Às vezes alguma coisa me faz
lembrar uma história bíblica específica. Então vou à Bíblia e a releio. Todavia
há relatos que me prendem e, portanto, não consigo seguir adiante. Fico como os
bovídeos, remoendo, remoendo e remoendo. Só que com uma diferença: não consigo
deglutir.
Uma dessas histórias é a da
consagração do templo, a casa do Senhor, edificado pelo rei Salomão, que se
encontra no segundo livro das Crônicas 7.1-10. E a parte que incha na boca e se
transforma numa massa amarga e dura que, por mais mastigada que seja, não
consegue passar pela goela é o versículo 5.
Para
dizer a verdade, eu nunca me conformei com as respostas para as matanças de
animais no Velho Testamento.
Na consagração
do templo, Salomão sacrificou, em apenas sete dias, 22.000 bois e 120.000
ovelhas. Mesmo que tenham sido quatorze dias, “...pois haviam celebrado por
sete dias a dedicação do altar, e por sete dias a festa”, ainda assim atingiram
a terrível e chocante marca de mais de dez mil animais por dia ou sete animais
mortos a cada minuto!
Quando
ainda muito jovem, eu fui a um matadouro e sei como é deprimente o espetáculo
da matança de animais. Por conseguinte,
jamais quero repetir a experiência.
Antes eu
lia tal passagem e não tinha muita dificuldade para digeri-la. Hoje, não. Não
vejo justificativa alguma razoável para isso. Não vejo justificativa alguma
para essa sede insaciável de sangue. Considerando o Deus transcendental,
insondável, não vejo sentido algum em sua satisfação com o “cheiro suave” de
animais queimados. Assim, sou tentado a pensar que há algo desconexo nessa história ou, como se diz
popularmente, alguma coisa não bate.
Sob o
ponto de vista do Deus onipotente, há algo ainda mais grave e de justificativas
que nada justificam: a matança ou extermínio de seres humanos – homens,
mulheres, velhos, crianças inocentes – e animais, também inocentes, ordenadas
por Jeová através de ou executadas por homens como Moisés – o manso!, é isso
mesmo que vocês leram, o manso – e outros. Ele, o Senhor, poderia ter sido seletivo
com os maus.
Não dá
mesmo para assimilar. Por mais que eu tente, vira uma bucha na boca e não
desliza pela garganta.
Tais
histórias me afligem e me são profundamente desconfortáveis, pois me levam a
reflexões profundamente sérias. Tais reflexões têm implicações ainda mais
sérias, posto que me levam a conclusões que reluto em aceitar, e que ficam
guardadas em um cofre no mais íntimo da minha alma, do qual só eu tenho a
chave.
Quanto a
você, nada posso dizer. Talvez não veja nada demais ou nunca parou para pensar
ou simplesmente isso lhe é indiferente. Quem sabe encontre uma resposta que lhe
satisfaça!
Saulo
Alves de Oliveira