sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

No passado, no presente e no além

Por Saulo Alves de Oliveira

Um antigo vizinho meu que tinha um retardo mental gostava muito de usar a expressão “eu fico incrível” quando alguma coisa o incomodava, algo que ele julgava fora do padrão da normalidade ou para o qual ele não encontrava justificativa convincente.  

Muito próximo da minha casa há um terreno desocupado. Meu vizinho sempre questionava porque ali não se construía alguma coisa. Lembro que ele sempre citava uma farmácia ou um supermercado. Isso o incomodava, então ele ficava “incrível” com tal situação.

Ainda hoje, transcorridos vários anos depois que o meu vizinho se mudou, o terreno continua desocupado, servindo apenas para juntar lixo, restos de construção, roedores e insetos. Agora quem fica “incrível” sou eu.     

Vou tomar emprestada a expressão do meu antigo vizinho.

Eu fico “incrível” como em questão ou matéria de fé as pessoas tentam justificar o injustificável.

E o pior: não são pessoas loucas ou ignorantes, são pessoas normais, sãs e inteligentes, algumas com elevada formação acadêmica, que convivem conosco diariamente e estão convencidas de que estão certas.

As suas crenças as fazem aceitar com toda naturalidade verdadeiras barbáries cometidas no passado e no presente e que também se darão no além, não sei se distante ou perto, contra o ser humano.

E o que mais me incomoda: um dia eu também pensei assim!