Para mudar o país, não precisamos criminalizar a atividade política – base da Democracia –, como muitos estão fazendo. Precisamos mudar os políticos, e isso se faz pelo voto.
Criminalizar a atividade política
é dar margem a que aventureiros, “salvadores da pátria”, se apresentem como
solução única para todos os problemas do país, e isso geralmente implica em
colapso das instituições democráticas, ou seja, é a saída preferida por aqueles
que flertam com regimes ditatoriais.
Somente essa conscientização
poderá mudar o quadro político e a estrutura social do Brasil. É com protestos
e reivindicações – sem arruaças e depredações – que o nosso país poderá mudar
as condições sociais do povo brasileiro, mas, sobretudo, com conscientização
política, que é votar com dignidade e não em troca de emprego ou porque fulano
é meu irmão de fé.
Os políticos que estão aí fomos eu
e você que escolhemos.
Aquele vereador que votou pelo
aumento do seu já bom salário, foi você quem o escolheu.
O deputado que só vota favorável
aos interesses do empresário que doou dinheiro para sua campanha, e não tem
compromisso com as causas populares, foi você quem o elegeu.
Aquele prefeito que enriqueceu
ilicitamente e depois se elegeu senador, foi conduzido ao parlamento pelo seu
voto.
O governador que desviou recursos
da educação e da saúde foi você quem o reelegeu.
Aquele vereador para quem você
fez campanha, e ajudou a eleger só porque era membro do seu grupo religioso, ou
porque prometeu arranjar emprego para seu irmão, e hoje está envolvido em
escândalos, é responsabilidade sua.
Portanto, nós também somos
culpados se a política não vai bem em nosso país.
Se não cumprimos nossas
obrigações como cidadãos, também somos tão culpados quanto os maus políticos
que ajudamos a eleger. Falta de conscientização não se restringe simplesmente a
votar mal.
Conscientização política também é
não estacionar na vaga destinada a deficiente físico ou idoso. É não jogar
aquela latinha de refrigerante na estrada. É não estacionar em lugares
proibidos. É cumprir as leis de trânsito. E se, por acaso, for multado
justamente, é não subornar o guarda para conseguir facilidades, é pagar o que a
lei lhe impõe.
Conscientização política é
devolver o troco recebido a mais. É respeitar a fila no supermercado ou em qualquer
outro lugar. É não querer levar vantagem em tudo a qualquer preço.
Vamos, pois, começar mudando a
nós mesmos para depois mudarmos a classe política em nosso país.
Está difícil mudar pelo voto?
Sim, é verdade, mas há quanto tempo nós o estamos exercitando? Há menos de
trinta anos. Com certeza vivemos um aprendizado pelo qual temos de passar, isto
é, de erros e acertos, até chegarmos a um estágio mais avançado de
conscientização.
É o preço que temos de pagar para
não termos usurpado o nosso direito de escolher livremente os governantes que
queremos.
Eu não aceito que ninguém me diga
em quem devo votar, para o bem ou para o mal. Digo para o mal, pois também
posso me equivocar. Tenho idade e consciência suficientes para não ser tutelado
por ninguém.
Só há duas saídas: o voto ou a
ditadura. Quanto a esta, eu digo: livre-nos Deus. A Democracia é um regime
imperfeito, cheio de falhas, mas ainda não inventaram nada melhor para colocar
em seu lugar. Numa ditadura, talvez nem essas ideias eu pudesse estar elaborando
publicamente.
Possivelmente a essa altura das
manifestações, os militares já estivessem nas ruas para reprimi-las. Com
certeza as críticas que são feitas ao governo, no próprio Facebook, ou em outro
qualquer meio de comunicação, às vezes de forma deselegante e com inverdades,
não seriam toleradas.
E para os que flertam com a
ditadura, eu faço o seguinte desafio: deem-me um exemplo, um sequer, de uma
grande nação, onde o povo tem boas condições de vida, no que diz respeito a
educação, saúde, transporte, segurança ou outros indicadores sociais, na qual os
cidadãos não têm o direito de escolher seus próprios governantes.
Saulo Alves de Oliveira
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