sábado, 3 de março de 2012

Cristão iraniano é condenado à forca

Pastor Youssef Nadarkhani condenado à morte no Irã
Comenta-se no noticiário e nas redes sociais que um pastor iraniano foi condenado à forca por causa de sua fé cristã. Como o Irã é um país extremamente fechado, eu não sei o quanto há de verdade nessa notícia. Entretanto o meu comentário a seguir terá como base o pressuposto de que a notícia é totalmente verdadeira, ou seja, o Pastor está sendo julgado ou foi condenado por conta de sua fé.

A pena de morte não é exclusividade do país dos aiatolás. Outros países a adotam, dentre eles os EUA, formado, em sua grande maioria, por cristãos. É verdade que neste último caso há todo um processo judicial legal, com amplo direito de defesa, que muitas vezes leva anos, até culminar ou não com a sentença de morte. 

Eu, pessoalmente, sou contra essa penalidade extrema, apesar de, em alguns casos, me sentir tentado a dar um passo atrás em minha convicção. Mas este momento não me enseja oportunidade de tratar da pena de morte como castigo para crimes ditos hediondos. Ficará para outra ocasião.

Até onde me foi dado saber, há um processo legal naquele país – refiro-me ao Irã – em que o Pastor é réu, contando, inclusive, com advogado de defesa.

Apesar disso eu julgo um absurdo no mais alto grau e uma afronta à dignidade humana alguém ser condenado à morte pelo “crime” de ter uma fé diferente da grande maioria dos seus concidadãos ou ainda pelo fato de não acreditar no livro sagrado ou no Deus de outrem ou mesmo discordar de qualquer coisa que diga respeito à religião. Isto é viver, em pleno século 21, no obscurantismo das mais densas trevas da Idade Média, ainda que os fundamentos sejam a cultura ou o código de leis de um país.   

Lamentavelmente o próprio cristianismo já agiu de modo similar, especialmente na Idade Média. Hoje, entretanto, as coisas evoluíram, apesar de existirem muitos radicais fundamentalistas, notadamente em alguns estados americanos – segundo dizem – no chamado “cinturão bíblico” e em outras regiões do mundo, os quais, no entanto, não chegam ao clímax da estupidez em sua intolerância religiosa. (?)

Em 1600, o padre Giordano Bruno foi condenado à fogueira pela Inquisição Católica. Seu crime: afirmar que “Há incontáveis sóis e uma infinidade de planetas que giram em torno de seus sóis como nossos sete planetas giram em torno do nosso”, ou seja, Bruno acreditava que existiam outros mundos, em desacordo com a interpretação da Bíblia feita pela Igreja de Roma. Em 1633, Galileu Galilei só não teve o mesmo destino porque negou oficialmente aquilo que sabia ser a verdade, isto é, que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário como pensava a Igreja da época.

É profundamente triste e chocante que, em pleno século 21, qualquer ser humano seja condenado à morte por professar uma fé que está em desacordo com a maioria. Não apenas por ser um cristão evangélico. Causar-me-ia igualmente profunda consternação se se tratasse de um padre católico, um rabino, um monge budista, um seguidor do hinduísmo, um espírita ou um crente de qualquer outra religião.

Todas as pessoas devem ter plena liberdade de professar sua fé, em qualquer lugar do mundo, sem o perigo de sofrer a mínima sanção. Deve ser-lhe assegurado inclusive, se for o caso, o direito de não ter religião ou mesmo de não acreditar em Deus.

Certamente lá no Irã eles estão agindo dentro das leis que regem seu país, mas é simplesmente algo que ultrapassa as raias do absurdo e agride frontalmente à moral e envergonha a civilidade da raça humana.

Ninguém pode ser julgado segundo os ditames de um livro sagrado, seja ele a Bíblia, o Alcorão, a Torá ou outro qualquer. Por isso eu defendo com veemência o estado laico. Sou a favor da total e explícita separação entre Igreja e Estado. Culto ou missa se faz nos templos e nas residências e não nas repartições públicas. Símbolos religiosos se mantêm nos templos e nas residências e não nas repartições públicas.

Eu espero que a parte do Islã que vive o século 21 sobrepuje os radicais que ainda “vivem” na Idade Média e que o Islamismo evolua tal qual a grande maioria do Cristianismo, não obstante algumas atitudes controversas de alguns cristãos em postos de comando do mundo.

A todos os cristãos evangélicos eu deixo as seguintes perguntas para reflexão: Você estaria consternado se a condenação à morte fosse de um padre católico ou um monge budista ou um líder de qualquer outra religião? Se você viesse a descobrir que o pastor condenado não acredita na doutrina da trindade, seu espírito continuaria inquieto com a situação? Você assinaria um pedido de interferência – não sei se a palavra correta seria esta – do Governo Brasileiro se se tratasse de um padre católico ou um monge budista ou um líder de qualquer outra religião? E se fosse um ateu, você acharia injusto alguém ser condenado à morte por não acreditar em Deus?

Desculpe-me, porém se você respondeu “não” a uma dessas questões, na minha opinião – e posso estar equivocado, evidentemente – o que lhe move não é a defesa do princípio fundamental da liberdade religiosa em qualquer circunstância, inclusive o direito de não ter religião, mas simplesmente o corporativismo.

Saulo Alves de Oliveira