Um amigo, de confiança, me contou que leu na revista
Seleções uma conversa entre um repórter e o famoso pastor norte-americano Billy
Graham. O Sr. Graham é considerado por muitos como o maior pregador evangélico
do século XX. Hoje, aos 95 anos, o famoso evangelista ainda vive nos EUA.
O repórter fez a seguinte pergunta: “Dr. Billy Graham, o
senhor vive como se o céu existisse, e se o céu não existir?” Resposta do
pregador: “Eu perdi tudo”.
Aí Billy Graham diz: “Eu posso lhe perguntar uma coisa?” O
repórter responde: “Pode sim”.
Pergunta o Sr. Graham: “E se o céu existir?” Respondeu o
repórter: “Então eu é que perdi tudo’’.
E arremata o meu amigo: “É assim, Saulo, conflito é o que
não falta. Mas também contamos com bons dividendos desta nossa Fé... É meditar
um pouco sobre isto.”
Todavia, a conversa entre o Sr. Billy
Graham e o repórter, não me parece, ressalvadas outras considerações que me
fogem no momento, algo honesto ou racional, sobretudo sob a ótica de um Deus
que tudo sabe.
Alguém que crê em Deus apenas pelo
risco de que ao final Ele realmente exista e assim ficará bem na “foto”, isto
é, será digno da sua aprovação, não me parece nada honesto.
Tal
argumento lembra muito o que chamam de “A aposta de Pascal”.
Blaise Pascal foi um físico, matemático, filósofo e teólogo francês, cristão,
que viveu no século XVII. Ele morreu em 1662 aos 39 anos. Em seu livro
“Pensamentos” ele expõe a ideia a seguir.
“A aposta de Pascal” é mais ou menos
sintetizada da seguinte forma: “Se Deus existe, o crente ganha tudo (o
céu) e o descrente perde tudo (ganha o inferno). Se Deus não existe, o crente
nada perde e o descrente nada ganha. Portanto, há tudo a ganhar e nada a perder
ao acreditar em Deus.”
Eu penso que esse argumento só tem
valor para um deus que não é onisciente, que pode ser enganado pelas suas
criaturas. Assim, o ser criado poderia supor o seguinte: “Eu realmente não
creio em Deus, pois não vejo evidências da sua existência, porém vou
apresentar-me como um crente [crente com o significado de ‘aquele que crê na Divindade’],
isto é, vou fingir que creio, assim o Criador há de me recompensar com o céu”.
Certamente Deus conhece o caráter e o íntimo das pessoas – ou não? – e sabe se
e quando elas estão jogando com essa possibilidade.
Acreditar
ou não em Deus, não é uma simples questão de opção.
Acreditar em Deus é algo muito mais
profundo. É acreditar que Ele existe porque nada pode existir sem um criador.
Esse raciocínio, entretanto, pode levar a uma regressão infinita do tipo “se
nada pode existir sem um criador, quem criou o Criador?” Alguns respondem com
uma resposta tola e que nada explica: Deus é um ser incriado. Melhor seria
admitir nossa ignorância e responder “não sei”.
Acreditar em Deus pode ser uma
questão de doutrinação na infância, daquilo que foi incutido na mente pelos
pais ou pela religião, uma questão de fé. Lembra daquela historinha em que um
padre diz: “Dê-me uma criança e eu a farei um cristão pelo resto de sua vida?”
Não acreditar em Deus pode ser uma
questão de não encontrar explicações para coisas incompatíveis com um Deus
onipotente e onisciente, como é a questão do mal.
Não acreditar em Deus pode ser uma
questão de não encontrar evidências para sua existência.
Acreditar ou não em Deus não é algo
que se diz apenas da boca para fora, mas é algo que está lá dentro, no mais
profundo do centro das emoções, que não é apenas o material, é o intangível.
Não posso crer em Deus pensando nesta dupla possibilidade: “Se Ele existe, eu ganho; se Ele não existe, eu nada perco”. As coisas não são assim tão simples. Afinal, crer em Deus não é como jogar uma moeda e aguardar, após a morte, se vai dar cara ou coroa. Não se joga dados com Deus.
Julgo que um ateu sincero, convicto,
que não crê em Deus porque não vê evidências da sua existência, está numa
posição mais confortável – se Deus realmente existe, isto é, fazendo uso do
argumento de Pascal – do que um crente dissimulado, que crê apostando na possibilidade
de “enganar” o Deus que tudo sabe.