Por Saulo Alves de
Oliveira
Às vezes eu me descubro pensando acerca de fatos muito
perturbadores relacionados à vida.
É evidente que eu não estou a todo momento refletindo sobre
uma situação específica. Entretanto, algumas circunstâncias vistas ou vividas assopram
as cinzas do meu cérebro e atiçam o fogo trazendo à memória determinado fato.
Imaginem a seguinte realidade do nosso mundo.
Todos os dias nascem centenas de milhares de crianças em
toda a Terra. Vou tomar duas dessas crianças, as quais denominarei Sofia e
Maria, que nasceram exatamente no mesmo dia.
Como todos nós, Sofia e Maria não tiveram a opção de dizer
se queriam ou não vir ao mundo, muito menos de escolher os pais ou a família
que queriam ter.
Sofia, não por sua culpa, nasceu em “berço de ouro”. Família
extremamente rica, capaz de lhe oferecer todas as comodidades do mundo moderno.
Conforto, boa alimentação, excelentes escolas, carros, mansão, roupas de grifes
famosas, viagens, diversos empregados à sua disposição... e por aí vai.
Sofia terá uma vida de luxos até o fim dos seus dias, às
vezes sem tomar o menor conhecimento do que é realmente a pobreza em todas as
suas facetas mais terríveis.
Maria, também sem culpa alguma, nasceu sem ao menos ter um
berço para ser deitada e protegida do frio. Família extremamente pobre, incapaz
de lhe oferecer o mínimo necessário para sua sobrevivência. Sem nenhum
conforto, alimentação precária de vez em quando, escola pública precária –
quando tem e quando os pais têm o mínimo de consciência da importância da
educação –, deslocamento a pé ou em ônibus superlotados, casebre na favela,
roupas?, só quando uma alma caridosa dá, viagens?, empregados?, nem sonhando...
e por aí vai.
Maria terá uma vida de miséria até o fim dos seus dias, sem
ter a menor chance de experimentar o que realmente a riqueza pode proporcionar
a uns poucos sortudos das castas mais altas dos agrupamentos humanos.
Duas vidas que não escolheram nascer, com histórias
totalmente antagônicas.
E daí vem a pergunta perturbadora que me incomoda há muito
tempo: por que, meu Deus?
Os espíritas vêm com a justificativa de que se paga nesta
vida por erros de vidas passadas, até se atingir, em outras supostas vidas, um
estágio espiritual elevado. Para mim, uma explicação que não convence, posto
que, se fosse assim, as pessoas pagariam por algo que nem sequer têm
consciência de que cometeram. O princípio do castigo que pode mudar alguém é
pagar pelo erro do qual tem consciência.
Os cristão apresentam a justificativa de que se paga nesta
vida por erros próprios ou dos primeiros pais, Adão e Eva. Também tenho muita
dificuldade de ser convencido por essa justificativa. Crianças não podem pagar
por erros que não cometeram, pois os pequeninos são inocentes. Além disso, ninguém,
seja criança ou adulto, deve pagar por erros que foram cometidos num passado remotíssimo,
há milhares de anos, por outras pessoas. O princípio do castigo que pode mudar
alguém é pagar pelo seu próprio erro e do qual tem consciência.
Portanto, para este – de certa forma – atrevido ser humano, que
está entre a pobreza extrema e a riqueza extrema, talvez mais próximo daquela
do que desta, permanece a pergunta: por que, meu Deus?
Talvez haja uma resposta definitiva para essa injustiça que
nada tem a ver com Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário