Eu ouvi o
relato abaixo de um jovem advogado brasileiro que mora na Europa. Brilhante e
muito inteligente, ele tem um canal no Facebook
e um site nos quais faz comentários
políticos e discussões com diversos especialistas sobre política nacional,
economia, geopolítica, etc. Eu já o acompanho há mais de dois anos.
A um tempo
atrás ele contou uma história interessante, porém, sob o ponto de vista daqueles
que sonham e almejam um país livre da velha prática politiqueira do “toma-lá-dá-cá”,
muito preocupante, sobretudo pela ex-estrela envolvida.
Certo dia ele
manteve contato telefônico com uma figura que já tivera grande destaque na
política nacional, tendo ocupado alguns dos mais altos cargos da República. Devido
a alguns percalços, hoje essa pessoa está meio apagada no cenário político
nacional, mas parece que por trás dos bastidores continua muito ativa e
influente. Para facilitar o desenrolar deste comentário vou chamá-la de Seu Dir
e o advogado de Roayam.
Quando o
jovem advogado atendeu o telefone, Seu Dir exclamou: “Ah, você é o Roayam? Eu queria
muito conhecê-lo. Sabe o que eu estou fazendo neste momento? Estou tomando uma
cachaça de cinco mil dólares.” Do restante da conversa, não me lembro e, para o
objetivo desse pequeno texto, é de pouca importância.
Tão fora de
propósito e estranha parecia a apresentação do Seu Dir – aparentemente, é claro
– que Roayam ficou sem entender aquele início de conversa, dado que não é um
apreciador dessa bebida tipicamente brasileira – a cachaça –, nem de um real e
muito menos de cinco mil dólares (sic).
No entanto o
que mais impactou Roayam foi o fato do Seu Dir dar-se o luxo de ostentar, desavergonhadamente, uma prática tão
supérflua, brindando a si próprio com uma bebida tão cara e, o pior,
incompatível com sua suposta vida de lutas, pelo menos no passado, para
transformar as brutais desigualdades sociais do sofrido e injustiçado povo
brasileiro. Bom, essa sempre foi a proposta do seu partido político. Convém
ressaltar que eu sempre acreditei.
Tempos
depois, Roayam conversou com alguém, se não me engano ligado ao partido do Seu
Dir, e ouviu a seguinte observação: “Deixe de ser ingênuo Roayam, não existe
cachaça de cinco mil dólares. A cachaça mais cara custa cerca de dois mil
reais. Esse tipo de abordagem é uma espécie de código para tentar descobrir
qual é o preço do interlocutor. Pessoas de quase todos os partidos fazem uso
dessa prática”.
Seria uma
forma inteligente (sic) de tentar cooptá-lo sem ser muito explícito ou tão
agressivo?! Talvez! Seria mais ou menos como perguntar: “Seu preço é cinco mil
dólares para vir para o nosso lado?” Foi o que deixou claro o segundo
interlocutor do Roayam.
Na
realidade, disse Roayam, “Eu não sei se ele estava simplesmente esnobando, o
que é incompatível com alguém que se propõe a mudar a realidade social do
Brasil ou se realmente estava me ‘cantando’, isto é, me oferecendo uma propina
(?) para compactuar com sua forma de fazer política e deixar de dizer algumas
verdades inconvenientes no contexto político/histórico que vive hoje o Brasil”.
Os diálogos
ou comentários acima não são transcrições literais do que ouvi, porém
representam exatamente o sentido do que relatou Roayam. A cachaça de cinco mil
dólares, todavia, é literal.
O mais
triste nisso tudo, e profundamente decepcionante, até mesmo desanimador, é que
o Seu Dir é um importante quadro, talvez dos mais importantes, por acaso do mais
influente partido da esquerda nacional.
Ponho-me a
pensar.
Convido-o a
fazer o mesmo.
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