sábado, 3 de março de 2018

Incoerência. Ou não?

Por Saulo Alves de Oliveira

Naquele final de semana ocorreriam duas conferências ministradas pelo famoso pregador S. T. Russian. Era a primeira noite e o estádio com capacidade para 100 mil pessoas estava repleto.

Por volta das 18 horas um veículo preto estacionou na frente do portão secundário. Dois homens de terno preto desceram e se posicionaram um de cada lado do portão. Eram dois seguranças altos e fortes. De pé, junto ao portão, cada homem tinha a mão direita colocada à frente do corpo por baixo do paletó, como se segurassem alguma coisa. Pequenos fones adornavam seus ouvidos e minúsculos microfones projetavam-se à frente das suas bocas. Os lábios de um dos homens moviam-se como se conversasse com alguém. 

Cinco minutos depois, com a área próxima ao portão já interditada pelos organizadores do evento, aproximou-se um luxuoso veículo escuro. O automóvel estacionou em frente ao portão. Segundo informações, era o modelo mais caro do fabricante daquele veículo, com blindagem especial.

Logo atrás, parou um outro carro preto e deste desceram mais dois homens vestidos de preto, os quais se colocaram em posições estratégicas com as mãos direitas também à frente e sob os paletós.

Só então uma das portas do luxuoso veículo se abriu e desceu mais um homem de preto. De imediato ele abriu a porta traseira direita e de lá finalmente saiu o Sr. Russian. O pregador, acompanhado dos cinco homens de preto, se dirigiu rapidamente ao palco que estava colocado em uma posição próxima ao portão secundário. Em seguida, os cinco homens de preto assumiram posições estratégicas, um sobre o palco e os demais embaixo, sendo dois nas laterais e dois atrás do palco.

Assim que terminou a conferência, os organizadores formaram um corredor ladeado por homens, do palco até o portão, através do qual o pregador e seus seguranças se deslocaram até a saída. De lá, com todos os cuidados de segurança observados, embarcaram nos automóveis e se dirigiram à residência do Sr. Russian. Segundo dizem, trata-se de uma pequena (sic) e luxuosa mansão de 1.200,00 m², no bairro mais caro da cidade. Lá, o jantar que se seguiu, servido por quatro serviçais elegantemente vestidos, compunha-se das mais caras e gostosas iguarias.

No noite seguinte, todo o ritual se repetiu.

Ah, a primeira conferência teve como base as seguintes palavras do Salmo 91:

“Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido. Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.”

Na segunda noite, a conferência baseou-se nas palavras de Jesus ao jovem rico:

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”

Bom, acredito que o relato acima é auto-explicativo e, portanto, não há necessidade de maiores esclarecimentos.  

Na realidade, eu não estava lá. Um atencioso "amigo" me contou.