quarta-feira, 28 de março de 2012

Ainda é "Tempo de partir"

Considerando a importância e atualidade do assunto, resolvi voltar ao texto “Tempo de partir” de autoria do pastor Ricardo Gondim. Bom seria que todos o lessem com atenção e tirassem suas próprias conclusões. Não deixe de fazê-lo. Basta clicar no link abaixo.
http://www.ricardogondim.com.br/estudos/tempo-de-partir/

Quero destacar mais algumas de suas afirmações e fazer rápidos comentários.
“Não me considero dono da verdade.”
Quantos se consideram receptáculos e os reais detentores de toda a verdade! Somente eles estão certos, todos os demais estão completa e irremediavelmente errados. “Ah, eu e o meu grupo estamos no Caminho, quanto aos demais, a Bíblia diz, jazem no maligno”, afirmam arrogantes. E complementam: “Eu e o meu gueto vamos para o céu, pois somos coluna e firmeza da verdade. Quanto aos demais, vão para o infeeeeeeerno!”

Qual verdade? A dos batistas, presbiterianos, luteranos, pentecostais, neopentecostais, metodistas, católicos, congregacionais, adventistas, anglicanos, universais, mundiais... E quantos mais “istas”, “anos” ou “ais”?  
“Não carrego a palmatória do mundo.”
Os mais novos certamente não conhecem o artefato chamado palmatória. Tal circunstância, entretanto, não lhes seja motivo de tristeza, pois não estão perdendo coisa alguma que lhes possa fazer falta.

De certa forma, a palmatória era um instrumento de tortura. Consistia de uma haste de madeira que tinha em uma das extremidades algo parecido com um pneu em miniatura, também de madeira, e servia para castigar os filhos ou alunos desobedientes. O pai segurava os quatro dedos do filho – polegar livre –, forçava-os um pouco para baixo e a palma da mão ficava bem exposta. Então eram aplicadas várias pancadas com o famigerado instrumento e depois se repetia o mesmo ritual com a outra mão. O torturante “encontro” da palmatória com a mão era conhecido pelo “delicioso” nome de “bolo” – Ah, que “bolo” desagradável! Quem teve o desprazer de vê-la em ação nas mãos dos professores ou pais, afirma que doía bastante.

É desse espírito de palmatória que muitos estão cheios nas igrejas. Sentem prazer em julgar os outros e gostam de “bater” em quem não se conforma ao seu modo de viver e interpretar as Escrituras.

Eu conheço alguns assim – com destaque para certas filhas de Eva –, que se julgam porta-vozes de Deus e se valem dessa suposta prerrogativa para destilarem toda sua arrogância em julgamentos e condenações contra as pessoas. De forma teatral, impostam a voz com toda empáfia e seus corpos assumem trejeitos e movimentos bem peculiares para demonstrar, de forma ridícula, quando não cômica, que estão sendo usadas(os) por Deus. Sinceramente, confesso-lhes que há muito estou farto de tais espetáculos que muitas vezes tocam as raias do absurdo, quando não a ultrapassam, nos púlpitos das igrejas. 

Quando jovem, eu mesmo fui vítima de um desses espíritos de palmatória. Convenhamos, não foi lá uma pancada muito forte, mas machucou um pouco. Era um senhor de cabelos brancos que gostava muito de chamar a atenção para si com gritos estridentes durante os cultos. (Desconfie dessas pessoas. Normalmente são fanáticas.) O dito senhor era perito em “bater” nos jovens. Eu estava todo vestido de preto – camisa, calça e sapatos pretos. Ele se aproximou e afirmou, de forma infantil, descabida e insuportavelmente fanática, que eu estava errado vestindo preto, pois esta cor tinha a ver com as trevas. A minha educação e os seus cabelos brancos calaram-me. Em certas ocasiões, o silêncio é a melhor resposta.       
“Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico (principalmente os que se valem da mídia). Conheço muitos de fora dos palcos e dos púlpitos. Sei de histórias horrorosas, presenciei fatos inenarráveis e testemunhei decisões execráveis. Sei que muitas eleições nas altas cúpulas denominacionais acontecem com casuísmos eleitoreiros imorais. Estive na eleição para presidente de uma enorme denominação. Vi dois zeladores do Centro de Convenções aliciados com dinheiro. Os dois receberam crachá e votaram como pastores. Já ajudei em “cruzadas” evangelísticas cujo objetivo se restringiu filmar a multidão, exibir nos Estados Unidos e levantar dinheiro. O fim último era sustentar o evangelista no luxo nababesco. Sou testemunha ocular de pastores que depois de orar por gente sofrida e miserável debocharam delas, às gargalhadas. Horrorizei-me com o programa da CNN em que algumas das maiores lideranças do mundo evangélico americano apoiaram a guerra do Iraque. Naquela noite revirei na cama sem dormir. Parecia impossível acreditar que homens de Deus colocam a mão no fogo por uma política beligerante e mentirosa de bombardear outro país. Como um movimento, que se pretende portador das Boas Novas, sustenta uma guerra satânica, apoiada pela indústria do petróleo.”
Sem mais comentários. O texto fala por si só.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 18 de março de 2012

Pastor diz: chegou o "Tempo de partir"

Eu não conheço o pastor Ricardo Gondim. Nunca li um outro texto ou livro seus. Nada sei acerca da sua capacidade intelectual ou espiritual nem do seu caráter moral, no entanto, devido a um comentário que li no Facebook, de certa forma negativo, cheguei ao texto “Tempo de partir”, de sua autoria.

Achei-o simplesmente impactante. Transmitiu-me muita sinceridade e compromisso com a moral. Julgo que todos os cristãos evangélicos, sinceros em sua fé, ou qualquer pessoa que fundamente sua vida em princípios morais elevados deveriam lê-lo e fazer uma reflexão em cima de suas palavras. Não deixe de fazê-lo. É só clicar no seguinte link: http://www.ricardogondim.com.br/estudos/tempo-de-partir/.

A minha história de vida é bem diferente da sua e certamente não tenho o mesmo preparo intelectual e o mesmo conhecimento teológico. Seguimos caminhos totalmente diferentes no que diz respeito a atividade profissional, porém faço minhas as suas palavras.

Para não ficar cansativo, quero destacar apenas duas afirmações do pastor Ricardo Gondim e fazer alguns comentários.
“Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico (principalmente os que se valem da mídia).”
Nem eu. Na realidade alguns me inspiram asco. Especialmente um dos mais famosos. Recentemente ele aparece em um vídeo no YouTube com uma suposta endemoninhada. Ele faz perguntas e gracejos e o “demônio” lhe diz que na igreja de um dos seus desafetos quem opera é Satanás. Só os tolos acreditam que aquilo é real e não se trata de uma farsa. E, lamentavelmente, sou forçado a admitir – por mais perturbador que pareça –, muitos acreditam. Quanto a mim, o sentimento que me invade é de nojo, repugnância.

De tais indivíduos eu não tenho compaixão, pois eles não são inocentes, sabem o que estão fazendo. O que eu sinto é realmente repulsa e deles eu quero distância. Verdadeiros canalhas, crápulas, manipuladores dos incautos! Só pensam em dinheiro. E corjas de bajuladores os acompanham ajudando-os a sugar o dinheiro dos trouxas, muitos destes, reconheçamos, sinceros. Pedem dinheiro de forma desavergonhada na mídia e nos templos. Até quando os brasileiros permanecerão com a venda que lhes cobre os olhos?

Dizem que têm fé. Que tipo de fé? Precisam de recursos? Se tivessem fé fariam como Jesus ensinou em Mt. 6.6: orariam e pediriam em secreto. E não exporiam o Evangelho ao ridículo como o fazem de forma tão descarada. Acho que para eles o que vale é a máxima que diz “é pedindo que se recebe”, pois aquilo que pregam, isto é, a fé que opera milagres, parece que nem eles acreditam. Se não fosse assim, orariam em secreto e receberiam o dinheiro de que tanto gostam, sem precisar se expor de forma tão aviltante e mercenária. São os “Tio Patinhas” evangélicos.

Repito o que disse em outro comentário. Para os seres abjetos que se aproveitam da ingenuidade de um povo sofrido, que se apega a qualquer coisa na esperança de resolver seus problemas – afetivos, financeiros, de saúde... –, o meu desejo é que eles se arrependam das suas práticas ignominiosas. Caso contrário, eu espero, com todo o ardor da minha alma, que no mais profundo do inferno, junto ao trono de Satanás, o rei das trevas, haja um lugar especialmente reservado para todos eles.   
“Não suporto conviver em ambientes onde se geram culpa e paranoia como pretexto de ajudar as pessoas a reconhecerem a necessidade de Deus.”
Quantos sofrem desnecessariamente por não alcançarem certas coisas, atribuindo tal fato a falhas em sua relação com Deus! Coisas estas que as pessoas alcançam, ou não, por razões meramente naturais e não porque têm fissuras em seu caráter espiritual ou moral.

Quantos são induzidos a humilhações aviltantes para obter o favor de Deus! Parece que Deus se compraz em ver seres humanos em demonstrações exacerbadas de humilhação física. Deus só atende ao ser criado se este se colocar genuflexo com o rosto no chão, derramar “rios e rios” de lágrimas, jejuar por dias e dias a fio, orar, orar, orar, orar... e orar, para só então ter – ou não, ressalte-se –, após anos e anos de insistência e prostração, ou mesmo décadas e décadas depois, seu problema resolvido.

Não seria mais honesto e moral admitir-se uma relação racional entre criatura e Criador? Ou um diálogo sincero e racional em que o ser apresenta suas razões e necessidades ao Ser, e Este, do alto de sua onipotência e onisciência, responde ou não àquele de forma clara e transparente, sem, muitas vezes, o silêncio inquietante – e conformista –, como supõem alguns?     

Concordo totalmente com o que diz o Pastor Ricardo Gondim. Por todas as razões apresentadas por ele e outras mais, talvez eu já tenha partido (?) e porventura já me encontro em um patamar diferente daquele em que ele ainda se encontra (?). Só posso chegar até aqui em minhas afirmações. Quem lê entenda e tire suas próprias conclusões, se puder, obviamente.
 
Saulo Alves de Oliveira

sábado, 3 de março de 2012

Cristão iraniano é condenado à forca

Pastor Youssef Nadarkhani condenado à morte no Irã
Comenta-se no noticiário e nas redes sociais que um pastor iraniano foi condenado à forca por causa de sua fé cristã. Como o Irã é um país extremamente fechado, eu não sei o quanto há de verdade nessa notícia. Entretanto o meu comentário a seguir terá como base o pressuposto de que a notícia é totalmente verdadeira, ou seja, o Pastor está sendo julgado ou foi condenado por conta de sua fé.

A pena de morte não é exclusividade do país dos aiatolás. Outros países a adotam, dentre eles os EUA, formado, em sua grande maioria, por cristãos. É verdade que neste último caso há todo um processo judicial legal, com amplo direito de defesa, que muitas vezes leva anos, até culminar ou não com a sentença de morte. 

Eu, pessoalmente, sou contra essa penalidade extrema, apesar de, em alguns casos, me sentir tentado a dar um passo atrás em minha convicção. Mas este momento não me enseja oportunidade de tratar da pena de morte como castigo para crimes ditos hediondos. Ficará para outra ocasião.

Até onde me foi dado saber, há um processo legal naquele país – refiro-me ao Irã – em que o Pastor é réu, contando, inclusive, com advogado de defesa.

Apesar disso eu julgo um absurdo no mais alto grau e uma afronta à dignidade humana alguém ser condenado à morte pelo “crime” de ter uma fé diferente da grande maioria dos seus concidadãos ou ainda pelo fato de não acreditar no livro sagrado ou no Deus de outrem ou mesmo discordar de qualquer coisa que diga respeito à religião. Isto é viver, em pleno século 21, no obscurantismo das mais densas trevas da Idade Média, ainda que os fundamentos sejam a cultura ou o código de leis de um país.   

Lamentavelmente o próprio cristianismo já agiu de modo similar, especialmente na Idade Média. Hoje, entretanto, as coisas evoluíram, apesar de existirem muitos radicais fundamentalistas, notadamente em alguns estados americanos – segundo dizem – no chamado “cinturão bíblico” e em outras regiões do mundo, os quais, no entanto, não chegam ao clímax da estupidez em sua intolerância religiosa. (?)

Em 1600, o padre Giordano Bruno foi condenado à fogueira pela Inquisição Católica. Seu crime: afirmar que “Há incontáveis sóis e uma infinidade de planetas que giram em torno de seus sóis como nossos sete planetas giram em torno do nosso”, ou seja, Bruno acreditava que existiam outros mundos, em desacordo com a interpretação da Bíblia feita pela Igreja de Roma. Em 1633, Galileu Galilei só não teve o mesmo destino porque negou oficialmente aquilo que sabia ser a verdade, isto é, que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário como pensava a Igreja da época.

É profundamente triste e chocante que, em pleno século 21, qualquer ser humano seja condenado à morte por professar uma fé que está em desacordo com a maioria. Não apenas por ser um cristão evangélico. Causar-me-ia igualmente profunda consternação se se tratasse de um padre católico, um rabino, um monge budista, um seguidor do hinduísmo, um espírita ou um crente de qualquer outra religião.

Todas as pessoas devem ter plena liberdade de professar sua fé, em qualquer lugar do mundo, sem o perigo de sofrer a mínima sanção. Deve ser-lhe assegurado inclusive, se for o caso, o direito de não ter religião ou mesmo de não acreditar em Deus.

Certamente lá no Irã eles estão agindo dentro das leis que regem seu país, mas é simplesmente algo que ultrapassa as raias do absurdo e agride frontalmente à moral e envergonha a civilidade da raça humana.

Ninguém pode ser julgado segundo os ditames de um livro sagrado, seja ele a Bíblia, o Alcorão, a Torá ou outro qualquer. Por isso eu defendo com veemência o estado laico. Sou a favor da total e explícita separação entre Igreja e Estado. Culto ou missa se faz nos templos e nas residências e não nas repartições públicas. Símbolos religiosos se mantêm nos templos e nas residências e não nas repartições públicas.

Eu espero que a parte do Islã que vive o século 21 sobrepuje os radicais que ainda “vivem” na Idade Média e que o Islamismo evolua tal qual a grande maioria do Cristianismo, não obstante algumas atitudes controversas de alguns cristãos em postos de comando do mundo.

A todos os cristãos evangélicos eu deixo as seguintes perguntas para reflexão: Você estaria consternado se a condenação à morte fosse de um padre católico ou um monge budista ou um líder de qualquer outra religião? Se você viesse a descobrir que o pastor condenado não acredita na doutrina da trindade, seu espírito continuaria inquieto com a situação? Você assinaria um pedido de interferência – não sei se a palavra correta seria esta – do Governo Brasileiro se se tratasse de um padre católico ou um monge budista ou um líder de qualquer outra religião? E se fosse um ateu, você acharia injusto alguém ser condenado à morte por não acreditar em Deus?

Desculpe-me, porém se você respondeu “não” a uma dessas questões, na minha opinião – e posso estar equivocado, evidentemente – o que lhe move não é a defesa do princípio fundamental da liberdade religiosa em qualquer circunstância, inclusive o direito de não ter religião, mas simplesmente o corporativismo.

Saulo Alves de Oliveira