É incrível, e até chocante, a diferença entre
os discursos da direita e da esquerda em relação a determinados episódios da
vida nacional. Exemplo claro: o assassinato da vereadora Marielle Franco.
A esquerda apresenta um viés humanista pela
perda de um ser humano executado brutalmente e às claras em pleno centro da
cidade. Já a direita procura relativizar ao fazer comparações totalmente
descabidas e ainda tenta desqualificar covardemente o morto.
O que me choca mais são os comentários dos
cristãos de direita que, pelo menos teoricamente, assim penso, deveriam ser os
mais sensibilizados pelo brutal assassinato de Marielle, posto que se
autoproclamam filhos e servos de alguém que disse assim “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”. E o que me entristece ainda mais é que eu sou oriundo desse
meio, onde convivi ativamente por mais de 40 anos, e, ao longo desse tempo, acho que não tive a necessária
percepção desse aspecto de parte importante da comunidade cristã evangélica. Na
realidade, eu acho que confiei além do razoável em determinados líderes.
Felizmente, ou infelizmente, dependendo da
visão de cada um, a cada dia que se passa eu faço descobertas que me conduzem
por uma outra estrada totalmente diferente da que se me descortinava há,
talvez, 20 ou mais anos.
É evidente, e eu não sei porque é tão difícil
entender isso, que não têm o mesmo significado a morte de Marielle e a morte de
qualquer pessoa em um assalto ou mesmo de um policial em confronto com
bandidos.
É claro que são perdas inaceitáveis de vidas
humanas. Do ponto de vista dos familiares e amigos, e de qualquer ser realmente
humano, tais perdas provocam a mesma dor, tristeza e revolta. Todavia os significados
dessas mortes são totalmente diferentes. Uma coisa é a morte de uma pessoa por
ocasião de um assalto ou de um policial em um confronto com bandidos. Outra
coisa bem diferente é a morte por encomenda de um agente público em uma emboscada.
Imaginem um juiz que trava uma luta contra grupos
mafiosos e é executado por pistoleiros pagos para isso.
Agora imaginem a morte de um juiz em um assalto
ou numa briga de trânsito.
São situações totalmente diferentes com significados
díspares.
Os dois casos representam a morte de dois seres
humanos, o que mostra claramente o grau de degradação moral em que vive a nossa
civilização, todavia o primeiro caso representa uma afronta direta ao estado
democrático de direito e transmite a todos nós a seguinte mensagem: se um juiz,
uma autoridade do estado, não tem segurança para fazer o seu trabalho, você e
eu, cidadãos comuns, estamos irremediavelmente perdidos, pois o estado está
falido.
O meu entendimento é de tal ordem que eu sempre
defendi que devam ser fortemente agravadas as penas dos mandantes e dos
executores de crimes de assassinatos de juízes, promotores ou policiais que
investigam grupos criminosos.
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