sábado, 4 de janeiro de 2020

Você já questionou Deus?

Por Saulo Alves de Oliveira

Todos os humanos nascemos com algum grau de inteligência, uns mais outros menos. Pode-se dizer o mesmo dos outros animais. No meu caso, talvez mais para menos do que para mais. Acho que estou só um pouquinho acima da mediocridade. Todavia, apesar das minhas limitações – em relação às quais não preciso de nenhuma advertência, pois tenho consciência das tais –, também tenho alguma capacidade de exercitar o pensamento. E, como seres inteligentes, em maior ou menor grau, todos somos “equipados” com essa mesma capacidade.

Ser um ser pensante traduz-se na possibilidade de questionar o que não entendemos ou quando a dúvida, por menor que seja, nos assalta. E tal característica, obviamente, também é uma verdade em relação a Deus. Há quem se autoanule e diga não!

Sendo assim, aproveito a oportunidade para exercitar o que acabo de afirmar. Qual é a lei que diz que o ser humano não pode questionar o Criador? Quando foi que Deus proibiu suas criaturas de o questionarem? Quem o ouviu fazer tal afirmação? Teria Deus algum prazer especial em relação àqueles que emudecem frente às próprias dúvidas?

Parece-me impossível – posso estar enganado! – que alguém vivo e mentalmente são não tenha feito, em algum momento da sua vida, aos menos alguns poucos questionamentos acerca de ou a Deus. O que dizer daquelas situações em que nos descobrimos sós ou com todas as portas cerradas, literalmente perdidos, refletindo sobre a vida e sobre nossos problemas, e, sem compreender certos fatos, questionamos Deus com um simples “Por que eu?” ou “Se tu és justo, por que permitiste tal injustiça?” É razoável acreditar que a maioria de nós já teve tal experiência. E sabe o porquê? Porque somos totalmente humanos, não somos deuses, não conhecemos todas as coisas e, por conseguinte, ansiamos por descobrir a razão do encoberto e o oculto que nos atormenta.

Eventualmente a diferença entre nós – sem nenhuma pretensão deste sempre aprendiz da realidade, pois tudo é apenas fruto das nossas experiências pessoais –, é que alguns questionam em silêncio, no seu íntimo, e eu externo as minhas ansiedades e dúvidas. Talvez alguns de nós, compreensivelmente, tenham medo de Deus, o tirano incutido em suas mentes, que não aceita ser questionado e castiga os que ousam fazê-lo.

Talvez essa percepção equivocada seja fruto da educação que muitos de nós recebemos, pois, apesar das diferentes vertentes cristãs religiosas em que fomos criados, tivemos, neste aspecto da religião, isto é, como relacionar-se com o divino, mais ou menos a mesma educação cristã. Felizmente, ou quem sabe infelizmente – mais uma vez posso estar enganado – eu vislumbrei, tal qual Saulo de Tarso no caminho de Damasco, uma luz que, ao contrário do apóstolo, não criou escamas nos meus olhos, fê-las caírem, e me livrou de certas amarras que tolhiam ou freavam a minha capacidade de pensar e, consequentemente, de descobrir o que de fato é a vida real e não as distorções dessa realidade, às vezes dura. Todavia me parece mais saudável enfrentar essas verdades duras do que satisfazer-me com fantasias consoladoras.

No entanto, amigo, se você se sente bem assim, sem externar seus questionamentos acerca de ou a Deus, continue com suas convicções, não atente para as minhas ponderações, pois na vida o mais importante para muitas pessoas é somente aquilo que lhes faz bem e lhes transmite paz, ainda que, às vezes, apenas o fruto da própria imaginação.