segunda-feira, 6 de junho de 2011

Os dois Brasis (2)

Frequentemente ouvimos notícias sobre o descalabro em que se encontra o sistema público de saúde no Brasil. Pessoas morrem nas filas dos hospitais públicos aguardando uma vaga. Outros são jogados em macas ou cadeiras nos corredores com ferimentos graves ou fortes dores. Alguns vagam por horas a fio dentro de uma ambulância – num verdadeiro jogo de empurra-empurra – em busca de um socorro médico que, em algumas situações, chega tarde demais. São médicos que, dada a insuficiência dos recursos humanos e materiais dos hospitais, em muitos casos têm de tomar a decisão de quem vai ser atendido ou não, ou seja, o profissional da saúde pode estar decidindo quem vai viver e quem vai morrer.

Nos postos de saúde municipais não há profissionais suficientes para atender à demanda da população e muitas vezes o doente é obrigado a esperar meses para marcar uma consulta, notadamente no caso de especialistas, ou para realizar determinados tipos de exames. 

Eu soube do caso de um senhor que, tendo procurado um posto de saúde municipal para agendar atendimento médico, faleceu muito antes que tal providência fosse efetivamente tomada. A demora foi tão absurda que, quando ligaram para sua casa para informar o dia da consulta, seus familiares disseram: “Não há mais necessidade, pois ele morreu.” Será que isso ocorreria se aquele senhor fosse o pai do prefeito ou do secretário da saúde?

Tal fato é uma lástima! E muito mais do que isso. É uma vergonha para um administrador público, qualquer que seja ele, do prefeito ao presidente da república, sem esquecer o governador. Eu não sei até onde vai a incompetência ou o descaso com a vida humana! Fosse eu secretário da saúde e isso acontecesse na minha administração, eu pediria o boné e, cabisbaixo, voltaria para casa.

E as desculpas são as mais diversas possíveis, especialmente falta de verba. Como!, se o Brasil é um dos países que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo? Há dinheiro para comprar avião novo, para aumentar acintosamente os salários de deputados, senadores, vereadores, prefeitos, presidente da república, para reformar palácios, para a copa do mundo..., para que o Senado Federal tenha em média – pasmem! – 72 funcionários para cada senador (ISTOÉ 2167, pág. 31). 

E o que é pior: segundo a Tribuna da Imprensa de 26/04/2011, “...o Senador Pedro Simon (PMDB-RS) recentemente fez um discurso e denunciou que existem 13 mil funcionários por lá,” incluindo os terceirizados, ou seja, em média 160 funcionários para atender a cada senador – uma excrescência patológica constitucional. Todavia não há recursos para resolver os problemas da saúde pública do Brasil. E o povo continua morrendo à míngua, jogado nos corredores dos hospitais públicos.

Eu votei no Lula cinco vezes e não me arrependo de tê-lo feito, porém acho que em matéria de saúde pública seu governo deixou a desejar. Eu esperava que ao final dos seus dois mandatos a fisionomia da saúde pública no Brasil fosse outra, entretanto lamentavelmente minha percepção não é de que houve grandes mudanças.

Estes são os dois Brasis a que me refiro no título deste comentário. O País dos ricos e dos remediados, os quais – remediados, como eu – podem pagar um plano de saúde, e o país dos pobres, sem saúde, sem educação, sem tantas outras coisas que fazem das pessoas cidadãos e cidadãs de uma pátria e que dão dignidade à vida humana.

Dilma, a primeira presidenta mulher, está aí e eu espero que ela mostre a que veio. Eu espero ansioso que ela consiga transformar estes dois Brasis em apenas Um Grande Brasil, capaz de tratar todos os seus filhos e filhas com a dignidade que todos merecemos.

Saulo Alves de Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário