sábado, 17 de março de 2018

A morte de Marielle e o seu significado

Por Saulo Alves de Oliveira

É incrível, e até chocante, a diferença entre os discursos da direita e da esquerda em relação a determinados episódios da vida nacional. Exemplo claro: o assassinato da vereadora Marielle Franco.

A esquerda apresenta um viés humanista pela perda de um ser humano executado brutalmente e às claras em pleno centro da cidade. Já a direita procura relativizar ao fazer comparações totalmente descabidas e ainda tenta desqualificar covardemente o morto.

O que me choca mais são os comentários dos cristãos de direita que, pelo menos teoricamente, assim penso, deveriam ser os mais sensibilizados pelo brutal assassinato de Marielle, posto que se autoproclamam filhos e servos de alguém que disse assim “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. E o que me entristece ainda mais é que eu sou oriundo desse meio, onde convivi ativamente por mais de 40 anos, e, ao longo desse tempo, acho que não tive a necessária percepção desse aspecto de parte importante da comunidade cristã evangélica. Na realidade, eu acho que confiei além do razoável em determinados líderes.

Felizmente, ou infelizmente, dependendo da visão de cada um, a cada dia que se passa eu faço descobertas que me conduzem por uma outra estrada totalmente diferente da que se me descortinava há, talvez, 20 ou mais anos.

É evidente, e eu não sei porque é tão difícil entender isso, que não têm o mesmo significado a morte de Marielle e a morte de qualquer pessoa em um assalto ou mesmo de um policial em confronto com bandidos.

É claro que são perdas inaceitáveis de vidas humanas. Do ponto de vista dos familiares e amigos, e de qualquer ser realmente humano, tais perdas provocam a mesma dor, tristeza e revolta. Todavia os significados dessas mortes são totalmente diferentes. Uma coisa é a morte de uma pessoa por ocasião de um assalto ou de um policial em um confronto com bandidos. Outra coisa bem diferente é a morte por encomenda de um agente público em uma emboscada.

Imaginem um juiz que trava uma luta contra grupos mafiosos e é executado por pistoleiros pagos para isso.

Agora imaginem a morte de um juiz em um assalto ou numa briga de trânsito.

São situações totalmente diferentes com significados díspares.

Os dois casos representam a morte de dois seres humanos, o que mostra claramente o grau de degradação moral em que vive a nossa civilização, todavia o primeiro caso representa uma afronta direta ao estado democrático de direito e transmite a todos nós a seguinte mensagem: se um juiz, uma autoridade do estado, não tem segurança para fazer o seu trabalho, você e eu, cidadãos comuns, estamos irremediavelmente perdidos, pois o estado está falido.

O meu entendimento é de tal ordem que eu sempre defendi que devam ser fortemente agravadas as penas dos mandantes e dos executores de crimes de assassinatos de juízes, promotores ou policiais que investigam grupos criminosos.

Este é o significado da morte da vereadora Marielle Franco e o porquê da consequente repercussão.