Por Saulo Alves de
Oliveira
Eu
penso que qualquer pessoa que tem algum conhecimento da Bíblia, mesmo não sendo
um teólogo ou um grande biblista, como é o meu caso, e a lê sem fanatismo
religioso, concorda que a Bíblia apoiava a escravidão, pelo menos o Velho
Testamento. Ainda que se entenda que a escravidão naquela época não tinha o
mesmo caráter de um ou dois séculos atrás. Tenho cá minhas dúvidas.
Antes
de discordar da afirmação acima, leia ou releia atentamente os seguintes textos:
Ex. 21.1-11 e Lv. 25.35-55. Depois fique à vontade para tirar a conclusão que
achar conveniente ou correta.
Eu
disse apoiava porque os textos citados estão no VT, mas infelizmente o NT não é
taxativamente contrário à escravidão. Nem mesmo Jesus ou qualquer um dos
apóstolos se posicionaram de forma explícita contra a escravidão. Ao contrário,
Paulo contemporizou com a escravidão no seu tempo (Ef. 6.5-8; Tt. 2.9,10) e
Pedro foi ainda mais longe ao ensinar: “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o
temor aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos
maus.” 1 Pe. 2.18. Como se sujeitar aos maus senhores, caro irmão Pedro? Não se
muda o mundo aceitando passivamente as injustiças.
Lamentavelmente,
pelo menos na minha ótica, há um texto bastante representativo do que era a
escravidão nos tempos bíblicos do VT. Ei-lo:
“Se
alguém ferir a seu servo (ou a sua serva) com um pau, e este morrer debaixo da
sua mão, certamente será castigado; mas se sobreviver um ou dois dias, não será
castigado; porque é dinheiro seu.” Ex. 21.20,21.
Se
o escravo morresse debaixo de pauladas, seu senhor seria castigado. Entretanto,
se morresse 24 ou 48 horas depois, em consequência do castigo, seria como se
nada tivesse acontecido, pois era propriedade sua.
Se
alguém tiver alguma justificativa para Ex. 21.20,21, fique à vontade.
Ainda
segundo Ex. 21.26,27:
“Se
alguém ferir o olho do seu servo (ou o olho da sua serva) e o cegar, deixá-lo-á
ir forro por causa do seu olho. Da mesma sorte se tirar o dente do seu servo
(ou o dente da sua serva), deixá-lo-á ir forro por causa do dente.”
Como
assim? Cegar ou tirar o dente do servo acidentalmente ou em consequência de
espancamentos? São duas situações totalmente distintas. Em qualquer dos casos,
simplesmente deixar ir forro era muito pouco.
No
primeiro caso, deveria deixar o servo ir livre e devidamente indenizado. No
segundo, também deveria deixá-lo livre e indenizá-lo. Todavia, neste último caso,
dada a motivação do dano, justo seria aplicar-se ao senhor uma penalidade
indenizatória bem mais pesada, de tal forma que o mesmo sentisse fortemente em
seu bolso o custo da sua irresponsabilidade bestial, com um agravante: a penalidade financeira de modo algum deveria
livrar o agressor de se submeter ao cumprimento da pena legal de privação da
liberdade pelo crime hediondo cometido.
Parece-me
que tudo isso teria sido evitado se em vez de 10 fossem 11 os mandamentos,
tendo o décimo primeiro mais ou menos as seguintes palavras:
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