sábado, 25 de junho de 2016

Não havia crianças em Sodoma e Gomorra?

Por Saulo Alves de Oliveira

Em um passado remoto, segundo o Gênesis, Deus resolveu destruir as cidades de Sodoma e Gomorra com todos os seus habitantes. Motivo: “...porquanto o seu pecado se tem agravado muito...” – Gn. 18. 20.

Previamente, no entanto, Deus decidiu comunicar ao patriarca Abraão aquela sua decisão que encerrava gravíssimas consequências.

Ao tomar conhecimento daquela tragédia iminente, Abraão dialoga com Deus e faz vários questionamentos. Após um interessante diálogo com o patriarca, o Senhor diz que não destruiria as cidades se lá fossem encontrados pelo menos 10 justos.

Supõe-se, evidentemente, que o Senhor não encontrou os 10 justos, pois as duas cidades e todos os seus moradores foram destruídos pelo fogo caído do céu, poupando-se apenas Ló, sua mulher e suas duas filhas. Na realidade, segundo o relato bíblico, a mulher de Ló também morreu, pois, ao olhar para trás, ficou convertida em uma estátua de sal.

Quem se interessar pode ler ou relembrar a história no livro do Gênesis, capítulos 18 e 19.

Após meditar sobre a história de Ló, essas são as reflexões que invadem a minha mente:

- Tratando-se de dois ajuntamentos humanos, é lógico admitir que havia crianças em Sodoma e Gomorra;

- Se havia crianças, é plenamente aceitável admitir que havia seres inocentes;

- Se havia seres inocentes, penso que é correto admitir que, se eram inocentes, aqueles seres eram justos.

(Vou me abster de fazer referência aos animais)

- Portanto, se havia crianças em Sodoma e Gomorra, por que mesmo assim o Senhor destruiu totalmente as duas cidades, matando todos os seus moradores?  

Eu já li a seguinte justificativa – para essa situação inaceitável sob o ponto de vista moral de qualquer povo minimamente civilizado: inocente não quer dizer obrigatoriamente não ímpio. Portanto, Deus destruiu todos os ímpios, e aquelas crianças, apesar de inocentes, também eram ímpias (sic). O que vem confirmar as minhas observações ao longo dos anos: dada uma determinada situação, por mais absurda que seja, se está na Bíblia, alguém sempre encontra uma forma de justificá-la. Tenho a impressão de que dá-se aí uma tentativa de acalmar a própria consciência ou alcançar, a qualquer custo, o beneplácito do Criador.

Há quem justifique até a terrível ordenança de I Sm. 15.3: “Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém matarás homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos e jumentos”. E, para contornar a dificuldade, levanta-se a hipótese de linguagem hiperbólica, isto é, não era bem aquilo que o Senhor ordenara. Um verdadeiro exercício de contorcionismo mental para justificar algo que já está evidente.

Na realidade, o texto é claríssimo. Leia todo o capítulo de I Sm. 15 e você verá inclusive que Saul foi rejeitado como rei de Israel porque não cumpriu toda a ordem do Senhor, pois preservou o melhor do rebanho. Deus mandou destruir tudo, tudo mesmo, inclusive as crianças e os recém-nascidos (sic).

Eu não entendo como crianças podem ser ímpias, dadas as seguintes palavras de Jesus: “Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino dos céus”. Você entende? Ímpios podem herdar o reino dos céus? Bom, para os judeus certamente essa declaração não tem nenhum valor. Ou, nesse caso, Jesus se referia apenas às crianças judias?

Para sair desse cerco, talvez alguns usem a porta de Dt. 29.29 e se satisfaçam. Quanto a mim, continuarei insistindo na pergunta. Quem sabe um dia eu encontre uma resposta razoável. 

sábado, 18 de junho de 2016

Aguardando provas

Por Saulo Alves de Oliveira

Não acredite em ninguém de forma incondicional, ainda que se trate de uma autoridade, quer seja um pastor, padre, rabino, imã, cientista, professor, político, seus próprios pais, etc.

Qualquer afirmação pode e deve ser questionada se não forem apresentadas evidências convincentes.

Portanto, questione tudo o que for dito a você e peça que lhe sejam apresentadas as evidências do que foi afirmado.

E lembre-se sempre: afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.  

Isso se chama questionar os “argumentos de autoridade”.

Se não lhe forem apresentadas evidências convincentes, a princípio não tome a autoridade por mentirosa, no máximo deixe tudo numa "gaveta" chamada "aguardando provas".

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Se recorreu a um ser humano, seja honesto...

Não diga que foi Deus.

Por Saulo Alves de Oliveira

Ao longo dos anos, eu venho percebendo muitas coisas interessantes e às vezes incoerentes no meio dos crentes. Uma delas é a que se segue.

É comum se afirmar, com fundamento na Bíblia, que Deus, através da oração, resolve tudo. Mas tudo mesmo. De uma simples dor de cabeça a uma grave doença, de um problema familiar até uma intrincada questão na justiça. E por aí vai.

De repente, alguém começa a enfrentar uma certa dificuldade. Então, em vez de fazer como Jesus ensinou – “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” -, a pessoa liga para deputado Fulano, que por sua vez liga para deputado Beltrano, que liga para determinado diretor, juiz, político, secretário, ministro, etc. e de imediato o problema é resolvido.

Talvez em algumas situações tal procedimento até se justifique. Portanto eu não quero criticar quem age assim. Quem sabe um dia eu também venha a necessitar da ajuda de alguém! Espero que não, mas, como se diz popularmente: “O mundo dá muitas voltas”. A minha crítica, entretanto, é outra.

O que me incomoda é quando alguém, depois de recorrer a uma cadeia de comando humana, na qual há vários interesses envolvidos, inclusive políticos, vem a público afirmar que foi Deus quem interferiu e resolveu seu problema.

E há quem acredite nisso. Há crença pra tudo neste mundo! Se você assim acredita, e pensar dessa forma lhe satisfaz, seja feliz meu amigo. Quanto a mim... prefiro parar por aqui.