domingo, 22 de setembro de 2013

Amar só a Israel? Por quê?

E os outros povos? E os palestinos? Não merecem ser amados também?

De vez em quando eu me pergunto: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo palestino?”

Certa vez, diante desse questionamento, alguém me fez a seguinte observação: “É porque eu encontro na Bíblia um versículo que diz assim: Orai pela paz de Jerusalém; prosperarão aqueles que te amam – Sl. 122:6. Portanto, já tenho argumento suficiente para manter um carinho todo especial pelo povo criado e escolhido por Deus”.

Acontece que eu também encontro argumentos suficientes nos textos abaixo para proceder da seguinte forma:

Gn. 27.5-45 – acreditar que os fins justificam os meios;

Ex. 22.28 – parar de criticar o governo e deixar de afrontá-lo com postagens às vezes deselegantes e, lamentavelmente, com inverdades, como muitos estão fazendo;

Ex. 23.2 – deixar de apoiar os protestos contra o governo, pois estes resvalam para o mal (depredações, arruaças, prejuízos ao patrimônio público e/ou privado);

Lv. 7.23 – proibir as pessoas de comerem gordura, não só por questões de saúde – neste caso trata-se de orientação, e não de tirar o direito das pessoas optarem –, mas porque é uma ordenança bíblica;

Lv. 12.2-5 – considerar qualquer mulher imunda após o parto e proibi-la de ir à igreja durante 40 dias, se tiver um menino, ou durante 80 dias, se tiver uma menina. Também acho argumento para fazer discriminação entre homem e mulher;

Lv. 20.9 – mandar matar todos os filhos que desobedecerem a seu pai ou a sua mãe;

Lv. 21.18-20 – proibir qualquer homem com defeito físico de estar à frente de qualquer igreja, incluindo-se nessa proibição os anões, os corcundas e o que tiver nariz chato. A pergunta a seguir é específica para os evangélicos da Assembléia de Deus de Natal: “Isso lembra vocês de alguma coisa?”

Dt. 25.11,12 – mandar decepar a mão da mulher que, a fim de livrar o marido daquele que o agredia em uma briga, pegou na genitália do agressor;

Sl. 137.9 – retribuir da mesma forma o mal que alguém fizer aos nossos filhos, inclusive, se for o caso, jogando os filhos pequenos dos nossos desafetos contra as pedras; ou, como diz outra versão, “despedaçá-los contras as rochas”;

Mt. 19.21 – afirmar que todos os que querem ter um tesouro no céu devem vender tudo o que têm e entregar aos pobres, ou seja, na igreja não podem existir ricos;

Rm. 13.1,2 – parar com a ideia de impeachment dos governantes, pois isso é “resistir à ordenação de Deus”;

1 Co. 14.34,35 e 1Tm. 2.11,12 – proibir qualquer mulher de pregar e ensinar, o que significa, obviamente, proibi-la também – o que me parece fundamental – de ser pastora. As mulheres devem ficar simplesmente sentadas nos bancos das igrejas ouvindo em silêncio. E, se quiserem saber alguma coisa, perguntem em casa aos seus maridos. Evidentemente, eu não sou machista, portanto não comungo desse ensino do apóstolo Paulo;

2 Jo. 1.10 – não receber em casa, nem sequer falar com aqueles que não participam conosco da mesma compreensão da fé cristã.

Eu quero deixar claro, todavia, que não concordo com nenhum desses argumentos que citei, exceto quanto a postagens deselegantes e com inverdades ou quanto às manifestações com arruaças e depredações.

Infelizmente, a Bíblia dá margem a muitas interpretações, ao sabor dos interesses de qualquer um. Todos os textos citados e muitos outros fizeram parte de um momento da história de Israel ou da história cristã e estavam de acordo com as circunstâncias de uma época. Não podemos simplesmente trazê-los ao pé da letra para o nosso tempo sob pena de causarmos um enorme prejuízo às relações humanas.

Em alguns casos eu chego a me perguntar: como Deus pôde estabelecer ou aceitar leis, práticas ou costumes tão bárbaros?

As palavras do Salmo 122, versículo 6, por exemplo, foram proferidas por Davi talvez há cerca de 3.000 anos. É perfeitamente compreensível que Davi assim se expressasse, pois ele era um israelita, um judeu, rei de Israel, que amava seu povo e sua terra. Entretanto, isso não quer dizer que Davi estava afirmando que “não orem pelos outros povos nem os amem”. E se ele assim tivesse afirmado, eu não teria receio algum em dizer que “não concordo com Davi”.

O próprio Jesus afirmou “Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem”.

Veja bem: nem sequer os palestinos são nossos inimigos ou nos perseguem. Não há motivo algum para não amá-los ou não orar por eles.

Devemos amar e orar não só por Israel e pelos palestinos, mas por todos os povos do mundo.

Todavia, se você insiste em só amar e orar por Israel, é um direito seu. Você é livre para proceder da forma que achar conveniente e conforme a compreensão que tem da Bíblia.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 1 de setembro de 2013

Sejam bem-vindos, cubanos

E nos desculpem pela falta de educação de alguns dos nossos irmãos brasileiros.

No último dia 26, em Fortaleza/CE, médicos cubanos, que aqui vieram trabalhar honestamente atendendo a um chamamento do governo brasileiro, foram recepcionados pelos seus colegas brasileiros com xingamentos e discriminação.

Os cubanos tiveram de passar por um “corredor polonês formado por brasileiros sob vaias e gritos de “escravos”. 

Se os médicos brasileiros não concordam com o programa Mais Médicos, deveriam criticar a presidente Dilma ou o ministro Alexandre Padilha, não os cubanos.

É uma questão de educação, ou melhor, de falta de educação. Como alguém pode criticar e xingar pessoas que nunca lhe fizeram mal? Esse tipo de reação não se coaduna com a postura de profissionais que se julgam elite no Brasil. Eles deveriam ser elite no quesito educação e na formação de respeito ao ser humano.

A propósito do tema “médicos cubanos”, uma colega fez o seguinte comentário: “Pois é, [eles] só querem ganhar um trocadinho pra comprar novos eletrodomésticos e servir de mula pra levar nosso dinheiro para o regime cubano...”

Realmente, não precisava ser assim, o dinheiro poderia ficar aqui mesmo, era só os médicos brasileiros não boicotarem o Mais Médicos.

O dinheiro que vai ser repassado ao governo cubano é justamente para melhorar a saúde do povo mais carente do Brasil. Deveria ficar aqui mesmo, se os profissionais brasileiros tivessem aderido ao programa Mais Médicos, mas eles não só não aderiram, eles fizeram pior: boicotaram o programa.

Ademais, não vejo problema nenhum em pagar a Cuba pelos serviços dos seus profissionais médicos. Cada país exporta o que tem de melhor, e Cuba tem um sistema de saúde de boa qualidade, muito melhor que o do Brasil. Vergonhosa está sendo a atitude dos nossos médicos, que "não querem entrar" e ainda "pretendem impedir a entrada de quem quer".

Talvez os médicos cubanos não tenham a visão mercantilista de grande parte dos nossos médicos. Parece que a medicina cubana tem uma visão mais humanista. Será que é essa mudança de paradigma que tanto temem os nossos profissionais?  

Cuba é um país pobre. Talvez um "trocadinho" seja suficiente para o padrão de vida do seu povo.

Talvez os cubanos, socialistas – na realidade, nem sei se todos os médicos o são – , estejam cumprindo, sem o saber, as palavras do apóstolo Paulo a Timóteo: "...tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes... Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males...", 1 Tm. 6.7-10, e dando-nos uma lição de humildade.

Parece-me que muitos cristãos, que se dizem cumpridores da Bíblia – será? –, e que estão combatendo sem tréguas o Mais Médicos, estão precisando dessa lição de humildade.

Lamentavelmente, o fundamentalismo e, muitas vezes, a fé cegam as pessoas.

Saulo Alves de Oliveira