Não teria criado Adão e Eva
sabendo que eles desobedeceriam as minhas ordens e que, como conseqüência
disso, eu teria de lançar, num futuro distante, bilhões de seus descendentes no
inferno por toda a eternidade.
Não teria rejeitado a oferta de
Caim, evitando assim o primeiro homicídio.
Não teria mandado o dilúvio para
destruir todos os seres vivos que habitavam sobre as áreas secas, preservando
apenas Noé, sua família e alguns poucos animais. Eu teria sido seletivo,
poupando todos os animais e todos os seres inocentes.
Não teria permitido que Jacó, de
uma forma tão vil, enganasse seu pai, para cumprir o meu propósito.
Não teria endurecido o coração do
Faraó e assim teria evitado todas as pragas do Egito, especialmente a morte dos
primogênitos inocentes.
Não teria instituído o sacrifício
de animais.
Não teria proibido que os filhos
bastardos entrassem na assembléia do Senhor, como também, inexplicavelmente,
seus descendentes, até a décima geração.
Não teria permitido que Israel
sob o comando de Moisés cometesse atrocidades contra os midianitas e outros
povos.
Não teria aceitado o voto
precipitado de Jefté.
Não teria matado o filho de Davi
e Bate-seba como punição pelo pecado do seu pai.
Não teria permitido que Davi cometesse a crueldade de cortar os tendões e nervos das
pernas dos cavalos dos seus inimigos, tornando-os, portanto, incapazes de
andar.
Não teria permitido que duas
ursas despedaçassem 42 meninos apenas porque eles zombaram do profeta Eliseu
dizendo: “Sobe calvo; sobe calvo”.
Não teria deixado que Jesus
enviasse os espíritos maus para uma manada de porcos fazendo-os cair pelo
despenhadeiro no mar, morrendo todos nas suas águas.
Não teria “escrito” a Bíblia
deixando margem para interpretações tão divergentes.
Não teria permitido que homens
definissem quais livros deveriam fazer parte da Bíblia. Eu mesmo, pessoalmente,
teria feito a escolha.
Não teria permitido a Inquisição.
Não teriam existido Nero,
Calígula, Stalin, Hitler, Mao Tsé-Tung, Pol Pot e muitos outros tiranos e
ditadores.
Não teria permitido o Holocausto.
Não teria permitido que os
palestinos fossem expulsos das suas terras. Hoje, palestinos e israelenses
seriam vizinhos vivendo pacificamente.
Não teria permitido o “11 de
Setembro”.
Não existiriam reis e
imperadores.
Não existiriam ricos e pobres.
Não permitiria que crianças
morressem de fome na África e em outras regiões pobres do mundo.
Não permitiria que inocentes
pagassem por crimes que não cometeram.
Não teria permitido a crueldade
da natureza selvagem.
Não permitiria que céticos e
ateus questionassem a minha existência, apresentando-lhes provas irrefutáveis e
inquestionáveis de quem Eu Sou.
Ah... se eu fosse Deus... tantas
outras coisas eu teria evitado!
Mas, eu não sou Deus. Sou apenas
uma criatura.
Uma voz diz no meu ouvido: como
ousa questionar o Criador?
Respondo: eu não estou
questionando o Criador, apenas eu não entendo seus desígnios.
A voz novamente me segreda
baixinho: quem é você para questionar-lhe os seus desígnios?
Respondo mais uma vez: sou apenas
um ser humano... que pensa.
E essas são reflexões do meu ser
interior, as quais eu não posso evitar.
Portanto, se eu escondê-las,
apenas os outros seres humanos não terão conhecimento.
Saulo Alves de Oliveira