domingo, 1 de maio de 2011

Nem sempre o legal é ético ou moral

Alguns comportamentos humanos são de uma baixeza de caráter inominável. Esta afirmação se aplica a grupos de pessoas dentro dos mais diversos segmentos da nossa sociedade – religiosos (de qualquer matiz), políticos, medicina, justiça, negócios... –, ainda que, em algumas situações, não haja infração de quaisquer leis. Tratar de todos os casos, entretanto, não é o objetivo deste texto.     

Certos indivíduos se autodenominam “servos de Deus”, porém estão mais para “servos de Mamom.” São mestres na arte da dissimulação e na prática de aproveitar-se da ingenuidade de pessoas simples. Não denomino assim aqueles que não tiveram a oportunidade de estudar e de preparar-se intelectualmente. Refiro-me a todos aqueles que, qualquer que seja o seu nível de educação formal, são extremamente crédulos e não têm a menor capacidade de ler a verdade nas entrelinhas dos discursos e na prática de muitos oportunistas que surgiram como ervas daninhas no meio evangélico.

Parece que isso já era comum numa grande nação do norte. Agora, infelizmente, esse verdadeiro câncer social tem se espalhado em nosso país.

Os discursos são muito parecidos. Semeie um aluguel, isto é, doe um aluguel, e colha bênçãos; doe pelo telefone e receba uma unção financeira; seja parceiro de Deus (?) nessa obra doando dinheiro; seja ajudante do bispo Fulano e venda seus próprios bens e entregue para a igreja; seja colaborador de Deus (?) comprando (meus) livros, (meus) DVDs, (minha) revista, (meu) jornal e (minha) TV por assinatura; associe-se e peça o carnê para colaborar mensalmente. Alguns chegam ao cúmulo de fazer a sórdida proposta: “Prove a sua fé como fez Abraão e doe tudo para o Senhor,” na verdade, para a igreja.

Quem pode trazer R$ 1.000,00 até terça-feira? E R$ 500,00? Ou R$ 200,00? Ou R$ 20,00, R$ 10,00? – pergunta o inescrupuloso líder. E os trouxas prontamente o atendem, muitas vezes tirando da boca dos próprios filhos. Se alguém estiver lendo essas palavras e se identificar com elas, peço desculpas pelo uso de termo tão grosseiro. Não tenho a intenção de agredi-lo gratuitamente pois não sou melhor do que qualquer ser humano que divide comigo este planeta, mas na minha indignação essa é a palavra que me vem à mente. Contudo, reafirmo: só os trouxas vão atrás desses espertalhões. Sem contar os aprendizes da esperteza, é óbvio.

E os patrimônios pessoais desses vendilhões do templo estão sempre aumentando. São mansões, carrões, aviões e muitos outros “ões”. Proponho um exercício: procure saber quem eram essas pessoas há 20, 30 anos, e veja como elas vivem hoje.   

Seu séquito de bajuladores certamente dirá: “Aqui não se obriga as pessoas a doarem, elas dão espontaneamente, portanto não há crime algum, é tudo para a obra de Deus.” Eu não sei explicar a sensação que sinto nessas horas, mas algo me diz suavemente no meu interior: estão querendo te fazer de idiota. Parece até que eu estou ouvindo um deles falando com um ar de crítica e de sarcasmo, dando voltas na voz, empostando-a caricatamente, com toda empáfia que lhe é peculiar, e depois gritando suas condenações contra seus críticos. Pode não ser um crime sob a ótica legal, hipócritas! Todavia, tenho absoluta certeza de que afronta os princípios da ética e da moral de qualquer pessoa que já compreendeu o que significa não se locupletar com as fragilidades humanas, sejam elas espirituais ou materiais.

Imagino uma pessoa carente afetiva e financeiramente sendo bombardeada todos os dias, no rádio, na televisão, e também nos cultos, com uma mensagem que diz “para alcançar o sucesso e a bênção do Senhor, é preciso doar, doar, doar...” – há quem chame eufemisticamente de semear. Sua atitude é tão espontânea quanto a atitude daquele que precisa atravessar um rio e o único barco que existe é o de um homem que cobra um preço exorbitante para fazer a travessia. Para quem necessita atravessar o rio, há outra alternativa a não ser pagar o preço cobrado? É como disse um certo bispo, utilizando uma expressão muito popular, “ou dá ou desce.”

Uma coisa é você pedir em reuniões internas a colaboração financeira de seus irmãos para divulgar a fé que você abraça como a verdade, outra muito diferente é você manipular as pessoas todos os dias, em todos os programas, com promessas mirabolantes, do tipo: “Quanto mais você doar mais você receberá ou as bênçãos são proporcionais a quanto você estiver disposto a abrir o seu bolso.” É a chamada teologia do mercantilismo. Será que já não basta a teologia da prosperidade?

E o que é bastante sintomático é que todos eles utilizam a Bíblia para justificar suas atitudes repugnantes. Lamentavelmente, ao longo de muitos séculos a Bíblia tem sido utilizada para justificar muitas absurdidades. É sempre assim, pinçam o que lhes convém. E ainda acham que o porvir lhes será favorável. Se atentassem para a história bíblica do jovem rico (Mt. 19:16-24) não deveriam ter tanta certeza assim.

Há quem diga: “Deus é Rei e dono de toda a riqueza do universo; eu sou seu filho, portanto também tenho direito a essas riquezas.” Hipócrita! Riqueza digna é aquela que é fruto de um trabalho honesto e moral e que não provém do oportunismo e da exploração das fragilidades humanas. Nunca lestes Mt. 6:19-24? Ou esta teologia não se aplica mais aos nossos dias? Certamente só vale para hoje a prosperidade de Abraão ou do rei Davi!           

Quem pode fazer alguma coisa para impedir esses oportunistas? Não sei. O Poder Público? A Justiça? Também não sei. Quem sabe um dia o próprio povo o faça! Talvez um dia quando o povo atingir a maturidade do conhecimento e deixar de acreditar credulamente em tudo que se afirma nos púlpitos das igrejas, sem nenhum questionamento, alguns nomes se tornem apenas uma triste lembrança em um passado remoto.

Se eu fosse Deus, o faria! Lamentavelmente a única coisa que eu posso fazer é tentar alertar as pessoas através dessas palavras. Uma gota de água em um oceano, bem sei. Se apenas uma pessoa abrir a mente e passar a enxergar as torpezas que são cometidas em nome da fé, já me darei por satisfeito.

Eu não sou contra a prosperidade de ninguém, desde que seja obtida de forma honesta. O que eu critico é valer-se das fragilidades humanas para enriquecer, e é exatamente isto o que muitos pastores, bispos, missionários e apóstolos estão fazendo. 

Eu nunca soube que Jesus usasse o dinheiro dos discípulos para construir palacetes, ou para comprar carruagens luxuosas ou mesmo um cavalo puro sangue para usá-los como meios de transporte.

Para os seres abjetos que se aproveitam da ingenuidade de um povo sofrido, que se apega a qualquer coisa na esperança de resolver seus problemas – afetivos, financeiros, de saúde... –, o meu desejo é que eles se arrependam das suas práticas ignominiosas. Caso contrário, eu espero, com todo o ardor da minha alma, que no mais profundo do inferno, junto ao trono de Satanás, o rei das trevas, esteja reservado um lugar especial para todos eles. 


Saulo Alves de Oliveira

Um comentário:

  1. Olá gostaria que fizesse um post falando sobre as cirurgias espirituais , é desse uma
    Olhada nos feitos de ze arigo , eu como vc sou cética mas vivo buscando algo além do natural e orgânico . Se puder conversar comigo me mande um e-mail lapemoraes@gmail.com

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