sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O que você faria no lugar de Ló?

Por Saulo Alves de Oliveira

Algumas histórias bíblicas aguçam a minha curiosidade e, às vezes, me deixam perplexo. Exemplo típico é um episódio na vida de Ló.

Conta-nos o Gênesis que Deus resolveu destruir as cidades de Sodoma e Gomorra e suas circunvizinhanças tão grandes eram o pecado e a maldade dos seus moradores. Havia ali, entretanto, um homem justo chamado Ló e Deus decidiu poupá-lo juntamente com sua família.  

Sendo assim, Ló recebeu em sua casa dois anjos que, sob a forma de seres humanos, chegaram para lhe advertir acerca da iminente destruição de Sodoma e Gomorra e para retirá-lo de lá.

Vendo aqueles desconhecidos, os homens da cidade de Sodoma cercaram a casa de Ló e lhe disseram: “Onde estão os homens que vieram à tua casa esta noite? Traga-os para nós aqui fora para que tenhamos relações com eles” – Gn. 19.5. (Uso uma versão da Editora Central Gospel, pois é mais explícita).

Ló, na tentativa de evitar a violência sexual contra os dois homens, ofereceu-lhes as duas filhas para que aqueles elementos enlouquecidos “façam com elas o que bem entenderem”. E tudo indica que suas filhas eram ainda muito jovens, pois eram virgens.

Diante de situação tão extrema, os dois visitantes interferiram e todos foram salvos da turba insana.

O que mais me choca é que a Bíblia nem ao menos critica a atitude de Ló, quando deveria condená-la. Ao contrário, Ló é citado como homem justo em 2 Pe. 2.7.

Há alguma justificativa aceitável para a atitude de Ló?

Por que ele não recebeu, da parte de Deus, nenhuma reprimenda por sua atitude tão indigna?

Certamente alguém deve estar pensando: “Ah, precisamos analisar o contexto histórico e os costumes da época, temos que consultar diversas versões da Bíblia para entendermos a situação, temos que ler o texto em sua língua original para emitirmos uma opinião”. É sempre assim, diante de quaisquer dificuldades bíblicas, evasivas e mais evasivas, contorcionismos e mais contorcionismos.

Tudo bem, faça isso.

No entanto, depois responda: O que você faria no lugar de Ló?

domingo, 13 de dezembro de 2015

E por falar em judeus...

Por Saulo Alves de Oliveira

Algumas características físicas minhas já denunciam que muito em breve estarei entrando na terceira fase da vida humana. Todavia, apesar dos muitos cabelos brancos, há muitas coisas que eu ainda não compreendo. Uma delas diz respeito aos judeus.

Eu não tenho nada de específico contra os judeus. Não sou contra os judeus, só não os defendo incondicionalmente.

Também não os considero melhores do que outros povos somente pelo fato de existirem grandes personalidades de origem judaica que se destacam na ciência ou em outras áreas do conhecimento. E nem por sua origem. Aliás, o nascimento do povo de Israel assentou-se sobre uma grande e vergonhosa fraude. É lógico que os israelitas atuais não podem ser responsabilizados ou punidos por isso. Portanto, respeito-os tanto quanto respeito os africanos, os palestinos, os árabes, os meus irmãos brasileiros, os norte-americanos, os uruguaios, os alemães, os indianos, os chineses, os cubanos, etc.

Ah, e quanto ao quesito ingratidão, existe um povo mais ingrato do que os judeus em relação ao judeu Jesus?

Os judeus nem sequer reconhecem o Deus dos cristãos, isto é, a segunda pessoa da Trindade. Eles nem ao menos o consideram como filho de Deus. Não o reconhecem e nem dão o menor valor ao sacrifício de Jesus no Calvário. E nem por isso eu lhes faço qualquer restrição. Isso não interfere em nada em minha relação pessoal com qualquer judeu, quer tenha sangue israelita quer seja um prosélito. Cada um segue a religião que lhe convém, que lhe agrada, que lhe satisfaz, que preenche os seus anseios.

Os judeus também não reconhecem o Novo Testamento como “Palavra de Deus”.

Entretanto, os cristãos, notadamente os evangélicos, têm uma predileção tão especial pelos judeus que beira as raias do absurdo, como se os judeus fossem o suprassumo ou a quinta-essência da civilização humana, uns intocáveis. Parece que muitos evangélicos têm maior afinidade com os judeus do que com os seus próprios compatriotas.

Parece também que para muitos cristãos há os judeus e o resto do mundo, literalmente o “resto”. Resto no sentido de retirar todas as partes importantes de um todo deixando apenas o que é de categoria inferior ou imprestável. Eu tenho a impressão de que para muitos cristãos os judeus podem fazer o que quiserem, pois os judeus não erram (sic).

Ah, e quanto a utilizar a Bíblia para estabelecer ou defender certos privilégios para os judeus, eis a minha opinião:

Não se pode utilizar a Bíblia hebraica – a Tanakh – ou a Bíblia cristã para resolver os problemas do mundo, nem mesmo do Oriente Médio, e por uma razão muito simples. A Bíblia não é unanimidade para todos os povos da Terra. Nem todos a aceitam como A Palavra de Deus.

Queiramos ou não, concordemos ou não, a Bíblia não é uma unanimidade em todo o mundo, e com um agravante: nem os próprios cristãos se entendem quanto a sua interpretação, para não falar dos judeus que descartam todo o Novo Testamento.    

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Quem a curou?

Por Saulo Alves de Oliveira 

Dias atrás, como faço com certa frequência, fui ao supermercado. Na volta para casa, mais uma vez meus pensamentos começaram a divagar enquanto dirigia. Comecei a pensar na situação a seguir.

Uma pessoa, muito religiosa, recebeu de repente um diagnóstico de um tipo de câncer extremamente agressivo. Em tal circunstância, qualquer ser humano, acredito, do mais cético ao mais crente, sente que o chão lhe falta sob seus pés. Nada mais natural.

Sendo muito religiosa, essa pessoa apega-se com certeza à fé. Suponhamos tratar-se circunstancialmente de um católico apostólico romano fervoroso.

Diante dessa situação, não há outra saída. Nosso amigo católico faz uma promessa a Nossa Senhora, “mãe” de Deus, como dizem os católicos, ou a qualquer um outro “santo”, em troca obviamente da tão desejada cura.

Um ou dois anos depois a pessoa está totalmente curada do câncer.

Não interessa, no momento, o desenrolar dos acontecimentos entre o diagnóstico e a cura definitiva. Já escrevi algo acerca disso em outro comentário.

Então, me perguntava: “Quem curou essa pessoa?”

- Deus?

- A “mãe” de Deus?

- Um “santo”?

- A fé?

- Uma autossugestão?

- O efeito placebo?

- A medicina?

- O...? *

- Ou foi um engano, isto é, um falso diagnóstico?

Foi isso o que pensei e me questionei no caminho de volta pra casa.

* Por respeito aos católicos, não cito o seu nome, mas alguns evangélicos acham que pode ser sim

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Sem medo de atravessar a ponte de vidro

Por Saulo Alves de Oliveira

Por mais que alguém julgue estar certo, a atitude racional é sempre ouvir o contraditório. Debater ideias e princípios com elegância não é só uma questão de educação. É também uma demonstração de elevada espiritualidade.

Seria muito bom que as pessoas gostassem do confronto de ideias, pois só assim podemos nos aproximar da verdade.

Certamente não é fácil. E quando se trata de fé as coisas ficam muito mais complicadas, pois, para aqueles que estão acostumados a satanizar tudo o que não combina com suas crenças, é o Diabo que está sendo usado para minar a sua fé.

Realmente, não é nada fácil quando as ideias estão tão arraigadas em nossas mentes e permeiam todos os aspectos das nossas vidas que tudo o que pode nos trazer um fiapo de saudável dúvida é preliminarmente reprimido. Por quê?

Assombra-nos a possibilidade de descobrir que não estamos certos. Nos enche de pavor a mais remota possibilidade de que aquilo que acreditamos durante toda a nossa vida não passa de mera ilusão. Para muitos, é como andar sobre uma ponte de vidro transparente no alto de um precipício.

Comigo também é assim. E posso falar dessa forma com a experiência de quem já passou pela ponte de vidro diversas vezes. Já senti essa sensação de estar solto no ar em cima de um grande abismo.

Hoje, entretanto, passo a passo, degrau a degrau, depois de algumas décadas de vida, estou aprendendo a não ter medo de confrontar a minha fé com a realidade.

Hoje, estou aprendendo a olhar para a belíssima paisagem abaixo dos meus pés da mesma forma que olho para o céu azul e ensolarado acima da minha cabeça.  

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O que é fé?

Por Saulo Alves de Oliveira

Fé não é só isto, mas também é:

Acreditar que Deus não tem princípio nem fim e que subsiste por toda a eternidade

Acreditar que o Deus Eterno subsiste em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo

Acreditar que Lúcifer foi criado por Deus

Acreditar que Deus fez o Universo em seis dias

Acreditar que Deus fez o homem do pó da terra

Acreditar que Deus fez a mulher de uma costela de Adão

Acreditar que uma cobra e uma jumenta falaram

Acreditar que exemplares, macho e fêmea, de todos os animais terrestres, incluídas as aves, foram preservados na arca de Noé

Acreditar que a arca com apenas cerca de 16.000,00 m² de área em três andares comportou Noé, sua família e todos os animais, bem como a alimentação para todos os sobreviventes durante 377 dias

Acreditar que Deus deu ordem a Abraão para matar seu filho Isaque

Acreditar que Abraão obedeceu a ordem de Deus

Acreditar que Jacó lutou com Deus e prevaleceu

Acreditar que ovelhas grávidas deram à luz filhotes listrados ou malhados ao olharem para varas verdes com listras brancas

Acreditar que todas as águas do Egito se tornaram em sangue

Acreditar que o Mar Vermelho se abriu

Acreditar que saiu água de uma rocha

Acreditar que os israelitas passaram 40 anos no deserto com as mesmas roupas e as mesmas sandálias, que não se desgastaram durante aquele período

Acreditar que os muros de Jericó ruíram ao toque de trombetas e gritos do povo

Acreditar que a força de Sansão estava nos seus cabelos

Acreditar que apenas 300 homens liderados por Gideão conseguiram vencer um exército de 135.000 soldados

Acreditar que Eliseu fez o ferro de um machado flutuar nas águas do rio Jordão

Acreditar que Jesus nasceu de uma virgem

Acreditar que Jesus andou sobre o mar

Acreditar que Jesus ressuscitou mortos

Acreditar que Jesus ressuscitou dos mortos

Acreditar que Jesus subiu aos céus

Acreditar que Pedro e outros saíram da prisão com todas as portas fechadas

Acreditar que João recebeu de Deus o Apocalipse

Acreditar na vida após a morte

Acreditar que Jesus voltará à Terra

Acreditar que o Céu existe

Acreditar que os crentes irão morar no Céu.

Todavia, a grande questão que está posta é: E quem não tem fé? Nem todos são obrigados a ter fé. Nem por isso são melhores ou piores do que quem a tem.

A fé não precisa de evidências ou provas para acreditar. Para os crentes – cristãos, ressalte-se – basta estar escrito na Bíblia.

É como diz o título de um livro que eu li há muito tempo: “A Bíblia falou, tá falado!”

E não se discute mais.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Nem para “toilet paper” a “v”eja serve

Por Saulo Alves de Oliveira

Eu não compro a “v”eja, portanto não tenho nem sequer um exemplar em minha casa. Mas eu poderia conseguir com amigos e conhecidos alguns exemplares do “detrito sólido de maré baixa”, como diz o Paulo Henrique Amorim, para a utilização a seguir.

Os preços dos produtos estão subindo, então eu estava pensando em que poderia economizar. Aí tive a seguinte ideia: vou economizar no papel higiênico. Mas, como? Vou passar a utilizar as folhas da “v”eja no lugar do papel higiênico. Tem destino melhor para aquele semanário?

Tomada a decisão, resolvi comprar um exemplar da tal revista para fazer uma experiência pessoal antes de repassar para todos de casa. Não uma nova, claro, pois não vou dar lucro aos seus donos, porém uma edição recente oferecida em um sebo. Recortei as folhas em duas partes no sentido do comprimento e coloquei junto ao vaso sanitário no banheiro. Aí pensei: vou aguardar o sinal característico do meu organismo, que todas as pessoas sabem qual é.

Passadas algumas horas, os sinais chegaram. Então, dirigi-me imediatamente à “casa de banho”, como se diz em Portugal. E cumpri ali o ritual natural, comum a todo ser humano. Depois de aliviado dos estercorais, passei a executar a minha experiência.

Qual não foi a minha surpresa? Quanto mais eu utilizava o papel higiênico improvisado mais eu me maculava. Normalmente, eu utilizo muito papel higiênico quando vou à “casinha”, e por isso insisti com as páginas da “v”eja, porém cada vez eu me maculava ainda mais. Assustado, resolvi verificar o que estava acontecendo. Olhei para as minhas mãos e notei que elas estavam sujas. Fiquei surpreso, pois eu havia tomado bastante cuidado. Olhei para os papeis dependurados ao lado, isto é, as folhas da “v”eja, e verifiquei que eles estavam impregnados da mesma substância que eu acabara de transferir para a urna sanitária.

Com o susto, me levantei rapidamente. Coloquei todo o papel higiênico “v”eja – que àquele altura já exalava um odor insuportável – em um saco de lixo com várias camadas e o levei para o depósito de lixo caseiro.

Lavei todo o banheiro com abundante água e sabão “brabo”, passei água sanitária 100% nos locais que tiveram contato com o “detrito sólido de maré baixa”, inclusive nas minhas mãos e partes, digamos, pudicas, e tomei um banho bem reforçado.

Conclusão definitiva: nem para “toilet paper” a “v”eja serve.        

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Cadê os “revoltados on-line” contra o Sr. Cunha?

Por Saulo Alves de Oliveira

Peraí! Eu não estou entendendo coisa alguma. A campanha anticorrupção é só pra derrubar a presidente Dilma? Apesar de, até agora, diga-se de passagem, nada de corrupção ter sido comprovado a seu respeito?

Que indignação seletiva e inescrupulosa é essa que só aponta os erros do PT?

Cadê os “revoltados on-line” contra o Sr. Eduardo Cunha?

Ninguém vai bater panelas contra o presidente da Câmara?

Os evangélicos, especialmente os pastores, não vão criticar os erros do “irmão” Cunha?

Será que o velho Maquiavel tinha razão?

Silas Malafaia não vai bradar, histericamente, como é seu costume, contra as contas suíças do Sr. Eduardo Cunha?

Ou tudo isso é só uma grande balela? Me parece mais uma encenação para enganar os incautos.

Na verdade, essa turma não está nem aí pra corrupção. O que eles querem mesmo é derrubar a Dilma e o PT.        

sábado, 24 de outubro de 2015

Redescobrindo a Bíblia agora?

Por Saulo Alves de Oliveira

Certa vez ao criticar um comentário meu um amigo perguntou: “Saulo, você está redescobrindo a Bíblia agora, depois de tantos anos?

Minha resposta foi mais ou menos assim:

Acho que você acertou no diagnóstico “redescobrindo a Bíblia”, porém errou no tempo “agora”. Na realidade, há muitos anos eu venho redescobrindo a Bíblia, talvez desde a minha juventude. Só que antes, ao ler algum texto que me incomodava, ou quando não encontrava explicação razoável, eu simplesmente deixava pra lá. Sabe aquela história que a gente cresceu ouvindo dizer que “se deve comer a carne do peixe e deixar as espinhas de lado?”

Com o passar dos anos, porém, fui percebendo que não podia deixar as “espinhas” pra lá. Eu precisava de respostas, quer fossem satisfatórias ou não à minha fé. Não tenho a obrigação de aceitar que algo é assim só porque pastor “João” ou “José” (nomes genéricos) dizem que é assim. Não é porque meus pais me ensinaram que eu não posso rever alguma coisa, aliás muitas coisas.

Afinal de contas, hoje eu não penso mais como uma criança ou adolescente, porém como um homem adulto. Eu preciso de explicações racionais e razoáveis. Caso contrário, continuarei questionando.

O grande problema de muitos adultos é ainda pensar como criança, é acreditar em coisas semelhantes ao Papai Noel, fadas, duendes e lobisomens, tais como: sonhos, visões, viagens ao céu ou ao inferno, gritos histéricos nos púlpitos das igrejas, artificialismo emocional para fazer o povo chorar, apelo sórdido às carências humanas para sensibilizar, profecias de fanáticos ou testemunhos mirabolantes etc. Nessa direção há muito mais misticismo. 

Confesso-lhe que já descobri muitas coisas interessantes e que me fizeram mudar muitos conceitos e preconceitos. Há riscos para a fé quando se questiona? Sim. Entretanto, há muitos anos eu disse à minha mãe, uma crente fervorosa, quando conversávamos sobre este tema: “Prefiro correr o risco a não saber a verdade”. É isso que me move. Saber a verdade e não apenas acreditar.

Quando você lê este texto “Nenhum bastardo entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor” – Dt. 23.2 –, você não se sente impelido a questionar o porquê dessa injustiça? O que é que tem a ver o filho, o neto, o bisneto, o tetraneto etc. com o pecado dos seus pais ou ancestrais?

“Ah, temos de examinar o contexto da época”, dizem para suavizar o impacto da ordenança. Em qual contexto se justifica que o inocente pague pelo erro de outrem?

É por isso, meu amigo, que hoje eu não posso simplesmente passar por cima e deixar para lá. E esse é apenas um exemplo dentre dezenas de outros, talvez centenas.

Se você acha, por exemplo, que Dt. 23.2 não tem nada que mereça uma profunda reflexão ou algum questionamento, (in)felizmente eu não penso da mesma forma.   

Ou a você só interessa palavras como “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, e tu não serás atingido?” ou ainda “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará?”

Eu compreendo sua opinião e acho que se você se sente confortável e feliz em não questionar, continue assim, só olhando para frente e para o alto.

O medo de achar que se agride o Criador ao questioná-lo tolhe qualquer liberdade de pensamento.

Quanto a mim, depois de tudo que já vivi, vi e li, simplesmente é impossível.

sábado, 10 de outubro de 2015

O país dos 4 pês

Por Saulo Alves de Oliveira 

Eu estava almoçando em um restaurante da cidade quando de repente uma conversa chamou minha atenção na mesa atrás de mim.

─ O Sr. Eduardo Cunha é réu em vários processos, dizem que já são 22, e agora descobre-se que ele e parentes seus têm dinheiro irregular em banco na Suíça.

─ É ele mesmo, o presidente da Câmara?

─ Sim, é ele mesmo.

─ Mas não dizem que ele é crente, membro da bancada evangélica no Congresso Nacional?

─ E daí? Por acaso ser crente é sinônimo de honestidade ou de compromisso com o bem público?

─ Meus pais eram evangélicos. Quando criança eu sempre frequentei a Escola Dominical e foi isso que me ensinaram. Tinha até alguns crentes que se achavam “as pregas de quelé”. O mundo lá fora e nós, uma ilha de santidade, propriedade exclusiva de Deus. Um professor sempre dizia, com o dedo em riste e um ar de superioridade: “Não podemos ter comunhão com quem não é dos nossos, pois somos santos”. Hoje eu estou afastado da Igreja. Mas, voltando ao Sr. Eduardo Cunha... não é aquele que o Sr. Silas Malafaia parabenizou no Twitter dizendo:

“Parabéns ao novo presidente da câmara,DEP evangélico Eduardo Cunha,uma vitoria espetacular humilhou o governo e o PT.Vão ter q nos aturar”?

─ Exatamente.

─ Dinheiro irregular na Suíça! Quando ele será preso?

─ Ele é do PT?

─ Não!

─ Você já ouviu aquele ditado popular que termina dizendo “Quando a galinha criar dente?”

─ Bom, esse é muito antigo. Tem este mais novo que diz “No Brasil só se prende preto, pobre, p... e agora petista também.”

─ Garçom, a conta por favor.

A partir daí fez-se silêncio. Passaram-se alguns minutos e eu resolvi me virar para ver quem conversava naquela mesa. Ao olhar para trás, não vi mais ninguém. Já tinham ido embora.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Lua de Sangue

Por Saulo Alves de Oliveira

O Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. 
Joel 2.31


"A pior prisão é a da mente."

Mesmo sem conhecer o autor desta frase não posso deixar de aplaudi-la, visto que suas palavras expressam uma verdade inquestionável.

Eu admiro muito o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking. Seu corpo está preso a uma cadeira de rodas, mas sua mente está livre para "viajar" pelo espaço. Para pensar. Para questionar. Para buscar a verdade.

Quantos, em pleno século 21, ainda estão presos a crendices populares!

Quantos acreditam que um fenômeno natural como a "Lua de Sangue" é um presságio de coisas ruins que podem vir sobre a Terra!

O fenômeno equivocadamente chamado “Lua de Sangue” – de sangue não tem nada – é associado por alguns crentes a uma citação bíblica (Joel 2.31 ), não sei se por ingenuidade ou propositalmente para amedrontar os mais crédulos.

Se tivessem um pouquinho mais de cuidado chegariam à conclusão de que se trata simplesmente de um fenômeno natural, que se repete de tempos em tempos, e que é perfeitamente explicado pela ciência da astronomia.

Não vou entrar em maiores detalhes para o texto não ficar muito longo – quem quiser se aprofundar no assunto é só pesquisar na internet –, mas trata-se da luz do Sol filtrada pela atmosfera da Terra que, em consequência de um fenômeno natural chamado refração, deixa passar menos luz azul e mais luz vermelha. Aquela luz vermelho-alaranjado atinge a Lua durante um eclipse total e é refletida em nossa direção.  

Nós vemos todos os dias o mesmo fenômeno da luz vermelho-alaranjado no céu por ocasião do alvorecer ou do pôr do Sol. Aquela mesma luz que vemos no céu no final da madrugada ou no final da tarde atinge o nosso belo satélite e proporciona o fantástico espetáculo da misticizada “Lua de Sangue”, que de sangue nada tem. Evidentemente, a luz vermelho-alaranjado que vemos refletida na Lua por ocasião do eclipse é a luz do Sol ao nascer ou se pôr em outras regiões da Terra.        

Veja o que diz o site Planetário de Vitória, da Universidade Federal do Espírito Santo:

“Um astronauta que estivesse na Lua, olhando para a Terra durante um eclipse lunar total, veria o nosso planeta como um disco escuro circundado por um anel vermelho brilhante. Esse anel nada mais seria do que a luz dos crepúsculos e auroras ocorrendo ao redor de toda a Terra naquele instante. É essa luz que incide sobre a Lua durante o eclipse total, produzindo a sua coloração vermelho-alaranjado. Se a Terra não possuísse atmosfera, não teríamos este efeito.”

Lamentavelmente, sempre foi assim ao longo da história da humanidade. No passado, os eclipses do Sol ou da Lua, os vulcões, os terremotos, as tempestades e muitos outros fenômenos naturais eram tidos como demonstrações da insatisfação dos deuses em relação aos humanos pecadores. Ainda hoje há quem atribua aos tsunamis o estalido do chicote de Deus. Medem Deus com a mesma régua com que medem as atitudes de alguns humanos canalhas, tiranos, déspotas... Estariam certos?    

Com todas as descobertas científicas do nosso tempo, ainda há quem pense assim. Meu Deus!

Até quando sofreremos sem necessidade?

Entristece-me não ter esperança de ver a humanidade liberta das crendices e superstições ainda nos anos da minha vida.

Felizmente ainda tive tempo de me ver livre.

E também tenho o prazer de experimentar uma outra alegria: os que estão muito próximos a mim estão todos livres.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Salomão: ovelha ou bode?

Por Saulo Alves de Oliveira

É certo que ao ler ou ouvir uma história nem todas as pessoas têm a mesma percepção ou atentam para os mesmos detalhes.

Acabei de reler a história de Salomão nos livros dos Reis e das Crônicas.

É ele mesmo, o rei Salomão, terceiro rei de Israel, filho de Davi.
 

Um homem muito rico, famoso, sábio(?) e também extremamente promíscuo. Salomão teve centenas e centenas de mulheres, mais precisamente mil, e, ao final de sua vida, converteu-se ao politeísmo, isto é, tornou-se um seguidor de vários deuses.

Tem alguma dúvida? Leia abaixo. 

Pois sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração já não era perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai; Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas.

Nesse tempo edificou Salomão um alto a Quemós, abominação dos moabitas, sobre o monte que está diante de Jerusalém, e a Moloque, abominação dos amonitas.

E assim fez para todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus deuses.  

I Reis 11. 4, 5, 7, 8.

É incrível essa história bíblica. Deus apareceu a Salomão duas vezes. Como pode ser isso?

O Deus transcendental, Todo-Poderoso, aparece duas vezes a um simples mortal, faz-lhe grandes promessas, e mesmo assim a criatura se esquece de Deus e passa a seguir falsos deuses!

Parece-me razoável perguntar: “Qual é o ser humano que tem um encontro pessoal, real – não imaginário, não um simples sonho – com o Deus verdadeiro e depois o abandona para seguir deuses falsos?

Convenhamos, numa linguagem bem popular, acho que algo não bate nessa história. Sinto que, por trás da cortina do teatro, há algo mais profundo e eu gostaria muito de descobri-lo. Tenho minhas suspeitas, mas, como são apenas suspeitas, fica só entre nós dois.

Quem é o outro? – alguém pode estar a pensar.

Eu respondo: a pista está em “A Cabana”.

É a negra enorme, o Papai! 

Após a leitura, uma dúvida ficou na minha mente.

No fim dos tempos, quando o Grande Rei separar as ovelhas dos bodes - aquelas para a direita e estes para a esquerda -, em qual grupo Salomão estará? Entre as ovelhas ou entre os bodes?

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O que Deus está esperando para intervir?

Aylan Kurdy

Por Saulo Alves de Oliveira

Muitas são as imagens tristes e chocantes que nos chegam quase todos os dias das várias partes do mundo, as quais evidenciam de modo inquestionável quanto o ser humano ainda está longe da civilidade total.

Crianças esquálidas morrendo de fome na África subsaariana – a grande parte do continente africano situada ao sul do deserto do Saara. Numa expressão bem conhecida de todos nós, que não é apenas uma simples figura de linguagem mas literal, “só o couro e o osso", verdadeiros cadáveres ambulantes – quando ainda podem andar.

Seres humanos ajoelhados e seus covardes algozes em pé atrás com facas afiadas para lhes cortar as gargantas em nome da estupidez do fanatismo religioso ou político.

Corpos carbonizados ou despedaçados em nome da loucura do fundamentalismo religioso.

Bombas caindo sobre cidades e transformando seres humanos, como eu e você, em pedaços irreconhecíveis.

Levas e mais levas, milhares, milhões de pessoas fugindo das guerras e dos conflitos em seus países de origem.

O corpo sem vida de uma inocente criança de três anos em uma praia da Turquia. Rosto literalmente na terra. E as ondas, no seu vai e vem natural, a lavar aquele pequeno corpo como se gritassem para o mundo, a cada ida e volta, ASSASSINOS! O pequeno Aylan Kurdi fugia do conflito na Síria com sua família e encontrou a morte nas águas do mar Egeu tentando chegar à Grécia. Morreram, ainda, na mesma tragédia, sua mãe, seu irmão de 5 anos e várias outras pessoas.

Vou ser condescendente com os criacionistas e admitir que a Terra só tem seis mil e poucos anos.

Vamos supor, então, que fosse possível viajar no tempo e que você fizesse várias viagens ao passado ao longo desses seis mil anos tendo em suas mãos uma máquina filmadora ou fotográfica. Que imagens você nos traria do passado? Sem levar em conta as diferenças de vestuário, arquitetura e tecnologia próprias de cada época, as imagens que nos chegariam do passado, desde a criação da Terra, seriam exatamente iguais às que nós vemos com frequência nos meios de comunicação dos nossos dias: miséria, dor, fome e injustiças.

Aí eu me pergunto – e tenho consciência de que é muito difícil para um crente formular esse tipo de questionamento (crente aqui com o significado de aquele que crê): “O que Deus está esperando para intervir na história e acabar com esse estado de injustiças que nos atinge desde os primórdios da humanidade? Que a fumaça dos corpos queimados chegue às suas narinas após a autodestruição da humanidade em um holocausto nuclear? Até quando será derramado sangue inocente? Até quando vidas humanas serão destruídas pela maldade do próprio ser humano?”

Só os loucos fazem a si tais perguntas, quererão me exortar.

Então, questiono-me mais uma vez: estaria eu chegando ao limiar da loucura?