sábado, 25 de agosto de 2018

A propósito do tema “aborto”

Por Saulo Alves de Oliveira

Eis uma questão para os homens casados.

Não! Não só para os casados. Para os solteiros também. Certamente um dia muitos estarão casados.

Suponhamos que um infortúnio, indesejável para qualquer pessoa, bateu à porta da sua família e sua esposa foi vítima de um estupro. Evidentemente, eu não desejo que ninguém sofra experiência tão aviltante. Eu já vivenciei situação análoga com alguém muito próximo à minha família. É apenas uma conjectura para atingir um objetivo.

Suponhamos também que, eventualmente, tal violência resultou em uma gravidez com certeza indesejada. Nesse caso hipotético, o que você faria?

1 - Seria terminantemente contra o aborto e não levaria em consideração a opinião da sua companheira?

2 - Exigiria que sua esposa abortasse e não levaria a opinião dela em consideração?

3 - Se você e sua esposa concordassem que a criança deveria vir ao mundo, você aceitaria tal situação de forma altruísta e ajudaria sua companheira a levar a gravidez até o fim, proporcionando-lhe todos os cuidados que a situação exige, demonstrando, inclusive, todo o carinho e compreensão como se ela estivesse grávida de um filho seu? Todos sabemos que a gestação traz para a mulher muitas transformações e desgastes, às vezes não só físicos, mas também de ordem psicológica, tratando-se de um período durante o qual ela precisa de muito apoio e compreensão. Tenha em mente também que durante a gravidez ela carregará em seu ventre o filho de um crápula da pior espécie. Evidentemente, a criança não tem nenhuma culpa.

4 - Você se comprometeria a criar, com todo carinho e cuidados, o filho da sua esposa com o estuprador como se filho seu fosse?   

5 - Se ela resolvesse abortar, e sendo você contra o aborto, você estaria disposto a apoiá-la mesmo contra sua vontade? Você permaneceria o marido carinhoso e compreensivo de sempre?

6 - Se sua companheira resolvesse levar a gravidez até o fim, contra sua vontade, você teria o mesmo comportamento do item “3”, acima?

7 - Se vocês dois decidissem não ter aquela criança, você tomaria todas as providências necessárias para que o aborto ocorresse com todos os cuidados médicos necessários?

Resumindo:

Se sua esposa fosse vítima de um estupro e, em decorrência dessa violência, engravidasse, qual seria a sua atitude?

(modificado em 21/08/2020)

domingo, 5 de agosto de 2018

Pode “bypass” no Judiciário? Sim! *

E na Igreja? Claro que não!

Por Saulo Alves de Oliveira

Há pessoas que defendem rígida obediência a certos princípios quando o desrespeito a tais princípios as atinge. Entretanto, quando atinge a outros, especialmente seus desafetos, os princípios se diluem como um pingo de tinta no oceano da desfaçatez humana.

Para ilustrar, vou citar uma possível situação que – se não vivenciei na prática, ouvi rumores e também ouvi ensinamentos a respeito – é totalmente factível.

Um pastor regional, ou mesmo um pastor de uma igreja local, jamais aceitaria que um presbítero ou um pastor subordinado desrespeitasse sua autoridade, mesmo que, eventualmente, o pastor de maior hierarquia estivesse errado. E eu tenho certeza absoluta que este lançaria mão de várias referências bíblicas para repelir a atitude do subordinado. Não falo de padres e bispos católicos porque essa não é a minha experiência religiosa, mas acredito que não deva ser muito diferente.

(Certa vez ouvi um pastor famoso no Brasil dizer que ninguém deve confrontar seu pastor, mesmo que este seja um ladrão (sic). E segue uma ameaça: “Meu irmão, não se mete nisso não!” É claro que isso é uma forma de amedrontar e controlar as mentes de muitas ovelhinhas. As tolas, evidentemente. E dá um bom retorno, financeiro, é claro.)

Entretanto, quando, em outra circunstância da vida, um subordinado desrespeita a autoridade do seu superior hierárquico, e aquele subordinado, segundo especialistas, não tem nem sequer competência para interferir no caso na fase em que se encontra, não sendo nem ao menos o responsável pela administração daquela situação, o subordinado é largamente elogiado por tais pessoas. E pasmem: o elemento extrapolou sua competência, se insubordinou, e é tido como herói.

(O interessante é que algumas dessas pessoas, no passado, já me serviram de paradigma.)

Tal fato não me surpreende mais. Antes eu ficaria angustiado, pois não foi assim que me ensinaram nos bancos da igreja. Atualmente, porém, tal situação me parece totalmente normal – normal aqui não é sinônimo de correção –, porquanto eu aprendi, ao longo dos anos, que o ser humano é exatamente isso, “dois pesos e duas medidas” ou “os fins justificam os meios”, não importam o seu grupo social e sua posição dentro desse grupo social.

Isso me faz ligar o meu scanner e me visualizar por inteiro. Portanto, tenho que me policiar, o que é nada fácil, para não me deixar contaminar com os dois conceitos em destaque acima, considerando que também sou um ser humano.                

Há um pastor, por quem eu tinha muito respeito e admiração, que a cada dia me decepciona mais e mais. Suas posições, no entanto, hoje não me surpreendem mais. Ele elogia o Sr. Moro que desrespeitou a autoridade de um superior hierárquico, o Desembargador Favreto, quando, segundo especialistas, o Sr. Moro não tinha nenhuma competência para interferir no caso na fase em que estava, inclusive ele não é o juiz responsável pela administração da prisão do Lula. Eu gostaria muito de saber qual seria sua atitude se um presbítero ou um pastor subordinado desrespeitasse sua autoridade ou a autoridade, por exemplo, de um pastor regional, mesmo que, eventualmente, ele ou o pastor regional estivessem errados.       


* “Bypass” é uma palavra inglesa que quer dizer ignorar ou passar por cima de. Aqui é usada no sentido de ignorar ou passar por cima da autoridade do superior