Por Saulo Alves de Oliveira
1º Ato
Abrem-se as
cortinas:
Uma enorme
sala de jantar de uma mansão. Só para os muito ricos. No centro, uma imponente
mesa. Quatro suntuosas cadeiras a ladeiam. Dois empregados em pé ao lado,
fardas impecáveis, aguardam os patrões.
A mesa,
repleta de todas as iguarias matinais, convida a plateia a um dos pecados
capitais.
Diversas
frutas, nobres e de estação.
Sucos.
Queijos
locais? Não. Três ou quatro importados. Dos mais finos.
Pães
especiais. Também tem o tradicional pãozinho francês. Estamos no Brasil.
Bolos? Também. Feitos em casa pelo Chef.
Jamón (presunto) ibérico dos porcos de Jabugo,
Espanha.
Geleias.
E os
tradicionais café, ovos, leite e manteiga.
O Chef entra
na sala, inspeciona tudo pela última vez e sai.
Minutos
depois chegam os quatro residentes, pai, mãe e dois filhos (10 e 15 anos).
Sentam-se à
mesa, todavia, antes de saborearem as iguarias, o pai, com pompa e reverência,
pergunta: “O que devemos fazer agora?”
Respondem os
filhos em uníssono: “Agradecer a Deus, nosso bondoso provedor”.
Todos fecham
os olhos e curvam as cabeças.
Então, o pai,
com toda a reverência, faz a oração de praxe: ”Pai Nosso que estás no Céu, Te
agradecemos pelo pão nosso de cada dia, pois Tu és o Nosso Pastor e nada nos
faltará. Amém."
E todos
repetem: “Amém”.
Aproximam-se
os dois empregados e começam a servi-los e os quatro, como se fossem nobres de
uma monarquia europeia, tomam o seu café da manhã regalados e agradecidos a
Deus.
Fim do 1º
Ato.
Fecham-se as
cortinas.
2º Ato
Abrem-se as
cortinas:
Pequena
cozinha de um casebre.
Mesa nua e
seis pequenos bancos ao redor.
Sobre a mesa
um pouco de manteiga (não é todo dia; quando tem, os olhinhos dos pequenos
brilham), um cesto com seis pães e seis xícaras.
A mulher,
junto ao fogão de duas bocas, pega o bule de café e num só movimento o põe
sobre a mesa, em seguida exclama: “Podem vir, o café está na mesa”.
Chegam o
marido e os quatro filhos (4, 5, 10 e 15 anos; ocorreram três abortos e duas
mortes prematuras).
Todos
sentam-se à mesa e um dos filhos, o mais novo, estende a mão para pegar o “seu
pão”. A mãe o repreende e diz: “Ainda não”.
O pai, com
semblante de quem já muito sofreu, porém educadamente, pergunta: “O que devemos
fazer agora?”
Respondem os
filhos em uníssono: “Agradecer a Deus, nosso bondoso provedor”.
Todos fecham
os olhos e curvam as cabeças.
Então, o pai,
de modo simples mas com reverência, faz a oração de praxe: ”Pai Nosso que estás
no Céu, Te agradecemos pelo pão nosso de cada dia, pois Tu és o Nosso Pastor e
nada nos faltará. Amém”.
E todos
repetem: “Amém”.
A mãe
distribui o pão com, desta vez, a sempre desejada manteiga e uma xícara de café
para cada um, e todos os seis tomam o seu café da manhã agradecidos a Deus.
Fim do 2º
Ato.
Fecham-se as
cortinas.
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