Uma amiga me enviou um vídeo que
trata de uma questão muito polêmica: “Por que Deus mandou matar?” O
apresentador mostra “evidências” que, segundo seu entendimento, justificam as
matanças com requintes de crueldade, os assassinatos e os genocídios na Bíblia.
Não sei se a minha amiga concorda
com todas as justificativas apresentadas pelo comentarista do vídeo, porém eu penso
que ela tem um senso moral acima da média, pois sua atitude certamente
demonstra que ela se preocupa e reflete acerca de questões contidas na Bíblia
tão complicadas e difíceis de “digerir”.
Assista-o, vale a pena, com
certeza ajudará você a consolidar sua opinião acerca desse tema, quer seja
favorável, quer seja contrária.
Clique aqui para assisti-lo.
Quanto a este beócio opinador... bem,
o que posso dizer? Lamentavelmente, nada do que o comentarista argumentou me
fez mudar de opinião.
Falar em questão cultural ou que
Israel estava retomando suas terras não justifica o assassinato e o extermínio
de inocentes ou de povos inteiros, pois não estamos falando de decisões tomadas
por seres humanos, mas pelo próprio Deus, que certamente não está limitado pela
cultura humana.
Deus tem ou não o poder de
estabelecer padrões morais eternos?
Se havia alguma justificativa, se
é que havia, para mandar matar os adultos, nada justifica o assassinato e o
extermínio de crianças e animais. Por que matar crianças e animais? Qual o
pecado deles? Se Deus é onipotente, ou seja, tudo pode, Ele não poderia ter
sido seletivo com os maus?
Deus é soberano, alegam alguns.
Sim, mas Ele pode passar por cima da sua própria Palavra? Diz-nos a Bíblia: “A
alma que pecar essa morrerá” – Ez. 18.20 e “Não se farão morrer os pais pelos
filhos, nem os filhos pelos pais; cada qual morrerá pelo seu próprio pecado” –
Dt. 24.16. Aqui, no entanto, há um sério problema, pois em Ex. 20.5 o Senhor diz:
“...Sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira
e quarta geração daqueles que me odeiam...”, o que parece contradizer Dt.
24.16. Todavia, essa é uma outra questão para outro momento.
O problema é sempre este. Para
qualquer dificuldade bíblica, as pessoas sempre encontram uma forma de
justificar o injustificável. Por que não admitir logo como o pastor americano
John Piper, que diz que Deus mata do jeito que Ele quiser, pois não deve
satisfação a ninguém? Ele mata com uma bala, com uma explosão – fazendo a
pessoa “voar” em pedaços pelos ares num atentado terrorista –, com uma grave
doença ou ainda, como no passado, usando o exército de Israel como agente
executor do seu desígnio.
Essa teologia também é terrível,
portanto tenho uma enorme dificuldade de me relacionar com o Deus de John
Piper, apesar de julgar que sua opinião é mais compatível com a realidade e com
a Bíblia.
Citar o caso de Sodoma e Gomorra
como exemplo de cidades iníquas para justificar a destruição daqueles povos, em
nada facilita a questão, pois “não havia pelo menos 10 crianças – seres justos,
ou não? – naquelas localidades que assim evitassem sua destruição, como
prometeu o Senhor?”
Ao final do vídeo, o comentarista
cita o complicadíssimo caso de I Sm. 15.3: “Vai, pois, agora e fere a Amaleque,
e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém matarás homens
e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos”. E,
para contornar a dificuldade, ele levanta a hipótese de linguagem hiperbólica,
isto é, não era bem aquilo que o Senhor ordenara. Um verdadeiro exercício de contorcionismo
mental para justificar algo que já está evidente.
Na realidade, o texto é
claríssimo. Leia todo o capítulo de I Sm. 15 e você verá inclusive que Saul foi
rejeitado como rei de Israel porque não cumpriu toda a ordem do Senhor, pois
preservou o melhor do rebanho. Deus mandou destruir tudo, tudo mesmo, inclusive
as crianças e os recém-nascidos (sic).
Sei, no entanto, que a questão é
muito difícil e polêmica, pois está na Bíblia, a regra de fé e prática cristã,
e conflita com os princípios morais que nós julgamos aceitáveis como seres
humanos conscientes e por isso procuramos uma justificativa. Todavia, será que
há?
Eu precisei de muitos anos para
digerir isso e muito mais. Entretanto, o mais importante é estar em paz consigo
mesmo e com a consciência. E eu estou, não aceitando justificativas para toda
essa inominável carnificina.
E paz é o que eu desejo também a
você que perde um pouco do seu tempo lendo este texto de um aprendiz de
aprendiz na arte da escrita.
Ademais, não deixe de assistir ao
vídeo “Por que Deus mandou matar?” e tirar suas próprias conclusões.
Saulo Alves de Oliveira