terça-feira, 16 de abril de 2024

Não vêm de Deus!

Por Saulo Alves de Oliveira

Faz algum tempo, acho que há cinco ou seis anos, alguém postou a seguinte mensagem no Facebook:

“Profetizo que, antes do meio-dia, você vai tomar posse da Vitória, Vem de Deus!” (transcrição literal)

Observei que 253 pessoas curtiram a postagem e 73 pessoas deixaram os seguintes comentários, ou algo parecido: “Amém” ou “Eu creio”.

Eu só tomei conhecimento da “profecia” depois do meio-dia. Então, fiz o seguinte comentário: “Seria interessante que alguém que tomou posse da vitória viesse a público e contasse sua história, porém no meu entendimento só tem algum valor o que aconteceu até ao meio-dia”.

Por volta das 16:00 h, fiz outro comentário: “Como já se passaram 4 horas após o meio-dia, alguém tomou posse da vitória, até ao meio-dia?”

Mais ou menos às 20:30 h verifiquei que não houve nenhuma resposta ao meu questionamento, apenas os mesmos “Amém” ou “Eu creio”. Fiz, então, mais uma observação: “Já se passaram mais de 8 horas após o meio-dia. Alguém tomou posse da vitória? A profecia se cumpriu na vida de alguma pessoa ou não?”

Mais tarde, eu verifiquei novamente a postagem e constatei apenas uma novidade: meus comentários haviam sido excluídos. Quanto a “posse da vitória”, nenhuma.

Pensei: é provável que, caso tome conhecimento dessas minhas indagações, a profeta me bloqueie no seu Facebook, todavia não seria essa a primeira vez que isso acontece.

Já fui bloqueado algumas vezes por questionar profecias que não se cumpriram bem como por questionar mentiras divulgadas sem o menor pudor ou escrúpulo. E, em relação às mentiras, o pior: foram divulgadas por pessoas que um dia, quando jovem este chato ou inconveniente perguntador ou no início da idade adulta, me serviram de padrão moral. Observem que o verbo “servir” está no passado.

Lamentavelmente, essa é a triste realidade de grande parte do povo cristão, seja evangélico ou não. Alimenta-se do que realmente não existe. Sonhos, crendices ou fantasias, as quais não vêm de Deus. 

Também não vêm do Diabo. São apenas sonhos, crendices ou fantasias.

domingo, 10 de março de 2024

Apoiar o estado de Israel é ser coparticipante dos seus crimes

Por Saulo Alves de Oliveira

A cegueira provocada pelo fundamentalismo é provavelmente um dos piores males que podem tomar conta da mente humana. Sempre trouxe desgraças e maldades ao mundo. O fundamentalismo faz o ser humano matar em nome de Deus, achando que esta é a sua vontade, ou o impele a apoiar as maiores barbaridades em nome de Deus. O fundamentalismo faz o indivíduo julgar-se superior aos seus semelhantes.

Se você é cristão e não se sensibiliza com a morte de crianças, mulheres e idosos, despedaçados pelas bombas do exército de Israel, e com a destruição total de suas residências, você não entendeu absolutamente nada em relação à mensagem do seu Deus, que, inclusive, é rejeitado como Deus pelo carniceiro que está ordenando a destruição de Gaza e o genocídio do seu povo.

Realmente, é desolador. O monstro está tornando Gaza inabitável, e, apesar disso, grandes parcelas dos crentes manifestam seu apoio incondicional ao estado genocida de Israel.

Eu nasci e fui criado em um lar cristão evangélico, participei ativamente das atividades da igreja durante muitos anos. Parte do que eu sou hoje aprendi nos bancos da Escola Dominical, especialmente quanto a não fazer o mal ao próximo. Então, é profundamente decepcionante e vergonhoso alguém citar versículos bíblicos para embasar seu apoio a todos os crimes que o estado de Israel está cometendo em Gaza.

Onde está escrito na Bíblia que se deve apoiar Israel incondicionalmente?

Na realidade, eu não preciso de nenhum preceito bíblico estabelecendo que eu tenho ou não de apoiar Israel. A minha consciência e a minha formação moral são os norteadores do meu entendimento para não apoiar os crimes do estado de Israel e de seu governo genocida.   

O estado de Israel está trucidando seres humanos, civis e inocentes, seres humanos como eu e você, crianças como nós fomos um dia, crianças como nossos filhos e netos, e mesmo assim o fundamentalista encontra absurdamente um pretexto na Bíblia para dizer que não se pode criticar o governo de Israel, responsável pelas chacinas, pois Israel é o povo escolhido de Deus. Às vezes me parece, não sei se de propósito ou por alguma deficiência cognitiva, identificam o estado de Israel ou o governo de Israel com o próprio povo judeu.

Quando a crítica é ao Sr. Netanyahu e seu “staff”, não se está criticando o povo de Israel. A crítica é direta aos seus líderes, pessoas malignas, agentes da maldade.

Todavia, passando a um outro patamar da questão, se o povo judeu atingir ao extremo de apoiar a chacina dos palestinos, não tenho a menor dúvida de que sua atitude é condenável e digna de críticas sim, de uma forte reprimenda e de ter sua conduta exposta ao mundo.

Ademais, se eu fosse o líder de uma nação forte e poderosa, eu impediria o estado de Israel de cometer os crimes que estão sendo cometidos em Gaza. Não tenham a menor dúvida. Lamentavelmente, nada posso fazer, todavia, como disse um certo judeu centenário, posso ser uma testemunha de hoje e para a posteridade dos crimes do estado de Israel. 

Não pensem que o estado de Israel faz o que faz porque Deus está do seu lado. Se o fosse, esse deus mereceria ser questionado e, talvez, rejeitado. Israel faz o que faz porque tem o apoio incondicional - com recursos e armas - do ocidente e daquela que talvez ainda seja a mais rica e poderosa nação da Terra, muito embora, ao que tudo indica, essa não é mais a realidade do mundo atual, pois Rússia e China estão desbancando a outrora “xerife” da Terra, em relação, respectivamente, aos poderios militar e econômico.

Citar versículos da Bíblia para justificar os crimes de Israel é incorrer numa condenação da própria Bíblia: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem mal...” O estado de Israel está praticando o mal e os que o apoiam são coparticipantes deste mal.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Prefiro ficar com as palavras de Jesus

Por Saulo Alves de Oliveira

Infelizmente, a Bíblia não é um livro objetivo e, portanto, dá margem a várias interpretações, às vezes até antagônicas.

Considere-se o caso das doutrinas da Predestinação (“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou” - Rm. 8.29, 30) e do Livre Arbítrio (vejam o clássico “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna“ - Jo. 3.16).

Detalhe: a doutrina da Predestinação é uma das coisas mais terríveis que eu já ouvi falar. É contrária a qualquer consideração que se possa fazer acerca de um Deus “cuja benignidade dura para sempre” – Sl 136. Um Deus que cria propositalmente seres humanos predestinados à condenação e outros à salvação não pode ser considerado um Deus benigno. Há outro confronto pior, visto que uma das doutrinas é tão terrível quanto ou pior que a doutrina da Predestinação, aliás, as duas estão interligadas. Todavia, fica para outra oportunidade.

Essa mesma Bíblia, onde se ensina, nas palavras de Jesus, o amor ao próximo e também se lê “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas”, é utilizada pelos fundamentalistas para justificar os crimes cometidos em Gaza pelo estado criminoso de Israel. E quem o critica é chamado maldosamente de antissemita ou acusado de ser contra o povo judeu.

Interessante, no texto acima Jesus define o que é a “lei e os profetas” e é nessa mesma “lei e os profetas” que os fundamentalistas cristãos se baseiam para defender o direito ou o salvo-conduto outorgado ao estado de Israel para cometer os crimes hediondos que estão acontecendo em Gaza, ou em toda a Palestina.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Salvo-conduto para matar?

Por Saulo Alves de Oliveira

Eu não entendo como alguém não fundamentalista ou em pleno domínio das suas faculdades mentais pode achar que as palavras "Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar" conferem ao estado de Israel o direito ou um salvo-conduto para matar seres humanos indiscriminadamente.

Seria ele o “Josué” do nosso tempo?

Por Saulo Alves de Oliveira

No passado, nos tempos bíblicos, Israel cometeu diversas matanças indiscriminadas - há casos de verdadeiros genocídios na Bíblia - sob o comando ou orientação de homens tão reverenciados hoje por cristãos e judeus, entre os quais posso citar Moisés, o manso, Josué, o general, Samuel, o profeta, e Davi, o rei e homem segundo o coração de Deus.

Para evidenciar apenas um caso, cito as palavras do profeta Samuel: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eu me recordei do que fez Amaleque a Israel; como se lhe opôs no caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos.” 1 Samuel 15: 2, 3

É isso mesmo que você leu: “desde os meninos até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos”.

Alguém poderia até tentar justificar: os adultos cometeram crimes contra Israel. Entretanto, quais foram os crimes das crianças e dos animais contra Israel?

Cito essa passagem pois é uma dentre muitas que sempre me chocaram. Jamais entendi essa ordem de Deus dada através do profeta Samuel. E as justificativas que ouvi ou li nunca me satisfizeram.

Diante do que se vê hoje em Gaza, eu fico a pensar: estaria o “Josué” dos nossos dias espelhando-se nas histórias bíblicas para justificar o massacre e o genocídio do povo palestino?

A ONU define o genocídio como qualquer ação "cometida com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".

Segundo a definição da ONU, essas ações incluem:

- assassinatos de membros de um grupo;

- infligir sérios danos físicos ou psicológicos a membros do grupo;

- criar condições que ameacem a vida de membros do grupo, com capacidade de destruí-lo total ou parcialmente;

- implementar medidas para impedir nascimentos no seio do grupo;

- e a transferência forçada de crianças para outro grupo. 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Apenas uma pergunta

A propósito do que aconteceu em Israel no dia 07/10 e do que Israel vem fazendo em Gaza, respondam-me apenas uma pergunta: João matou José e estuprou a esposa de José. Você acha que os filhos de José têm o direito de matar João, sua esposa e filhos e destruir a casa de João?

domingo, 24 de setembro de 2023

Alguém pode explicar?

Por Saulo Alves de Oliveira

Hoje eu estava pensando na seguinte situação:

O apóstolo Paulo escreveu em Romanos 8.28: “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”  

Eis as histórias resumidas de três cristãos sinceros e tementes a Deus.

João perdeu uma das pernas em um acidente de trabalho. Não pôde mais trabalhar e aposentou-se com um pequeno salário. Mal dá para manter a esposa e as três filhas pequenas.

Maria foi acometida de uma doença degenerativa que a fez perder os movimentos das duas pernas. Portanto, Maria se deslocava para qualquer lugar em uma cadeira de rodas. Em casa, qualquer atividade era feita sempre com a ajuda de outra pessoa. Sua condição se complicou ao perder o movimento dos braços e, após anos de sofrimento, Maria partiu.

Pedro, de apenas oito anos, perdeu pai e mãe em um acidente de carro. Pedro não tem avós nem irmãos.

Eu não consigo compatibilizar as histórias acima com o ensinamento de Paulo. Não compreendo como tais fatos podem concorrer para o bem de tais pessoas.

Alguém pode explicar?