domingo, 18 de setembro de 2011

Por que não acredito em Astrologia - Parte 2

Reproduzo, como fiz na Parte 1, trechos do livro Superciência, de Michael White. Sei que o texto ficou maior do que eu gostaria. Entretanto não poderia deixar de ressaltar o que julgo mais importante, sob pena de prejudicar a transmissão das afirmações e ideias do autor. Devo atribuir isso à minha sofrível capacidade intelectual, a qual, suponho – embora possa estar errado –, eleva-se um pouco acima do mais reles dos níveis, mas com certeza não o suficiente para atingir o brilhantismo.



“A tentativa mais famosa para (...) chegar a conclusões sobre a Astrologia vem da obra do psicólogo e estatístico Michel Gauquelin, que resumiu os seus esforços num livro chamado Dreams and Illusions of Astrology.

Para fazer isso, agarrou na data de nascimento de 576 membros da Academia Francesa de Medicina. Para sua surpresa, descobriu que, naquilo que considerava ser um número de casos estatisticamente significativo, as cartas astrológicas dos indivíduos tinham Marte ou Saturno a erguer-se (a isto chama-se o “ascendente”) ou estes planetas encontravam-se nesse momento no ponto intermédio do céu (o meio do céu). Para ver se isto significava realmente alguma coisa, Gauquelin repetiu em seguida o processo com uma amostra semelhante de profissões escolhidas aleatoriamente. Não descobriu qualquer correlação entre as cartas astrológicas e as carreiras que essas pessoas haviam seguido.    

Sentindo-se intrigado, Gauquelin prosseguiu a experiência com outros grupos para ver se existia um padrão emergente. Descobriu aquilo que afirmou ser um número desproporcionado de campeões desportivos que eram “regidos por Marte”, por outras palavras, em cujas cartas astrológicas esse planeta predominava. Entretanto, descobriu que artistas e escritores tendiam a ser dominados pela Lua, e que Júpiter tinha lugar de destaque na data natalícia de líderes militares, jornalistas e políticos.

Michel Gauquelin, que morreu em 1991, nunca advogou a Astrologia, mas chegou à conclusão que existia algum princípio desconhecido a intervir e algum elo estranho entre a humanidade e a matemática da natureza. Certamente nunca subscreveu o ponto de vista de que a aparente ligação com que se tinha deparado tivesse algo a ver com a influência direta desses planetas por meio de uma misteriosa força a operar no espaço interplanetário. É claro que a irmandade astrológica enalteceu Gauquelin e adotou-o como sendo um deles. Vezes sem conta, as descobertas do homem são exibidas como “prova” de que os princípios astrológicos estão corretos, que de fato somos meras criaturas sem qualquer vontade própria ou pensamento independente.     

A questão das estatísticas é uma matéria muito traiçoeira e muitos acham que nunca se pode confiar nelas para provar seja o que for, a menos que sejam apoiadas por outra prova experimental ou análise independente. Por exemplo, imaginem que não fazíamos ideia das probabilidades de obtermos “cara” ou “coroa” quando atiramos uma moeda ao ar. Decidimos descobrir, mas estamos cheios de pressa, por isso só podemos atirar a moeda ao ar dez vezes. A sorte ditaria nesse dia que a moeda caísse de “caras” sete vezes e “coroa” três. Poderíamos então concluir (de forma errada, é óbvio) que as probabilidades de obter “cara” eram sempre 70% e “coroa” 30%.

Um experimentador ou analista estatístico mais rigoroso passaria alguns dias a fazer a mesma experiência e deitaria a moeda ao ar, digamos, 5000 vezes. Certamente obteria um resultado muito diferente do seu colega e, com um por cento de desvio, obteria 2500 “caras” e 2500 “coroas”, mostrando que a probabilidade de cada um é de 50%.

A única diferença entre estas duas experiências é a dimensão da amostra. O mesmo princípio aplica-se a qualquer análise estatística. O mesmo se aplica ao trabalho de Gauquelin. Em cada um dos seus estudos, analisou as cartas astrológicas de cerca de 500 pessoas. Isso não é suficiente e seria considerada uma amostra inadequada para dar qualquer resultado significativo.  

Além disso, no caso da primeira experiência, também contou com quatro critérios separados – juntou médicos com quatro ocorrências planetárias: Marte no ascendente ou no meio do céu e o planeta Saturno no ascendente ou no meio do céu. Isto reduz ainda mais o significado dos resultados.  

E esta não é uma objeção trivial por parte de cientistas céticos. Se os investigadores do paranormal querem ser levados a sério e querem ver suas reivindicações aceitas como sustentáveis e verificáveis, têm de seguir as mesmas regras rigorosas que a ciência aplica a si própria, caso contrário as suas ideias permanecem mera especulação e adivinhação.

Baseado nas suas primeiras descobertas, Gauquelin esperava um teste que envolvesse 2000 generais do exército para mostrar que tinham uma predisposição para o signo Carneiro. De fato, descobriu-se que os generais haviam nascido dentro de um espectro astrológico aleatório. Além disso, é significativo que desta vez a amostra seja maior (e, logo, estatisticamente mais consistente), e o teste seja baseado na ligação de uma única patente a um único signo astrológico.           

[Normalmente os horóscopos contêm informações muito vagas que se aplicam a grande maioria das pessoas, independentemente do signo. E já têm sido feitas experiências que comprovam isso.] 

(...) [O próprio] Michel Gauquelin pôs um anúncio na revista Ice Paris oferecendo horóscopos grátis a qualquer pessoa que respondesse ao anúncio. Recebeu 150 pedidos e remeteu os horóscopos. Depois, acompanhou o assunto perguntando a cada um deles o que achava do horóscopo que recebera. Noventa e quatro por cento disse acreditar que o horóscopo se encaixava perfeitamente na sua personalidade. Aquilo que Gauquelin não disse foi que todos haviam recebido o mesmo horóscopo... o do Dr. Petroit, um infame assassino em série francês.”      

(...) Que fazer com o fato de a astrologia antiga, que permaneceu ostensivamente inalterada durante muitos milhares de anos, se basear na premissa de que apenas existiam seis planetas no nosso sistema solar? Os antigos apenas observaram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Os outros três planetas do sistema solar foram todos descobertos durante os últimos 250 anos (...), Plutão [o último deles, que em 2006 perdeu o status de planeta], foi observado pela primeira vez em 1930.     

Os astrônomos observam que se estes três planetas eram desconhecidos, então é obvio que todas as cartas desenhadas antes de 1930 estavam incorretas, mesmo que a influência celeste reivindicada pelos astrólogos seja real. Quando questionados sobre isto, os astrólogos ficam estranhamente mudos. Quando dizem alguma coisa, a sua resposta mais comum é dizer que a descoberta desses planetas não faz diferença. Quando interpelada sobre isto, a popular astróloga e autora de muitos livros sobre o assunto, Linda Goodman, afirmou intrigantemente que “um planeta não tem qualquer influência astrológica até ser descoberto” [sic]. Uma afirmação que compromete seriamente todas as premissas em que a Astrologia é construída.

 Os astrônomos há muito que conhecem um fenômeno chamado precessão. Isto é outro nome para “oscilação” e é exibido por qualquer corpo em rotação. À medida que a Terra roda, caminha em precessão, o que significa que para observadores na Terra, a posição relativa do Sol e da constelação muda durante um período de alguns séculos. É claro que esta posição relativa do Sol em relação às constelações é a essência da Astrologia – um signo é literalmente a constelação em que o Sol estava posicionado no momento do nascimento. As constelações e as datas do calendário foram fixadas há 2000 anos, dando-se determinadas datas para determinados signos. Por exemplo, os Sagitarianos nascem entre 22 de Novembro e 21 de Dezembro.

Mas, durante os últimos 2000 anos, a relação entre as datas e os signos mudou, pelo menos, o equivalente a um signo, de forma que os Sagitarianos são na verdade Escorpiões, os Aquarianos nascem realmente sob Capricórnio, etc. Deixo o leitor adivinhar o que isto significa para os traços de personalidade que muitos astrólogos ligam alegremente aos signos.

Os astrólogos ignoram este golpe para a arte e afirmam que é irrelevante; o que, se precisássemos de mais provas, demonstra que os astrólogos não são certamente cientistas. Os cientistas não ignoram provas experimentais verificáveis e suscetíveis de ser repetidas. 

É óbvio que o cientista e, para ser honesto, qualquer outra pessoa que se oriente pela razão e pela lógica, pela observação e pela experiência, não pode levar a Astrologia a sério. (...) Não há uma base racional para a Astrologia e esta não funciona pura e simplesmente. O mundo não opera da forma como os astrólogos fantasiam. Os nossos caracteres individuais são moldados por duas coisas – natureza e educação (genética e meio).     

Não precisamos de nada mais esotérico – a genética e o meio (a experiência) são suficientemente espantosos e dão ao mundo toda a variedade, excitação e maravilhosa diferenciação que poderíamos pedir. Juntos, dão-nos um mundo muito colorido cheio de indivíduos, bons, maus, horríveis e belos. Com isto, quem precisa de Astrologia?”
Saulo Alves de Oliveira

Obs:
1 - As citações entre colchetes [ ] não são de responsabilidade do autor do livro.
2 - Se quiser ler algo mais acerca do tema, sugiro dar uma olhada em “O silêncio dos astros”. Basta clicar no link abaixo.