equivocar. Tenho idade e consciência suficientes para não ser tutelado por ninguém.

Só há duas saídas: o voto ou a ditadura. Quanto a esta, eu digo: livre-nos Deus. A Democracia é um regime imperfeito, cheio de falhas, mas ainda não inventaram nada melhor para colocar em seu lugar. Numa ditadura, talvez nem essas ideias eu pudesse estar elaborando publicamente.

Possivelmente a essa altura das manifestações, os militares já estivessem nas ruas para reprimi-las. Com certeza as críticas que são feitas ao governo, no próprio Facebook, ou em outro qualquer meio de comunicação, às vezes de forma deselegante e com inverdades, não seriam toleradas.

E para os que flertam com a ditadura, eu faço o seguinte desafio: deem-me um exemplo, um sequer, de uma grande nação, onde o povo tem boas condições de vida, no que diz respeito a educação, saúde, transporte, segurança ou outros indicadores sociais, na qual os cidadãos não têm o direito de escolher seus próprios governantes.

Saulo Alves de Oliveira

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Curas (ou “graças”)

Estivemos, eu e a Sulanira, em Petrolina, cidade localizada na divisa de Pernambuco com a Bahia, a 730 quilômetros da capital pernambucana, no extremo oeste daquele estado, às margens do rio São Francisco. Concretizamos assim o desejo de conhecê-la havia muito tempo. Terminada a visita, empreendemos a viagem de volta.

Saímos de Petrolina pela manhã em direção a Garanhuns, e lá dormimos. No dia seguinte, seguimos para Recife e, no outro dia, retornamos para Natal.  

Saímos de Petrolina às oito horas e já tínhamos percorrido vários quilômetros. Acho que já estávamos na estrada há cerca de uma hora. O rádio estava ligado. Acionei o botão de procura automática de rádio. Uma emissora entrou em sintonia de repente. Dessa vez, um programa católico.

Seu apresentador era um dos padres cantores. Acho que é bem conhecido. Eu já o tinha visto na TV algumas vezes.

O padre leu um texto bíblico. Se não me engano foi no Gênesis. E citou várias vezes a palavra “Javé”... Ah, me lembrei. Foi a história de Caim e Abel.

Chamou minha atenção a forma pausada e marcante como o padre leu a porção bíblica. Ele tem uma voz medianamente grave e bonita e a empostava de forma solene, reforçando ainda mais o tom grave. Fiquei com a sensação – posso estar errado, evidentemente – de que era uma estratégia de “marketing, talvez para dar a impressão de que era “Deus falando”, o que sem dúvida poderia sensibilizar pessoas mais sugestionáveis pelo sertão afora. Bom, posso estar realmente enganado. É apenas uma divagação. Deixa pra lá.

Depois da leitura bíblica, o padre fez um comentário, do qual não me lembro exatamente. Recordo-me que logo em seguida algumas pessoas ligaram para dar seus testemunhos. Eram histórias de curas ou, como costumam dizer os católicos, “graças alcançadas”. Este é exatamente o ponto que eu quero ressaltar: curas ou “graças alcançadas”.    

Há algo que me faz refletir há muito tempo: parece que todas as religiões relatam casos de curas, pelo menos todas as que eu conheço mais de perto.

Protestantes sérios relatam curas, protestantes não lá muito sérios relatam curas, católicos relatam curas, espíritas relatam curas... outras religiões também relatam curas.

Eu não sei se você já refletiu acerca dessas experiências tão curiosas e, de certa forma, tão discrepantes.

Eu não sei se você vê todas essas experiências como algo de somenos importância e que, por conseguinte, não vale a pena perder tempo questionando-as.
 .  
Eu não sei se você é daqueles que têm uma explicação muito simplista para tais fatos.

“As curas que acontecem do lado de cá são de origem divina e as que acontecem do lado de lá são produzidas pelo opositor de Deus.”  

Na realidade, a que se pode atribuir todos esses relatos de curas?

Quem ou que está por trás de todos eles?

Teriam todos a mesma origem?

Ou não?

E ainda: por que é preciso ter fé, ou acreditar, para ser curado?

Como todas as religiões relatam curas, parece que há algo em comum entre todas elas, parece que há uma conexão entre todos esses relatos.

Eu não tenho respostas para essas questões que me incomodam há tanto tempo. Tenho apenas uma teoria, mas como é tão somente uma teoria – não teoria no sentido científico, que apresenta evidências que podem ser examinadas por qualquer um –, prefiro não comentá-la, pois também pode constranger algumas pessoas.

Lanço esse questionamento para que pessoas interessadas, que não querem simplesmente acreditar, mas conhecer a verdade sobre os fatos, reflitam sobre alguns aspectos difíceis da vida e da fé cristã.

Sei, entretanto, que alguns pesquisadores estudam esses fenômenos sob a ótica da ciência.

Quem sabe um dia tenhamos respostas bastante convincentes.

Saulo Alves de Oliveira