quinta-feira, 28 de maio de 2015

Por que, meu Deus?

Por Saulo Alves de Oliveira

Às vezes eu me descubro pensando acerca de fatos muito perturbadores relacionados à vida.

É evidente que eu não estou a todo momento refletindo sobre uma situação específica. Entretanto, algumas circunstâncias vistas ou vividas assopram as cinzas do meu cérebro e atiçam o fogo trazendo à memória determinado fato.

Imaginem a seguinte realidade do nosso mundo.

Todos os dias nascem centenas de milhares de crianças em toda a Terra. Vou tomar duas dessas crianças, as quais denominarei Sofia e Maria, que nasceram exatamente no mesmo dia.

Como todos nós, Sofia e Maria não tiveram a opção de dizer se queriam ou não vir ao mundo, muito menos de escolher os pais ou a família que queriam ter.

Sofia, não por sua culpa, nasceu em “berço de ouro”. Família extremamente rica, capaz de lhe oferecer todas as comodidades do mundo moderno. Conforto, boa alimentação, excelentes escolas, carros, mansão, roupas de grifes famosas, viagens, diversos empregados à sua disposição... e por aí vai.

Sofia terá uma vida de luxos até o fim dos seus dias, às vezes sem tomar o menor conhecimento do que é realmente a pobreza em todas as suas facetas mais terríveis.

Maria, também sem culpa alguma, nasceu sem ao menos ter um berço para ser deitada e protegida do frio. Família extremamente pobre, incapaz de lhe oferecer o mínimo necessário para sua sobrevivência. Sem nenhum conforto, alimentação precária de vez em quando, escola pública precária – quando tem e quando os pais têm o mínimo de consciência da importância da educação –, deslocamento a pé ou em ônibus superlotados, casebre na favela, roupas?, só quando uma alma caridosa dá, viagens?, empregados?, nem sonhando... e por aí vai.

Maria terá uma vida de miséria até o fim dos seus dias, sem ter a menor chance de experimentar o que realmente a riqueza pode proporcionar a uns poucos sortudos das castas mais altas dos agrupamentos humanos.

Duas vidas que não escolheram nascer, com histórias totalmente antagônicas. 

E daí vem a pergunta perturbadora que me incomoda há muito tempo: por que, meu Deus?

Os espíritas vêm com a justificativa de que se paga nesta vida por erros de vidas passadas, até se atingir, em outras supostas vidas, um estágio espiritual elevado. Para mim, uma explicação que não convence, posto que, se fosse assim, as pessoas pagariam por algo que nem sequer têm consciência de que cometeram. O princípio do castigo que pode mudar alguém é pagar pelo erro do qual tem consciência.

Os cristão apresentam a justificativa de que se paga nesta vida por erros próprios ou dos primeiros pais, Adão e Eva. Também tenho muita dificuldade de ser convencido por essa justificativa. Crianças não podem pagar por erros que não cometeram, pois os pequeninos são inocentes. Além disso, ninguém, seja criança ou adulto, deve pagar por erros que foram cometidos num passado remotíssimo, há milhares de anos, por outras pessoas. O princípio do castigo que pode mudar alguém é pagar pelo seu próprio erro e do qual tem consciência.

Portanto, para este – de certa forma – atrevido ser humano, que está entre a pobreza extrema e a riqueza extrema, talvez mais próximo daquela do que desta, permanece a pergunta: por que, meu Deus?           

Talvez haja uma resposta definitiva para essa injustiça que nada tem a ver com Deus.

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