Há alguns dias eu publiquei no
Facebook um questionamento acerca de Israel. Eu fiz a seguinte pergunta: “Por que alguns evangélicos fazem questão de dizer que amam e
oram por Israel e não fazem o mesmo pela Palestina, isto é, pelo povo
palestino?”
Uma colega fez um comentário – educado, ressalte-se – com o objetivo de esclarecer o meu questionamento.
Em seguida, eu fiz uma réplica
contra-argumentando, também de modo respeitoso, obviamente.
Então, a mesma colega fez a
seguinte tréplica:
“Acreditar na palavra [de Deus] é
uma questão de liberdade, coisa prioritária para cada pessoa. Aceitá-la é uma
questão de fé. Criar situações para discussões que não edificam demonstra
imaturidade cristã ou a perda da fé genuína. Coisa que nem um pouco atrai minha
atenção. Portanto, cada um faça o que quiser da sua vida espiritual, sabendo eu
que serei cobrada por tudo que digo, que faço, que falo ou escrevo. Não há como
discutir, mesmo no bom sentido, quando os interesses e os fundamentos são
diferentes.”
Na realidade, eu não criei uma
situação para discussões. Não era esse meu propósito. Apenas externei um
pensamento, o que é possibilitado e incentivado pelo Facebook. Alguns amigos
deram suas opiniões, o que é e sempre será bem-vindo, mesmo discordando do
que eu penso.
Se gerou uma discussão, ótimo.
Qualquer discussão sem agressão pessoal e com respeito ao pensamento do outro,
qualquer que seja o assunto, inclusive temas bíblicos, é saudável. Antes de ser
imaturidade cristã, trata-se de maturidade intelectual e grandeza de espírito.
Quando os interesses e os
fundamentos são iguais, aí sim é que não há como discutir. Se todos pensam da
mesma forma, vai-se discutir o quê? Se eu digo que “pedra” é “pedra” e o meu
interlocutor prontamente concorda, não há possibilidade nem necessidade de discussão.
Qualquer tema ou assunto em que
não há consenso é passível de discussão ou de questionamento, inclusive a
Bíblia. Se não fosse assim não haveria tantas igrejas com doutrinas tão
divergentes todas com base na Bíblia.
E por que não questionar a Bíblia?
Parece-me que há pelo menos dois
motivos para isto:
1. Primeiro, o medo de ser
castigado por Deus por estar questionando sua Palavra.
Esta
forma de pensar me parece própria de quem tem receio de questionar certos
aspectos relacionados a Deus ou à Bíblia, porquanto tem medo de estar agredindo
a sensibilidade ou a soberania do Criador, sendo, por conseguinte, passível de castigo.
Eu
sei, não poucas pessoas pensam assim. E até compreendo quem ainda não ultrapassou
este estágio espiritual e intelectual. Simplesmente não é nada fácil.
Experiência própria. Foi necessário vencer anos e anos de doutrinação. Foram necessários muitos e
muitos anos de observações, questionamentos e aprendizado.
Entretanto,
pergunto: que Deus é este que não pode ser questionado racionalmente por mim ou
por você, seres racionais?
Seria
Deus um tirano ranzinza, atacado pela raiva, cheio de rancor e vingativo que
não suporta ouvir questionamentos das suas criaturas sem castigá-las de
imediato?
Eu também
já pensei assim. Felizmente há muito tempo me livrei dessa concepção deturpada
acerca de Deus.
2. Em
segundo lugar, parece que há o medo de descobrir coisas que contrariam aquilo
que aprendemos, ou seja, medo de descobrir verdades que contrariam certas
“verdades” que foram incutidas nas nossas mentes desde criança.
Às
vezes isso significa sentir-se só, sem ter a quem recorrer, sem uma tábua de
salvação no sobe e desce das ondas do revolto mar da vida, com aquela assustadora sensação
de falta de chão sob os pés, sabendo que nós somos os únicos responsáveis pelas
escolhas que temos a fazer.
Eu também
sei que não é nada fácil, dá medo mesmo, pois já passei por isso. E ainda
passo, pra ser sincero. Mas felizmente as enfrentei e as enfrento ainda – “as
verdades” – e hoje não tenho receio de ouvir quaisquer questionamentos
referentes aos temas Bíblia, fé ou Deus, nem preconceito algum contra quem os
faz, até mesmo colocando-me a mim próprio no lugar do promotor. Porém, respeito
quem não se sente à vontade para fazê-lo.
Na
realidade, é preciso despir-se de certas armaduras que nos foram impostas,
especialmente quando crianças, que tolhem nossa liberdade de pensamento. “Dá
medo só em pensar que certas coisas não são exatamente como nos ensinaram.
Portanto, é melhor nem pensar”.
Lembro-me
que ao fazer certos questionamentos, minha mãe sempre dizia: “Cuidado, meu
filho, esse tipo de pergunta pode levá-lo a perder a fé”.
E eu
sempre respondia: “Prefiro correr esse risco a não saber a Verdade”.
É
preciso ter a mente aberta e não reduzir nossa fonte de conhecimentos à Bíblia.
É
preciso não nos fecharmos para o mundo e observarmos o que acontece à nossa
volta.
É
preciso observar o que acontece dentro de nós mesmos, isto é, nossas próprias
experiências, e não ter medo de tirar lições e nossas próprias conclusões.
Saulo
Alves de Oliveira
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