terça-feira, 24 de abril de 2012

Cadê o vovô? Essa é para os espíritas

Fui até o escritório e disse: “Paola, estou indo pra aula, sua avó está em casa e sua mãe logo chegará.”

Despedi-me assim da minha neta de 4 anos, que estava brincando no computador, e saí de casa por volta das dezoito horas e quarenta minutos. 

Terminada a aula, resolvi visitar meu pai, e fiquei em sua casa até por volta das vinte e duas horas. Cerca de dez minutos depois, estava de regresso a minha casa.

- Papai, você esteve em casa entre oito horas e oito e trinta?, perguntou Vítor, meu filho. 

- Não!, respondi com surpresa. Por quê?  

- É que a Paola lhe procurou dizendo que viu você chegar, arrematou o Vítor.

Como minha neta já estava dormindo não pude conversar com ela.

No dia seguinte, falei com a Sulanira, minha esposa, sobre o episódio.

- É, ela esteve no quarto, abriu a porta do closet e perguntou: “Cadê o vovô?”, pensando que você estava no banheiro.

- Seu avô foi pra aula e ainda não voltou, respondeu a avó.

- Mas eu vi o vovô chegar!, insistiu minha neta.

Bem, perguntaria alguém, por que você está contando essa história?

Acho que outra pergunta trará um pouco de luz à questão: o que diriam os espíritas e seus simpatizantes se, enquanto estava fora de casa, eu tivesse morrido ou sofrido um grave acidente? Já respondo: certamente que o meu espírito teria vindo avisar a minha família, e somente minha neta, por ser mais sensível à espiritualidade – quiçá médium –, percebeu. 

Quantas histórias similares nós já ouvimos parentes ou amigos relatarem?

“Eu pensei em meu amigo e logo em seguida ele ligou ou chegou a minha casa”; ou “Eu senti a presença do meu filho, ou ouvi sua voz, e pouco depois chegou a notícia de que ele sofrera um grave acidente e estava em coma ou morrera”. E por aí vai. Os exemplos são muitos.

Na realidade, tudo não passa de uma coisa chamada coincidência; e o que se percebe é que as pessoas só levam em conta o que eu denomino de “registros positivos”, ou seja, só lhes sensibilizam os supostos avisos ou pressentimentos quando estes coincidem com situações reais. Quando não, e não são poucos, suas mentes não os registram ou não os consideram, pois não as impressionam. Os supostos avisos que não se concretizam não são considerados, pois não chamam a atenção.

Você já prestou atenção a quantas vezes “sentiu” a presença de alguém, “ouviu” uma voz, teve um suposto “aviso”, até em sonhos, ou uma premonição, e nada aconteceu? É o que eu chamo de “registro negativo”. Ninguém leva em conta os registros negativos. Eles passam despercebidos.   

Se você é suscetível a essas sensações ou avisos, faça uma experiência. Ao longo de certo período, por exemplo, um ano, anote todas as vezes que eles ocorrerem, e depois veja quantas vezes nada aconteceu. Compare-as então com os registros positivos. É um bom caminho para se chegar a alguma conclusão. Nada conclua com base em apenas um evento, pois é assim que se formam as crendices populares.

Sempre que você tiver uma experiência aparentemente mística, procure primeiro uma explicação racional. Talvez você encontre uma explicação simples que tem muito mais a ver com o terreno do que com o sobrenatural.  

Existe um princípio conhecido dos cientistas denominado “A Navalha de Occam”. Ele diz mais ou menos assim: entre duas hipóteses que explicam os fatos, escolha sempre a mais simples.

No caso que relatei acima, como explicar o fato da minha neta ter sentido a minha presença em casa? Com certeza eu não sei a resposta exata, pois viajei no dia seguinte e só regressei três dias depois. Infelizmente, quando conversamos, ela não mais se lembrava da história. Mas há possíveis explicações bem simples, como esta, por exemplo: todos os familiares estavam em casa, exceto eu; ela pode ter ouvido o barulho do carro do vizinho ao chegar em sua casa e ter concluído que era o meu carro entrando na garagem da nossa casa. Há uma série de outras explicações simples que dispensam a necessidade de se recorrer a algo místico.     

O meu ceticismo, todavia, não é algo inflexível. Eu não sou cético ao ponto de não admitir que o ser humano possa ser dotado de sentidos ainda não compreendidos, mormente em relações muito próximas como a de mãe e filho. Quem não é suscetível a examinar experiências novas, jamais correrá o risco de descobrir realidades novas. Porém, enquanto não forem apresentados estudos com evidências irrefutáveis, feitos por grupos independentes de cientistas, sem qualquer interesse no tema, para mim tais fatos continuarão como fantasias da mente humana ou crendices populares ou mera coincidência.  

Contudo, se lhe satisfaz continuar acreditando em coisas fantasiosas simplesmente porque lhe traz conforto, tudo bem, a escolha é sua. Quanto a mim... bem, quanto a mim não me satisfaz simplesmente acreditar. O que eu quero é descobrir o que há realmente de verdade no recôndito das experiências humanas.

Saulo Alves de Oliveira

domingo, 8 de abril de 2012

É simples assim? Para os honestos, sim

Há dias venho acompanhando a briga entre duas “estrelas” do mundo neopentecostal. Creiam-me, colocados os dois numa balança de dois pratos – um em cada lado, evidentemente –, do tipo que ainda hoje se usa nas feiras livres, eu não me arriscaria a dizer previamente para qual dos lados a balança penderia. Para este beócio opinante, os dois se equivalem. Como diz o velho ditado: é o roto falando do mal-lavado.

Recentemente a TV de um desses dois senhores apresentou uma longa reportagem fazendo graves acusações contra o outro. A reportagem dizia que o acusado adquiriu, com recursos da Igreja – ou melhor, com o dinheiro dos fiéis, muitos deles pobres de Jó –, uma propriedade com milhares de hectares e um grande rebanho bovino. 

Qualquer que seja o comprador – caso a história se confirme –, o fato em si é uma enorme imoralidade.

Ainda que o bem tenha sido adquirido com recursos da Igreja para a própria Igreja, isso só se justificaria se o objetivo fosse a caridade, ou seja, distribuir carne e outros alimentos para os pobres ou mesmo doar terras para trabalhadores rurais desempregados, ou algo nesse sentido. Não sem antes o conhecimento e aprovação dos fiéis. Entretanto, se a finalidade é o simples investimento, alguma coisa está vergonhosamente errada nessa história. Eu sempre soube que a missão da Igreja é pregar o Evangelho e não investir em bens materiais. Bom, pelo menos era essa sua finalidade nos tempos idos, mas como as coisas mudam... alguns estão fazendo da igreja um trampolim para saltar e descansar nos braços de Mamon.

Por outro lado, se os bens foram comprados com recursos da Igreja para o seu líder, isso é apropriar-se indevidamente do dinheiro da instituição. Dinheiro este solicitado com tanta insistência e de modo tão lastimoso para outras finalidades e doado com tanto sacrifício pelos fieis. (Ressalte-se: valendo-se muitas vezes de métodos no mínimo questionáveis.) A se confirmar esta hipótese, eu acho que alguém deveria fazer alguma coisa. Quem sabe o ministério público devesse intervir para barrar essas vergonhosas ações, não só deste senhor, mas também daquele e de muitos outros que agem suposta, falsa e impunimente em nome de Deus, que, cheguei à conclusão, não interfere neste e em muitos outros casos de mercenarismo. Talvez haja uma explicação racional para isto! Ou, então, pergunte-se: seria o deísmo uma realidade? Bom... não sei... estou apenas conjecturando.     

(Até quando isso vai perdurar? Até quando muitos brasileiros continuarão com a venda que lhes cobre os olhos? Até que ponto chegará esse estado de coisas sem que alguém tome nenhuma providência? Qual será o destino do protestantismo no Brasil?)

Se os bens foram comprados com recursos do próprio líder da Igreja, a situação é mais amena, porém ainda assim tem um aspecto seríssimo a ser considerado. O que faz um homem de origem modesta, que ganha a vida como pastor, acumular uma fortuna suficiente para investir em um bem tão caro? Até onde me é dado saber, pastor ganha salário e ninguém que vive unicamente de salário consegue ficar milionário. Ou não? Será que isto é apenas delírio de uma mente dessintonizada com a realidade dos novos tempos?

Aliás, eu defendo uma tese: é quase impossível alguém acumular fortuna honestamente. Esclareço. Quando eu me refiro a honestidade não pretendo afirmar que as pessoas roubam no sentido mais comum do termo, como é o caso de um assalto a banco ou algo similar, muito embora isso também se aplica ao contexto. Eu me refiro em especial a: receber ou pagar suborno, sonegar impostos, fraudar licitações, contrabandear, desviar recursos de obras públicas, exorbitar nos preços dos produtos, enganar sócios, exorbitar nos juros, enganar intencionalmente o comprador, apropriar-se dos recursos de uma igreja através de artimanhas secretas... e por aí vai. Na realidade todos os exemplos citados são formas sutis ou sofisticadas de roubar. Quantos se refestelam em seus ricos “palácios” construídos sobre fundações de corrupção, roubo e exploração? E todos os domingos vão aos mais diversos templos agradecer as “bênçãos” de Deus! (sic). Irônico, não?    

Acredito que um bom exemplo que contraria a minha tese é o de quem ganha um grande prêmio na loteria. Bem, isso é apenas divagação que merece um comentário específico e à parte. Vou voltar ao assunto em questão e já concluindo.   

Na realidade ao acusado só caberia uma atitude para dirimir todas as dúvidas, além de processar a TV do seu desafeto, obviamente. Vir a público e mostrar, de forma clara e transparente, como foi a transação e qual a origem do dinheiro.

É simples assim? Para os honestos, sim.

Saulo Alves de Oliveira