terça-feira, 15 de agosto de 2017

Há religiosos que matam em nome de Deus

Por Saulo Alves de Oliveira

Há alguns dias, assistindo a um programa sobre religiões, eu ouvi a seguinte frase: “Religiosos, por sua fé, matam outras pessoas porque, dizem eles, essa é a vontade de Deus”.

A propósito desse tema, você sabe quem disse as palavras abaixo?
 
"Em primeiro lugar, suas sinagogas deveriam ser queimadas… Em segundo lugar, suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas… Em terceiro, seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados… Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte… Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus… Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem [cobrança de juros extorsivos sobre empréstimos]… Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão na debulhadora, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão no suor do seu rosto… Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade… Portanto, fora com eles… Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus."

Num primeiro momento pode parecer que foi Adolf Hitler. Todavia não foi o líder nazista que assim se expressou. Talvez Hitler tenha dito coisas ainda piores. Por mais absurdo que possa parecer, o autor das palavras acima foi Martinho Lutero, o grande reformador do cristianismo. O homem que teve a revelação de Deus para promover a Reforma Protestante não teve a revelação de Deus para compreender ou aceitar a condição dos judeus como seres superiores aos demais povos – tal como os veem os evangélicos (sic).

O caso de Lutero é citado apenas para mostrar que às vezes pessoas bem intencionadas e até sinceras em sua fé são capazes de coisas absurdas, quando se deixam levar pelo fundamentalismo religioso ou pelo fanatismo, ou por interpretações literais dos seus livros sagrados, chegando inclusive a matar. Em qualquer religião é assim.

Não são só os muçulmanos, não. Qualquer fundamentalista fanático mata em nome de Deus. Os muçulmanos estão fazendo hoje o que os cristãos e os judeus fizeram no passado.

Quando um muçulmano coloca explosivos em um cinto e se autoexplode, levando consigo muitas pessoas, ele o faz achando que está fazendo a vontade de Alá, seu Deus.

As Cruzadas eram movimentos militares de inspiração cristã que tinham como objetivo libertar a Palestina e Jerusalém do domínio muçulmano entre os séculos XI e XIII.

Eram dois grupos religiosos, cristãos e muçulmanos, que se matavam cruelmente, ambos julgando-se certos e a serviço de Deus. Eis aí o grande problema. Os dois grupos matavam-se achando, ambos, que estavam fazendo a vontade de Deus. Isso é o que mais me incomoda.

A Inquisição católica matou muita gente achando que estava fazendo a vontade de Deus ao livrar o mundo das heresias.

Vou citar outro exemplo mais próximo, não tão grave quanto os citados acima. Quem conviveu comigo na Igreja deve se lembrar que na nossa adolescência e juventude jogar bola ou ir ao cinema era pecado. Ter uma TV em casa também era pecado. Ir à praia era pecado. Passear numa praça era pecado. Por quê? Porque os nossos líderes interpretavam assim os ensinamentos da Bíblia. Eram pessoas bem intencionadas, porém fundamentalistas e, em alguns casos, fanáticas. E esse fanatismo em um grau elevado pode levar ao cúmulo da intolerância, isto é, matar os discordantes ou “hereges”.

O fanático perde totalmente a capacidade de perceber quão imoral é a sua atitude.

O fundamentalista fanático pensa mais ou menos assim: “Eu estou do lado de Deus. Deus está comigo. Deus me ordenou matar o infiel. A sua santa palavra me diz: Não retenhas a tua espada contra os infiéis. Aquele ali é um infiel. Então eu vou matá-lo porque assim eu estou fazendo a vontade do meu Deus.”

Eis o grande perigo de qualquer religião fundamentalista. Pretender converter os “infiéis” pela força, podendo chegar ao extremo de matá-los, caso estes não se submetam aos ditames da sua religião. Infelizmente, existem vários exemplos desse tipo na história da humanidade. 

domingo, 6 de agosto de 2017

Um dia a vítima pode ser você

Por Saulo Alves de Oliveira

Há dias eu vi uma cena que me chocou. Policiais atiraram em dois rapazes -  criminosos, não se pode negar -, caídos no chão, matando-os.

Uma coisa é o policial matar um bandido ou criminoso em um confronto, quando sua vida e a dos seus iguais estão em perigo. O bom policial tem todo o meu apoio. Outra coisa bem diferente é esse mesmo policial matar friamente alguém ferido, caído no chão, que não oferece nenhuma resistência, ainda que seja um bandido. Isso é a decadência moral da civilização, que, ao invés de avançar, regride. Não cabe ao policial fazer “justiça” com as próprias mãos.

O policial que age assim está no mesmo nível moral daquele que ele acaba de eliminar. Eu acrescentaria: na realidade tal policial está em um patamar moral abaixo do bandido, pois ele é um agente do Estado e da lei e a ele cabe cumprir rigorosamente a lei.

O policial que mata um bandido desarmado, dominado e deitado no chão é um bandido policial, ou melhor, é um bandido pior do que o bandido morto. A diferença entre este e aquele é que aquele faz o mal usando a própria roupa e as armas que recebe do Estado para combater o mal.

O Estado que não impede que isso aconteça ou pelo menos não pune o bandido policial é um Estado bandido.

Lamentavelmente, ainda há alguns "filhos" de Deus, que se autodenominam cidadãos dos céus, povo especial, cheios do amor de Cristo (sic) que louvam e vibram com a atitude de bandidos policiais. Isso é a demonstração de algo que eu venho observando há algum tempo: ter uma religião, qualquer que seja ela, não é condição “sine qua non” para ter um caráter moral elevado.

Imagine seu parente ou você mesmo, isto é, você que louva a atitude dos maus policiais, ser abordado por um bandido policial que lhe tem, por engano, como suspeito, de preferência longe da vista de outras pessoas!

O policial que é capaz de matar um bandido caído no chão, rendido, também é capaz de tratar você, dependendo das circunstâncias, com violência e sem o menor respeito ou, quem sabe, chegar ao clímax da violência contra um ser humano.

O policial que age dessa forma se achará no direito - dependendo do julgamento pessoal que ele fizer de uma determinada situação - de fazer o mesmo com qualquer cidadão do bem.    

Portanto, pense bem antes de elogiar um mau policial, isto é, aquele que extrapola criminosamente os limites das suas funções. Um dia a vítima pode ser você.