quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Lua de Sangue

Por Saulo Alves de Oliveira

O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. 
Joel 2.31


"A pior prisão é a da mente."

Mesmo sem conhecer o autor desta frase não posso deixar de aplaudi-la, visto que suas palavras expressam uma verdade inquestionável.

Eu admiro muito o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking. Seu corpo está preso a uma cadeira de rodas, mas sua mente está livre para "viajar" pelo espaço. Para pensar. Para questionar. Para buscar a verdade.

Quantos, em pleno século 21, ainda estão presos a crendices populares!

Quantos acreditam que um fenômeno natural como a "Lua de Sangue" é um presságio de coisas ruins que podem vir sobre a Terra!

O fenômeno equivocadamente chamado “Lua de Sangue” – de sangue não tem nada – é associado por alguns crentes a uma citação bíblica (Joel 2.31 ), não sei se por ingenuidade ou propositalmente para amedrontar os mais crédulos.

Se tivessem um pouquinho mais de cuidado chegariam à conclusão de que se trata simplesmente de um fenômeno natural, que se repete de tempos em tempos, e que é perfeitamente explicado pela ciência da astronomia.

Não vou entrar em maiores detalhes para o texto não ficar muito longo – quem quiser se aprofundar no assunto é só pesquisar na internet –, mas trata-se da luz do Sol filtrada pela atmosfera da Terra que, em consequência de um fenômeno natural chamado refração, deixa passar menos luz azul e mais luz vermelha. Aquela luz vermelho-alaranjado atinge a Lua durante um eclipse total e é refletida em nossa direção.  

Nós vemos todos os dias o mesmo fenômeno da luz vermelho-alaranjado no céu por ocasião do alvorecer ou do pôr do Sol. Aquela mesma luz que vemos no céu no final da madrugada ou no final da tarde atinge o nosso belo satélite e proporciona o fantástico espetáculo da misticizada “Lua de Sangue”, que de sangue nada tem. Evidentemente, a luz vermelho-alaranjado que vemos refletida na Lua por ocasião do eclipse é a luz do Sol ao nascer ou se pôr em outras regiões da Terra.        

Veja o que diz o site Planetário de Vitória, da Universidade Federal do Espírito Santo:

“Um astronauta que estivesse na Lua, olhando para a Terra durante um eclipse lunar total, veria o nosso planeta como um disco escuro circundado por um anel vermelho brilhante. Esse anel nada mais seria do que a luz dos crepúsculos e auroras ocorrendo ao redor de toda a Terra naquele instante. É essa luz que incide sobre a Lua durante o eclipse total, produzindo a sua coloração vermelho-alaranjado. Se a Terra não possuísse atmosfera, não teríamos este efeito.”

Lamentavelmente, sempre foi assim ao longo da história da humanidade. No passado, os eclipses do Sol ou da Lua, os vulcões, os terremotos, as tempestades e muitos outros fenômenos naturais eram tidos como demonstrações da insatisfação dos deuses em relação aos humanos pecadores. Ainda hoje há quem atribua aos tsunamis o estalido do chicote de Deus. Medem Deus com a mesma régua com que medem as atitudes de alguns humanos canalhas, tiranos, déspotas... Estariam certos?    

Com todas as descobertas científicas do nosso tempo, ainda há quem pense assim. Meu Deus!

Até quando sofreremos sem necessidade?

Entristece-me não ter esperança de ver a humanidade liberta das crendices e superstições ainda nos anos da minha vida.

Felizmente ainda tive tempo de me ver livre.

E também tenho o prazer de experimentar uma outra alegria: os que estão muito próximos a mim estão todos livres.