Durante muitos anos, rigorosamente todos os domingos, eu frequentei a Escola Dominical e as Reuniões da Mocidade da Igreja. Naquelas ocasiões, era muito comum alguém ensinar que se deve oferecer a outra face, isto é, “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda”. Para mim, não é nada fácil cumprir tal mandamento.
Também li muitas vezes na Bíblia que “Bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” ou “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. Mas, que interessante! Parece que essas máximas não têm mais nenhum sentido nos dias de hoje, não é mesmo? Sua aplicação prática limitou-se à época de um certo cidadão que andou pelas terras da Palestina há cerca de 2.000 anos e, mesmo na cruz, perdoou os seus algozes. Ou estou enganado?
Mesmo relutante, estou no limiar entre não aceitar essa conclusão e aceitá-la definitivamente, pois as circunstâncias atuais no Brasil assim o determinam. Realmente, confesso, é muito difícil dar a outra face ou abençoar e não amaldiçoar. E, no meu caso, acho que estou muito aquém, mas muito aquém mesmo do andarilho da Palestina.
Para quem passou grande parte da sua vida ouvindo dos seus líderes religiosos certos ensinamentos, tais como “amar ao próximo como a si mesmo” e “dar a outra face” – não que eu me considere um exemplo a ser seguido quanto a esses dois preceitos; na realidade não me considero exemplo para ninguém –, ver grande parte das igrejas evangélicas e seus líderes apoiarem em peso alguém que prega “Espero que saia; infartada, com câncer, de qualquer jeito”, “Nós não devíamos só torturar. Devíamos torturar e matar" ou “O cara tem que ser arrebentado para abrir a boca", é profundamente decepcionante e me faz repensar muita coisa, além do que já venho fazendo há muitos anos. Acho que o momento atual só reforça ainda mais minhas constatações. Chocantes, mas libertadoras.
Aliás, não se trata mais de decepção. Já passei da fase das ilusões. Depois de tantos exemplos negativos, já não alimento mais as boas expectativas. É claro que há saudáveis exceções. Caso os bons exemplos se confirmem, os aplaudirei com satisfação. Caso contrário, os verei como símbolos da degradação humana. Portanto, observo os maus exemplos, não poucos, apenas com um misto de tristeza e indignação, sabendo, porém, que essa é a realidade e que eu não posso mudá-la.
Líderes que um dia admirei e respeitei – eu diria que de certa forma até os segui –, pois me ensinaram coisas que ainda hoje observo, visto que são essenciais para a vida. Todavia, suas posturas atuais reduziram suas estaturas a um nível de pequenez tal que hoje apenas os respeito, como seres humanos, da mesma forma que me sinto compelido a respeitar quaisquer dos meus semelhantes que dividem comigo este planeta.
No entanto parece que o que vemos hoje não é algo inédito. Segundo o pastor Hermes Fernandes situação semelhante já aconteceu – não exatamente igual, mas em proporções bem maiores, pelo menos por enquanto – na Alemanha nos anos 30.
Lamentavelmente, como disse o pastor Hermes Fernandes, cujo texto completo você pode ler aqui: “Não é a primeira vez que líderes evangélicos apoiam o fascismo. Dentre os 17 mil pastores evangélicos que havia na Alemanha, nem 1% se negou a apoiar o regime nazista. Protestantes ouviram seus líderes insistindo que cooperassem com Hitler”.
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