sábado, 12 de setembro de 2020

Porque não bloqueio

Por Saulo Alves de Oliveira

Já me bloquearam algumas vezes no Facebook. De vez em quando eu exclamo para mim mesmo: “Puxa, aquele ‘amigo’ não é mais meu amigo!”

Algumas pessoas conhecidas – é verdade que estamos afastados fisicamente há bastante tempo – também não aceitaram meu pedido de amizade. Evidentemente, elas não têm obrigação alguma de aceitá-lo. Felizmente ainda somos livres para escolhermos aqueles com quem queremos nos relacionar. Tal fato tem o seu lado bom para todos nós. Lembrar-nos de que não somos tão importantes assim ou indispensáveis. É uma espécie de alerta – um chamado à reflexão – àqueles que avaliam a si próprios com arrogância, pois se julgam superiores aos seus semelhantes e certamente consideram-se em um nível – quem sabe não só um nível, mas vários! – acima dos demais mortais.   

Na acepção mais pura do termo, as pessoas que me bloquearam não eram propriamente amigas. O interessante, porém, é que eu as conheço há muitos anos.

As razões, até onde alcança minha percepção, são basicamente três:

1) Políticas – estamos vivendo um momento muito conturbado em relação a esse aspecto da vida nacional. Se não nos policiarmos, até mesmo familiares se afastarão por discordâncias políticas;

2) Religiosas – incluindo-se aí alguns questionamentos referentes a Deus, à Bíblia e à fé;

3) Combate à divulgação de notícias falsas, as tais “fake news” – tenho procurado questionar essa prática desonesta e tenho a impressão de que algumas pessoas se sentem incomodadas.

Por outro lado, se bem me lembro, eu já bloqueei três “amiga(o)s”.

A primeira – porque foi extremamente deselegante ao responder a um comentário meu. Como se não bastasse, disse ainda que, se eu quisesse, podia bloqueá-la, pois, para ela, não tinha a menor importância. Algum tempo depois, não sei por qual razão, ela apareceu novamente entre os meus amigos e assim continua até hoje. 

O segundo – porque divulgou uma mentira tão desavergonhada que não me restou outra alternativa a não ser questioná-lo. Ao ser questionado, eu percebi que esse “amigo” tinha plena consciência do que fizera, pois a divulgação da mentira fora proposital.

A terceira – porque fez comentários deselegantes em uma postagem minha e, ao fazê-lo, iniciou-se um choque ou uma discussão “quente” entre tal pessoa e um familiar meu. Portanto, a fim de evitar um desentendimento maior, julguei prudente bloqueá-la. 

Eu já li comentários bastante ácidos, tolos ou fanáticos em minhas postagens. Por esse motivo mais de uma vez me perguntaram: “Por que você não bloqueia Fulano e Beltrano?”

Evidentemente, há justificativas para não bloqueá-los. Não me refiro àquelas pessoas que simplesmente discordam das minhas ideias ou argumentos, pois discordar, com educação, é democrático, é da vida. Me refiro a não bloquear mesmo aqueles “amigos” que fazem comentários tolos e muitas vezes agressivos. É claro que há um limite para tudo, uma linha vermelha, e eu penso que sei identificar o momento certo para bloquear, se for o caso. Eu citei acima três exemplos que estão de acordo com este último pensamento.

Existem razões para não bloquear os meus “antagonistas” e respostas aos que me questionam.

Primeiro, se eu bloquear todos aqueles que não estão em sintonia com minhas proposições ou com os meus argumentos ou que criticam as minhas ideias, com certeza serei conduzido a um gueto onde só haverá mentes mais ou menos iguais a minha. Deve ser monótono viver em um mundo de pensamento único.

Da mesma forma, se todos os outros bloquearem os seus antagonistas, certamente estes e aqueles também terminarão em guetos cercados de pessoas cujas mentes serão apenas clones umas das outras.

Segundo, eu não sou um homem de TV, rádio ou jornal, ou um escritor famoso, portanto as redes sociais são os meios de que disponho para divulgar aquilo que julgo importante, as ideias que tenho acerca da política, da vida, de Deus, da religião, da igreja, da fé, etc. Mesmo correndo o risco de ser hostilizado ou de perder amizades eu sei que também há o risco ou a possibilidade de que alguém pare para refletir sobre algum tema exposto por mim, ao qual talvez de outra maneira não teria acesso, especialmente se estiver confinado a um grupo dos seus iguais.

Portanto, enquanto não ultrapassarem a minha linha vermelha, a palavra bloqueio fica em “modo de espera”.