A propósito dos últimos
acontecimentos envolvendo os palestinos e Israel, esta é a minha opinião. É
evidente que minha opinião só tem sentido em um contexto cristão, especialmente
evangélico, pois os não cristãos não levam em consideração o que a Bíblia diz a
respeito dos judeus.
Não amaldiçoo Israel. Apenas não
o apoio de forma incondicional, aliás, ninguém, ninguém mesmo tem o meu
incondicional e absoluto apoio, inclusive Israel. E isto independe do que a
Bíblia diz a respeito.
Se alguém sugerir que estudando ou
conhecendo mais a Bíblia eu vou concordar com a ideia de que se deve orar e
desejar paz apenas para Israel, ou concordar incondicionalmente com Israel, ou
ainda que vou passar a entender que tudo que os israelenses fazem é correto e
justo, devo dizer que isso jamais acontecerá, qualquer que seja a interpretação
da Bíblia que ratifique esse entendimento.
Observe, nem para todos os
israelenses isso é unanimidade. Há algum tempo um jovem de 19 anos preferiu ser
preso a ter que, servindo ao exército do seu país, assassinar palestinos. Leia aqui a entrevista de um israelense, reservista do exército, que, para não
colaborar com os massacres de Gaza, resolveu fugir para a Holanda e assim se
dispõe a anos de prisão.
Até Moisés, o grande legislador
judeu, que viveu há milhares de anos, teve atitudes que questiono e julgo
verdadeiras barbáries. Vou dar apenas um exemplo. Leia Nm. 31.1-24 e você verá
uma das histórias mais terríveis que já li. Um massacre cruel e covarde
cometido pelos israelitas sob o comando de Moisés.
Não há, não houve e jamais haverá
como justificar o assassinato de seres humanos indefesos, desarmados e, em
especial, inocentes. Ainda que alguém se julgue incumbido dessa tarefa por Deus.
E foi exatamente isso o que Moisés ordenou.
Hoje, sob o ponto vista da moral,
tais procedimentos são injustificáveis. Hoje, se vivo fosse, certamente Moisés
seria julgado por crimes contra a humanidade.
Veja o que disse o Sr. William
Lane Craig, um dos grandes defensores da fé cristã da atualidade, ao justificar
o extermínio dos cananitas: “Então o que Deus faz de errado ao comandar a
destruição dos cananitas? Não os cananitas adultos, porque eles eram corruptos
e mereciam o julgamento. Não as crianças, porque eles herdaram a vida eterna.
Então quem é o transgressor? Ironicamente, eu penso que a maior dificuldade de
todo este debate é o aparente erro que os soldados israelenses fizeram a si
mesmos. Você pode imaginar que seria como ter que invadir uma casa e matar uma
mulher aterrorizada e seus filhos? O efeito brutal nestes soldados israelenses
são perturbadores.”
Irônica é a opinião do Sr. Craig.
Que vergonhosa, cínica e repugnante inversão de valores! Os agressores
assassinos é que são as vítimas desse empreendimento que envergonha e empobrece
a história da humanidade.
Será que os israelitas de hoje ainda
vivem no tempo do “olho por olho, dente por dente”? Me parece que sim. Talvez
se inspirem em Moisés, que trucidou – ou mandou trucidar – cruel e covardemente
milhares de seres humanos.
Há ainda outro aspecto a
considerar. A Bíblia pode ser usada para resolver conflitos entre cristãos. Ainda
assim tenho sérias dúvidas acerca dessa proposição, pois nem mesmo os cristãos
se entendem quanto a sua interpretação.
Veja como isto é perturbador.
Lutero, aquele famoso monge católico que no século 16 teve a revelação de Deus
para interpretar a Bíblia e revoltar-se contra certas práticas da Igreja
Católica, não teve a mesma iluminação de Deus para aceitar os judeus como o
povo eleito, pois ele “...chegou a pedir que ateassem fogo às sinagogas e
escolas judaicas, além de afirmar que os judeus deveriam ter as casas destruídas,
assim como os bens e livros religiosos apreendidos”.
Martinho Lutero foi “um exemplo
assustador do cristianismo antijudaico”.
A que ponto chegou a intolerância
religiosa de um ícone do protestantismo, reverenciado hoje por muitos como o
grande reformador do cristianismo! Atitude extremista que repudio veementemente.
Da mesma forma que repudio as atitudes de Moisés e de Benjamin Netanyahu.
A Bíblia é aceita como “O Livro”
apenas pelos cristãos, e ainda assim nem mesmo todos os cristãos têm o mesmo
entendimento quanto ao que ela ensina. Se não fosse assim não existiriam tantas
Igrejas e doutrinas diferentes e, o que é pior, tão divergentes. Nem mesmo os
próprios judeus a aceitam em sua totalidade como A Palavra de Deus e nem sequer
acreditam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E nisto residia a atitude bárbara
e condenável de Martinho Lutero em relação aos judeus.
A Bíblia não pode ser usada para resolver todos os problemas do mundo, pois ela não é unanimidade como Palavra de Deus. A maior parte dos povos do mundo tem outros livros sagrados como seus orientadores morais e religiosos. Pretender impor à força a Bíblia ao mundo é algo que ultrapassa as raias da loucura.
Como se pode convencer um
muçulmano, um budista, um hindu, um ateu... que Israel é o povo eleito se eles
não têm a Bíblia como A Palavra de Deus? É tarefa impossível.
Apenas cerca de 1/3 da população mundial é formado por cristãos, com todas as suas diferenças, muitas vezes irreconciliáveis. Então, vamos impor aos outros povos que Israel é a nação eleita, porque a Bíblia assim o afirma?
Apenas cerca de 1/3 da população mundial é formado por cristãos, com todas as suas diferenças, muitas vezes irreconciliáveis. Então, vamos impor aos outros povos que Israel é a nação eleita, porque a Bíblia assim o afirma?
Para 2/3 do mundo Israel é apenas
mais um povo que habita este planeta e deve se submeter às regras e leis dos
organismos internacionais como todos os outros povos, independentemente do que
a Bíblia diz a seu respeito. E isso me parece o racional.
Há ensinamentos bíblicos que são universais e podem e devem ser ensinados a todos os povos, como é o caso do amor ao próximo. Quanto à eleição de Israel e sua imposição ao mundo como povo especial, é simplesmente impraticável.
A propósito, se judeus e palestinos se amassem não haveria guerra entre os dois povos.
Os crimes e o terrorismo do Hamas
não justificam os crimes hediondos de Israel.
O mais impressionante e irônico
em toda essa história, quer me parecer, é que os cristãos, em nome da defesa incondicional
de Israel, se esquecem dos ensinamentos daquele a quem os judeus nunca aceitaram
como O Messias.
Portanto, e para concluir, quero
deixar clara minha opinião. É muito simples. Se Israel é injustiçado e sofre
agressões eu estou do lado de Israel. Se Israel comete injustiças e faz
agressões, inclusive contra o povo palestino, eu fico do lado oposto a
Israel.