sábado, 26 de outubro de 2013

Pequeno diálogo¹: o Pastor e eu

Pastor: “Todo o que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; o que permanece neste ensino, tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz este ensino, não o recebais em casa nem o saudeis; porque aquele que o saúda, participa de suas más obras” – 2 Jo. 1:9-11. João, apóstolo do amor, era focado nas escrituras sagradas, e tinha posição firme e contundente contra as heresias nos seus dias.

Saulo: Eu julgo muito complicado trazer, ao pé da letra, esse ensinamento do apóstolo João, proferido há quase dois mil anos, para os nossos dias.

Pastor: Os evangelhos sinóticos dizem “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão” – Lc. 21:33, Mt. 24:35, Mc. 13:31.  “Toda a Escritura divinamente inspirada é também útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir na justiça” – 2 Tm. 3:16.

Saulo: Caro pastor, na sua igreja existem pessoas ricas? As mulheres ensinam e pregam? Há pastoras? Se as respostas forem "sim", eu pergunto: como ficam, nos nossos dias, os ensinamentos de Jesus em Mt. 19.21 e de Paulo em 1 Co. 14.34,35 e 1 Tm. 2.11,12?

Pastor: Não confunda alhos com bugalhos, temos o essencial e os assessórios.

Saulo: Pastor, desculpe-me a pergunta, é somente para eu entender corretamente o seu comentário. O senhor quis dizer realmente “assessórios” ou “acessórios”?

Pastor: Acessórios, falha nossa.

Saulo: Bom, então eu entendi que, apesar de 2 Tm. 3.16, a atitude de não receber em casa e nem sequer falar com quem não tem o ensinamento de Cristo, conforme ensinou o apóstolo João em 2 Jo. 1.9-11, é essencial, entretanto a mulher não falar na igreja, conforme ensinou o apóstolo Paulo em 1 Cor. 14.34,35, é apenas um acessório. Também é apenas acessório o ensinamento de Jesus aos ricos: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me”.      

¹Real

Saulo Alves de Oliveira

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O animal humano, e os outros

“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego; e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade".
                                                     Eclesiastes 3.19

Às vezes eu me ponho a pensar sobre certos aspectos da vida humana. Outro dia à tarde eu saí para resolver algumas coisas e, na volta, dirigindo meu carro pelas ruas da cidade, comecei a pensar acerca das semelhanças que há entre os seres humanos e os outros animais.

Quando nos comparamos com os mamíferos as semelhanças são extraordinárias. Quando reduzimos o quadro e nos colocamos entre os grandes primatas, as semelhanças são estonteantes. Quando olhamos o chimpanzé, aí ficamos sem palavras, pois as semelhanças são estarrecedoras.


Por que nós somos tão parecidos com os animais, e de um modo muito particular com os chimpanzés?

Todos somos formados de carne, sangue e ossos. Como os grandes macacos, temos cabeça, tronco e membros. Duas pernas, dois braços, dez dedos nas mãos, dois olhos, nariz, boca, língua e dentes. Você sabia que o chimpanzé também tem 32 dois dentes como os humanos, divididos em duas arcadas de 16 dentes cada uma?

Veja a mão do chimpanzé, seus dedos, suas unhas, e compare-as com as nossas. A semelhança é impressionante.

Todos nós, animais e seres humanos, nos alimentamos de igual modo, engolimos os alimentos pela boca, processamos e absorvemos os nutrientes no estômago/intestino e expelimos o refugo exatamente da mesma forma, isto é, como urina ou fezes.

Como os humanos, os chimpanzés apresentam expressões faciais para todo tipo de emoção como alegria, raiva, depressão e medo. Eles usam mãos e braços em seus cumprimentos, se beijam e, como nós, o que eu não sabia, também ficam com os pelos grisalhos na velhice.

Todos temos cérebro e inteligência, muito embora aí resida a grande diferença a favor dos seres humanos. Desenvolvemos uma inteligência muito maior que a de todos os outros animais. Mas, às vezes, penso: será que isso foi bom?, pois estamos destruindo o planeta e a nós mesmos.

Julgo dispensável dizer qualquer coisa acerca do processo de envelhecimento e morte, pois são exatamente iguais. A única diferença deve-se aos recursos artificiais descobertos ou inventados pela inteligência humana maior, tais como: a medicina, os medicamentos, as vacinas, os exercícios, os hábitos de higiene pessoal, uma alimentação saudável, etc., que em muitos casos retardam o envelhecimento e a morte. Todavia, por mais que se posterguem esses processos naturais, o final e o fim são exatamente iguais para todos os animais, inclusive os humanos mais ricos ou poderosos.

Se tem alguma dúvida quanto a isso, faça um simples experimento mental. Imagine ao relento, à mercê da natureza, dois corpos que acabaram de expirar, um humano e outro de um animal qualquer, um chimpanzé, por exemplo.

Dias depois volte ao local e veja o triste aspecto em que se encontram os dois corpos. Corpos inchados e em putrefação sendo devorados pelos vermes e bactérias. Um espetáculo chocante e deprimente, que nem todas as pessoas têm condições emocionais e físicas de ver.

Volte dois anos depois e você encontrará apenas os ossos. Volte novamente 30 anos após e você não encontrará mais nada. Os próprios ossos se desintegraram e os minerais que os compõem se integraram ao solo local.        

Entretanto, confesso-lhes que o que mais me impressiona é a maneira como nós vimos ao mundo, isto é, como nós nascemos, e o sexo. No caso dos mamíferos, o processo de concepção, geração da vida, formação do ser vivo e seu nascimento é exatamente o mesmo. Todos, animais e humanos, temos genitálias semelhantes, e estas participam desse processo de modo exatamente igual. 

O ato sexual é algo muito animal, carnal e nada tem de espiritual, e nos revela o extraordinário grau de parentesco que temos com todos os outros animais. Acho que, se já viu o relacionamento sexual de dois outros animais, você sabe exatamente do que estou falando.

Talvez a maior diferença seja o carinho e o amor que há entre homem e mulher, mas para que haja concepção e formação de uma nova vida isso não é indispensável, e muitas vezes o que fala mais alto é o instinto animal. Também não sei dizer se os animais sentem ou não carinho ou algo parecido com amor pelos seus parceiros.

E, lamentavelmente, muitas vezes os seres humanos se assemelham mais aos brutos do que a seres dotados de inteligência e sensibilidade. Estão aí os pedófilos e os estupradores para provar.

Enlouquecido por décadas de cativeiro e desesperado para estabelecer contato, um chimpanzé furioso acaba reagindo às táticas tranquilizadoras da Dra. Jane Goodall, que se curva em um gesto de submissão
Que me perdoem os que tomam o Gênesis ao pé da letra, mas as semelhanças entre os humanos e os outros animais são tão grandes que me levam a concluir que essa é uma, apenas uma das evidências de que o velho Charles Darwin tinha razão.    

Saulo Alves de Oliveira

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Estado não tem igreja

Há pessoas que, ao escutarem a expressão “Estado laico”, fazem de imediato uma associação com “Estado ateu”. Todavia, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Estado laico é o Estado que não privilegia nenhuma religião, em detrimento de outras, e nem a falta de religião. O Estado laico garante a todos o direito de crer ou de não crer.

No Estado laico, cultos, missas, cerimônias religiosas ou proselitismo são feitos em casa e nos templos, não nas repartições públicas e órgãos do Estado.

A França está de parabéns ao publicar a Carta da Laicidade, na qual lembra a todos os cidadãos franceses que o Estado não tem religião.

Que esta carta sirva de lição a todos os brasileiros bem como aos fundamentalistas norte-americanos.

Reproduzo abaixo uma pequena matéria divulgada pela revista CartaCapital sob o título  “O Estado não tem igreja”.

“A França decidiu entrar na contramão de países como os Estados Unidos – hoje contaminados, em sua vida política e social, por uma visível atmosfera carola, quase teocrática. A nação que proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, continua fazendo jus à tradição de liberdade e igualdade.

A rentrée escolar coincidiu com a proclamação, pelo ministro da Educação, Vincent Paillon, de uma Carta da Laicidade, 15 mandamentos que lembram que todo cidadão francês é livre para crer no que quiser (e também para não crer), que o Estado não tem religião e que, portanto, as escolas públicas (55 mil) devem vetar símbolos e objetos religiosos que lembrem qualquer crença religiosa.

O documento tem a bêncão do presidente François Hollande, que parece disposto a pagar o preço da incompreensão dos radicais da fé, especialmente os muçulmanos extremados, que se consideram estigmatizados pelo novo código.

Na verdade, a queixa vem de 2004 e do governo Sarkozy, que proibiu o véu islâmico nas escolas públicas francesas.


A Carta da Laicidade

1
A França é uma república indivisível, laica, democrática e social que respeita todas as crenças.

2
A república laica organiza a separação entre religião e Estado. Não há religião do Estado.

3
O laicismo garante a liberdade de consciência. Cada qual é livre para crer ou não crer.

4
O laicismo permite o exercício da cidadania, conciliando a liberdade de cada um com a igualdade e a fraternidade.

5
A república garante o respeito a seus princípios nas escolas.

6
O laicismo na escola oferece aos alunos as condições para forjar sua personalidade e os protege de todo proselitismo e toda pressão que os impeça de fazer sua livre escolha.

7
Todos os estudantes têm garantido o acesso a uma cultura comum e compartida.

8
A Carta do Laicismo assegura também a liberdade de expressão dos alunos.

9
Garante-se o repúdio às violências e às discriminações e assegura-se a igualdade entre meninas e meninos.

10
O pessoal das escolas está obrigado a transmitir aos alunos o sentido e os valores do laicismo.

11
Os professores têm o dever de ser estritamente neutros.

12
Os alunos não podem invocar uma convicção religiosa para contestar uma questão do programa.

13
Não se podem rechaçar as regras da escola invocando uma filiação religiosa.

14
Está proibido portar signos ou objetos com os quais os alunos manifestem ostensivamente suas filiações religiosas.

15
Com suas reflexões e atividades, os alunos contribuem em dar vida à laicidade no seio de seu estabelecimento escolar.”

Revista CartaCapital de 25/09/2013