Por Saulo Alves de Oliveira
Há alguns dias, assistindo a um
programa sobre religiões, eu ouvi a seguinte frase: “Religiosos, por sua fé,
matam outras pessoas porque, dizem eles, essa é a vontade de Deus”.
A propósito desse tema, você sabe quem
disse as palavras abaixo?
"Em primeiro lugar, suas
sinagogas deveriam ser queimadas… Em segundo lugar, suas casas também deveriam
ser demolidas e arrasadas… Em terceiro, seus livros de oração e Talmudes
deveriam ser confiscados… Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de
ensinar, sob pena de morte… Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de
viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus… Em sexto, eles deveriam
ser proibidos de praticar a agiotagem [cobrança de juros extorsivos sobre
empréstimos]… Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr
a mão na debulhadora, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para
ganhar o seu pão no suor do seu rosto… Deveríamos banir os vis preguiçosos de
nossa sociedade… Portanto, fora com eles… Resumindo, caros príncipes e nobres
que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai
solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável
carga infernal – os judeus."
Num primeiro momento pode parecer que
foi Adolf Hitler. Todavia não foi o líder nazista que assim se expressou. Talvez
Hitler tenha dito coisas ainda piores. Por mais absurdo que possa parecer, o
autor das palavras acima foi Martinho Lutero, o grande reformador do
cristianismo. O homem que teve a revelação de Deus para promover a Reforma
Protestante não teve a revelação de Deus para compreender ou aceitar a condição
dos judeus como seres superiores aos demais povos – tal como os veem os
evangélicos (sic).
O caso de Lutero é citado apenas para
mostrar que às vezes pessoas bem intencionadas e até sinceras em sua fé são
capazes de coisas absurdas, quando se deixam levar pelo fundamentalismo
religioso ou pelo fanatismo, ou por interpretações literais dos seus livros
sagrados, chegando inclusive a matar. Em qualquer religião é assim.
Não são só os muçulmanos, não.
Qualquer fundamentalista fanático mata em nome de Deus. Os muçulmanos estão
fazendo hoje o que os cristãos e os judeus fizeram no passado.
Quando um muçulmano coloca explosivos
em um cinto e se autoexplode, levando consigo muitas pessoas, ele o faz achando
que está fazendo a vontade de Alá, seu Deus.
As Cruzadas eram movimentos militares
de inspiração cristã que tinham como objetivo libertar a Palestina e Jerusalém
do domínio muçulmano entre os séculos XI e XIII.
Eram dois grupos religiosos, cristãos e muçulmanos, que se matavam cruelmente, ambos julgando-se certos e a serviço de Deus. Eis aí o grande problema. Os dois grupos matavam-se achando, ambos, que estavam fazendo a vontade de Deus. Isso é o que mais me incomoda.
Eram dois grupos religiosos, cristãos e muçulmanos, que se matavam cruelmente, ambos julgando-se certos e a serviço de Deus. Eis aí o grande problema. Os dois grupos matavam-se achando, ambos, que estavam fazendo a vontade de Deus. Isso é o que mais me incomoda.
A Inquisição católica matou muita
gente achando que estava fazendo a vontade de Deus ao livrar o mundo das
heresias.
Vou citar outro exemplo mais próximo,
não tão grave quanto os citados acima. Quem conviveu comigo na Igreja deve se
lembrar que na nossa adolescência e juventude jogar bola ou ir ao cinema era
pecado. Ter uma TV em casa também era pecado. Ir à praia era pecado. Passear
numa praça era pecado. Por quê? Porque os nossos líderes interpretavam assim os
ensinamentos da Bíblia. Eram pessoas bem intencionadas, porém fundamentalistas
e, em alguns casos, fanáticas. E esse fanatismo em um grau elevado pode levar ao
cúmulo da intolerância, isto é, matar os discordantes ou “hereges”.
O fanático perde totalmente a
capacidade de perceber quão imoral é a sua atitude.
O fundamentalista fanático pensa mais
ou menos assim: “Eu estou do lado de Deus. Deus está comigo. Deus me ordenou
matar o infiel. A sua santa palavra me diz: Não retenhas a tua espada contra os
infiéis. Aquele ali é um infiel. Então eu vou matá-lo porque assim eu estou
fazendo a vontade do meu Deus.”
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