sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Evidências da evolução – Homologia

[Ou semelhança entre os esqueletos]

Que obra magistral é o esqueleto de um mamífero! Não falo da beleza em si, embora eu ache que seja belo. Refiro-me ao fato de podermos falar em “o” esqueleto mamífero: o fato de uma coisa tão complexa e interligada ser tão esplendidamente diferente de um mamífero para outro, em todos as suas partes, e ao mesmo tempo tão obviamente a mesma coisa em todos os mamíferos.

(...) Vejamos o esqueleto de um morcego. Não é fascinante que cada osso tenha sua contrapartida identificável no esqueleto humano? É identificável graças à ordem em que se ligam uns aos outros. Só mudam as proporções. As mãos do morcego são imensamente aumentadas (em relação ao tamanho total do animal, obviamente), mas ninguém poderia deixar de notar a correspondência entre nossos dedos e os longos ossos nas asas do morcego. A mão humana e a mão do morcego obviamente são – nenhuma pessoa mentalmente sadia poderia negar – duas versões de uma mesma coisa. O termo técnico para essa semelhança é “homologia”.

A asa que o morcego usa para voar e a mão que usamos para segurar são “homólogas”. As mãos do ancestral que humanos e morcegos têm em comum, assim como o resto do esqueleto, furam puxadas, ou comprimidas, parte por parte, em diferentes direções e em diferentes magnitudes, no decorrer das diferentes linhas de descendentes.

Eis outro fato surpreendente. O casco do cavalo é homólogo à unha do nosso dedo médio da mão (ou à unha do dedo médio do pé). O cavalo anda na ponta dos pés de verdade, ao contrário de nós quando dizemos que andamos na ponta dos pés. O cavalo perdeu quase por completo os outros dedos. Nesse animal, os homólogos dos nossos dedos indicador e anular e seus equivalentes nos membros posteriores sobrevivem como minúsculos ossos metacárpicos, ligados ao osso “canhão”, e ficam invisíveis sob a pele. O osso canhão é homólogo ao nosso metacarpo médio, que está sob a pele na nossa mão (ou do metatarso, sob a pele do pé).

As homologias, por exemplo, com nossos dedos médios, ou com os do morcego, são totalmente claras. Ninguém poderia duvidar delas. E, como que para reforçar ainda mais o argumento, às vezes nascem cavalos com uma anomalia: três dedos em cada perna, o do meio servindo como um “pé” de cavalo normal, e os dois laterais dotados de cascos em miniatura.

Os esqueletos de todos os mamíferos são idênticos, mas seus ossos individuais diferem.

Por exemplo, o “osso da sua cabeça”, ou crânio, contém 28 ossos, a maioria unidos em rígidas “suturas”, mas com um osso móvel principal (a mandíbula). E o fascinante é que, afora um ou outro osso ímpar aqui e ali, o mesmo conjunto de 28 ossos, que claramente podem ser rotulados com os mesmos nomes, é encontrado em todos os mamíferos.

Tudo isso é igual, independentemente do fato de as formas dos ossos específicos diferirem muito entre os mamíferos.

O que concluímos de tudo isso? Restringimo-nos aqui a animais modernos, portanto não estamos vendo a evolução em ação. Somos os detetives, chegamos depois à cena do crime. E o padrão de semelhanças entre os esqueletos de animais modernos é exatamente aquele que se deve esperar de animais que descendem de um ancestral comum, alguns mais recentes do que outros.

Richard Dawkins, em "O maior espetáculo da Terra"