É
muito comum no meio evangélico, pelo menos entre os pentecostais, alguém abrir
a Bíblia aleatoriamente e tomar para si a primeira mensagem sobre a qual põe os
olhos, que pode ser um só versículo ou um texto maior, sobretudo quando a
pessoa passa por dificuldades. Detalhe: quando se trata de uma mensagem
confortadora, obviamente. Quando não, bem... não vem ao caso.
As
palavras podem ter sido proferidas por Davi, Moisés, Salomão, qualquer um dos
profetas ou mesmo um dos apóstolos há milhares de anos em uma circunstância pessoal
vivida por eles, mas ao abrir a Bíblia a pessoa diz: “Essa mensagem é para
mim”, e se consola diante da adversidade, pois encontra ali forças para
continuar a jornada da vida, às vezes tão difícil.
Eu
sei que, para a maioria das pessoas, a vida é muito dura. Sabe lá o que é ver um
filho pequeno sendo consumido por um câncer nos ossos ou no cérebro? Sabe lá o
que é chegar ao fim do mês e não ter dinheiro para pagar as contas, nem ao
menos para comprar comida para a família? Sabe lá o que é ter um marido ou
filho alcoólatra ou viciado em drogas? Só mesmo quem vive ou já viveu tais
situações pode avaliar com segurança a dimensão do sofrimento.
Eu
diria que sob esse aspecto aquela mensagem é algo bom. Todavia, há algumas
considerações a fazer.
O
Salmo 121 é um caso típico.
Meu
pai faleceu ano passado. Durante os dias de sua enfermidade, duas pessoas foram
visitá-lo em ocasiões diferentes e leram o Salmo 121. Um belíssimo e
reconfortante salmo.
As
pessoas gostam desse salmo porque suas palavras podem trazer novo ânimo ou revigorar
as forças do aflito. Para alguém que sofre uma grave doença ou vive momentos
difíceis em sua vida, o Salmo 121 é um grande conforto e talvez ajude aquele
que padece a enfrentar este “vale de lágrimas”, nas palavras de alguém que eu
conheci há muitos anos quando se referia à luta do dia a dia.
O
versículo 7 diz: “O Senhor te guardará de todo o mal; Ele guardará a tua vida.”
A
grande questão, na minha forma de analisar certos textos bíblicos – e este não
é o único que tem esta característica –, é a seguinte: este salmo tinha sua
eficácia apenas para o povo de Israel ou ele é plenamente aplicável à vida dos
crentes de hoje?
Se
a resposta à segunda parte da questão é “sim”, a outra pergunta inevitável é a
seguinte: a palavra “todo” no
versículo 7 tem realmente o sentido de completude, isto é, “todo” quer dizer guardar de tudo
mesmo ou ainda dependerá da vontade soberana de Deus, ou seja, se Deus quiser?
Se
a resposta é “depende da vontade de Deus”, eu entendo que o salmista deveria
ter acrescentado “Se Ele, o Senhor, o quiser”. Assim, as pessoas não ficariam
esperando algo que não é absoluto em seu sentido real.
E
por que você faz esse questionamento? – alguém pode indagar.
Porque
eu conheço pessoas, e certamente você também conhece, que ouviram essa mensagem
e a tomaram para si, entretanto lamentavelmente sucumbiram ao mal, ou seja, o
Senhor não os guardou de “todo” o mal.
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